05 Julho 2025
Pôr ordem na Igreja deixada pelo Papa Francisco, preservando a sua continuidade, a partir da paz: essa não é apenas a tese analisada no último número de Limes, apresentado na outra noite na embaixada da Itália junto da Santa Sé, a convite do embaixador Francesco Di Nitto. Mas é também o quadro descrito pelo convidado de honra daquela noite, o vigário do Papa Leão XIV em Roma, o Cardeal Baldassarre Reina, que num discurso muito inspirado também traçou um paralelo sugestivo entre o atual pontífice e Paulo de Tarso. A noite, portanto, conduzida por Piero Schiavazzi, que é mais do que um vaticanista, tendo fundado o Club Limes Oltretevere, e enriquecida por Laura Canali, criadora dos icônicos mapas de Limes, ofereceu mais de uma chave de leitura para aquele "Rebus Leone" (Enigma Leão) que é o título da revista nas bancas.
A reportagem é de Salvatore Cannavò, publicada por il Fatto Quotidiano, 03-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Igreja é cada vez mais levada a ter um papel geopolítico no contexto da fragmentação de uma ordem internacional que não se assemelha nem mais remotamente àquela deixada pela Segunda Guerra Mundial. O Vaticano vai além de sua função histórica como um "sujeito capaz de mapear o mundo inteiro", como diz Andrea Riccardi na edição. A importância global do Papa Prevost, diz Reina, apresenta-se assim como um "dom da Providência". E aqui, o vigário do Papa traça uma relação significativa entre Paulo de Tarso e Leão XIV. Assim como Paulo, o autor da abertura “aos pagãos”, ponto forte da Igreja universal, podia desfrutar de muitos pontos fortes – “dialogar com os fariseus, dialogar com o mundo grego, conhecer as estradas do mundo como um comerciante, ser cidadão romano” –, Leão “reúne várias coordenadas úteis para a Igreja hoje”. “Ele tem origens europeias; é estadunidense e conhece aquela Igreja; tem uma visão de mundo, como Geral dos Agostinianos; foi missionário; fez parte da Cúria Romana”. Uma concentração de elementos que parece ao cardeal siciliano ser realmente um dom do Espírito.
A capacidade de “síntese, união e escuta” faz de Leão uma figura diferente de Bergoglio. De quem, no entanto, conserva uma sólida continuidade: rumo à evangelização, enfrentando o problema da crise da Igreja, continuando a reforma da Cúria Romana, escutando as “periferias” tão caras a Francisco. Que "ofereceu à Igreja um novo rosto e impulsionou a redescobrir a alegria do Evangelho. O Papa Leão XIII está bem ciente disso e o interpretará com seu estilo". E nessa direção – pode-se acrescentar – também vai o documento ecológico sobre a Cop30, em plena continuidade com a Laudato si' de Francisco.
Segundo Caracciolo, Francisco agiu sozinho para sacudir a árvore da Igreja "fazendo cair os frutos podres", Prevost hoje terá que "fazê-la produzir também frutos vivos". Por isso, no editorial de Limes, ele o define como “Leão, o pequeno” diante da necessidade de tornar a Igreja grande. E essa missão se dará sobretudo no plano geopolítico, “porque a Igreja é um sujeito geopolítico que nunca se subordina ao número um do momento”, os EUA. O governo Trump, especialmente com o vice J.D. Vance, “vê nas liturgias tradicionais, inclusive na missa em latim, algo que pode unir uma comunidade”. E, portanto, “quer usar a Igreja e o Papa para infundir de espírito todo o país”. Caracciolo o define como um “projeto neoconstantiniano” que Bergoglio já havia intuído, contrastando-o. O Papa Leão terá uma relação “muito laica” com seu país de origem, “mas não será o capelão de Trump”. E sua insistência pela paz está aí para prová-lo: “é uma coisa preciosa” que muitas vezes é descartada como uma referência obrigatória para a Igreja de Roma, mas que hoje representa uma luz indispensável. Caracciolo, "como romano", diz que se orgulha disso, e são muitos que compartilham este orgulho de paz.
"Il rebus di Papa Leone", livro de Robert Francis Prevost (Limes, 2025).