16 Agosto 2025
O novo relatório revela avanço da agropecuária, impactos climáticos e surgimento de novas fronteiras de desmatamento; o Pampa foi proporcionalmente o bioma que mais perdeu vegetação nativa.
A reportagem é de César Fraga, publicada por ExtraClasse, 13-08-2025.
Entre 1985 e 2024, o Brasil perdeu, em média, 2,9 milhões de hectares de áreas naturais por ano, totalizando 111,7 milhões de hectares — o equivalente a 13% do território nacional, área maior que a da Bolívia e 131 vezes o tamanho do estado do Rio Grande do Sul. No mesmo período, a proporção de municípios em que a agropecuária ocupa a maior parte do território subiu de 47% para 59%.
O Bioma Pampa, que corresponde a maior parte do RS, foi proporcionalmente o mais afetado em perda de vegetação nativa e o segundo menos preservado, perdendo apenas para o Bioma Mata Attântica. O Pampa perdeu 30% de sua vegetação nativa nas últimas quatro décadas, passando de 64% de cobertura natural em 1985 para 44,5% em 2024. Entre os motivos, o avanço das monoculturas, principalmente soja e arroz, além da silvicultura sobre as pastagens (vegetação nativa e predominante deste bioma). Veja matéria específica com o recorte estadual do estudo.
Os dados fazem parte da Coleção 10 de Mapas Anuais de Cobertura e Uso da Terra do MapBiomas, lançada em 13 de agosto, em Brasília, que marca os 10 anos da iniciativa. A nova edição, com 30 classes mapeadas, inclui pela primeira vez a categoria de usinas fotovoltaicas, cuja expansão ocorreu principalmente na Caatinga, que concentra 62% da área mapeada entre 2015 e 2024.
Segundo o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, até 1985 o Brasil havia convertido 60% da área hoje ocupada por agropecuária, mineração, cidades e infraestrutura. “Os 40% restantes dessa conversão ocorreram em apenas quatro décadas”, destacou.
A coordenadora científica do MapBiomas e pesquisadora do IPAM, Julia Shimbo, ressalta que o auge do desmatamento ocorreu entre 1995 e 2004, seguido por um período de menor perda líquida de florestas entre 2005 e 2014. “Essa tendência se inverteu na última década, marcada por degradação, impactos climáticos e avanço agrícola”, afirmou.
Foto: MapBiomas
O Brasil tinha 80% do território coberto por áreas naturais em 1985. Até 1994, áreas antrópicas (modificadas pelo homem) cresceram 36,5 milhões de hectares, impulsionadas pela expansão de pastagens. Nesse período, 30% dos municípios tiveram o maior crescimento urbano registrado.
A conversão de floresta para agropecuária atingiu 44,8 milhões de hectares. A expansão de pastagens sobre vegetação nativa chegou a 35,6 milhões de hectares e a agricultura ganhou 14,6 milhões de hectares. Na Amazônia, 21,1 milhões de hectares de vegetação foram convertidos, consolidando o “arco do desmatamento”.
O crescimento das áreas antrópicas foi o menor da série histórica: 17,6 milhões de hectares. A perda líquida de vegetação nativa foi de 17,1 milhões de hectares, com destaque para a Amazônia, onde houve a menor conversão florestal desde 1985. O Cerrado registrou 80% do desmatamento agrícola concentrado no MATOPIBA. Foi o período de maior expansão da agricultura temporária (+12,5 milhões de hectares) e da silvicultura (+2,5 milhões de hectares).
A mineração expandiu-se, com 58% da área atual surgindo neste período, sobretudo na Amazônia. O Pampa perdeu 1,3 milhão de hectares de campos nativos, e novas fronteiras de desmatamento surgiram na região conhecida como Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia). O Pantanal viveu a década mais seca da série, com ciclos de inundação cada vez menores.
Entre 1985 e 2024, a área de pastagem cresceu 62,7 milhões de hectares (+68%) e a agricultura avançou 44 milhões de hectares (+236%). Municípios com predomínio agrícola passaram de 420 para 1.037. Já a silvicultura aumentou 7,4 milhões de hectares (+472%), com mais da metade da área no bioma Mata Atlântica.
O mapeamento das usinas fotovoltaicas mostra crescimento a partir de 2016, de 822 hectares para 35,3 mil hectares em 2024. Minas Gerais concentra 37% dessa área, seguido por Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte. Quase metade das usinas ocupa áreas que antes eram formações savânicas.
O MapBiomas é uma rede que reúne universidades, ONGs e empresas de tecnologia para monitorar o uso e cobertura da terra no Brasil, visando à conservação e ao manejo sustentável dos recursos naturais. Todos os dados estão disponíveis de forma pública e gratuita no site mapbiomas.org.