01 Julho 2025
"Com esse estilo, desde sua estreia pública após a eleição, Leão deixou claro que será um papa de governo, normal e novo ao mesmo tempo", escreve Giovanni Maria Vian, historiador e ex-diretor do L'Osservatore Romano, em artigo publicado por Domani, 29-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pela primeira vez, Leão XIV celebra a festa dos apóstolos Pedro e Paulo, e voltará a meditar sobre os fundadores da Igreja de Roma na missa de hoje, uma ocasião privilegiada também para refletir sobre o papel papal. Eleito há pouco mais de cinquenta dias, em seis semanas Prevost demonstrou seu estilo: evitando qualquer protagonismo, nunca exagerando, é determinado, mas equilibrado e tranquilo.
Com esse estilo, desde sua estreia pública após a eleição, Leão deixou claro que será um papa de governo, normal e novo ao mesmo tempo. Como confirmado em uma escolha feita logo nas primeiras horas de seu pontificado, quando voltou a dormir normalmente em sua casa – no palácio extraterritorial do Santo Ofício – em vez de ficar em Santa Marta, onde passou apenas uma noite, o mínimo indispensável.
Robert Francis Prevost foi identificado e escolhido por seus colegas cardeais antes mesmo do conclave. Às reconstruções confiáveis do New York Times e do Figaro, publicadas na primeira semana de seu pontificado, se acrescentaram detalhes sobre como sua eleição foi alcançada: aconteceu em cerca de vinte horas, mas foi preparada com discrição já nos dias da sede vacante. "Se quisesse, poderia ter escrito o discurso na quarta-feira à noite" — ou seja, nas primeiras horas do conclave — confidenciou um eleitor anônimo no início de junho ao semanário católico espanhol Vida Nueva, que sempre apoiou o Papa Francisco. Tanto que o diretor José Beltrán deduziu, plausivelmente, que não houve negociações, "nem uma noite sem sono, nem grupos de pressão para trocar votos. Nenhuma ultrapassagem, nem retirada de candidaturas. Tudo aconteceu com mais naturalidade". Em suma, os cardeais chegaram a Santa Marta com “o tema de casa feito". Apesar dos auspícios da grande maioria dos vaticanistas — especialmente os italianos, que pensavam em candidatos italianos — e também de sucessivas bizarras reconstruções que fantasiaram sobre um verdadeiro "vencedor" do conclave: obviamente italiano.
Quem agora confirma o andamento linear e rápido da escolha é um eleitor argentino, o jesuíta Ángel Sixto Rossi, arcebispo de Córdoba. Sem revelar segredos – escreve Beltrán na última edição de sua revista – o Cardeal Rossi deu a entender que o conclave se desenrolou de uma forma “inesperada para aqueles que pensavam ter que manobrar com blocos de minorias como nas outras ocasiões”. Reiterou que tudo transcorreu “da maneira mais natural” e que um “vento fresco já soprava antes” das pouquíssimas horas de reclusão.
Prevost, considerado papável por alguns observadores, parecia, no entanto, um candidato improvável, senão mesmo impossível, devido à sua origem estadunidense. Mas, assim como já aconteceu com a eleição de Wojtyła, que vinha de um dos dois blocos que se enfrentavam desde a Guerra Fria, deve-se dar crédito ao colégio cardinalício – tomado como um todo e independentemente de personalidades individuais, geralmente pouco significativas e em vários casos até controversas – por ter sabido se livrar, na mais impermeável confidencialidade, até mesmo desse tabu geopolítico.
É claro que na escolha dos cardeais desempenhou um papel a dimensão pan-americana, por assim dizer, de Prevost, missionário e bispo de longa data no Peru, país cuja nacionalidade adotou. Mas também pesou seu longo governo dos Agostinianos, a antiga ordem religiosa à qual pertence e que liderou por doze anos, conhecendo o mundo. Após uma sólida formação acadêmica: dos estudos em matemática e filosofia nos Estados Unidos a um doutorado em direito canônico no Angelicum de Roma, com uma tese, publicada em 1987, sobre o papel do prior local na ordem de Santo Agostinho. Questionados durante a sede vacante, aqueles que conheciam Prevost há tempo o descreveram como "um homem de grandes ideais, aberto, promovido por Francisco, mas também um canonista, um homem que sempre governou com equilíbrio, respeitoso das instituições. Um pouco crítico – em voz baixa e sempre com respeito aos superiores – em relação às gestões excessivamente informais das coisas romanas nos últimos 12 anos".
Como Prefeito dos Bispos desde 2023, o prelado estadunidense teve também “a oportunidade de obter uma visão geral dos episcopados mundiais e uma experiência da Cúria Romana, do que funciona e de muitas coisas que não funcionam e que ele conhece bem”. Em suma, “um bom candidato” que já era cogitado por muitos cardeais não curiais e – já às vésperas do conclave – “também na Cúria por aqueles que esperam continuidade, mas mais respeito pelas instituições”, acrescentava o interlocutor.
A análise de quem conhecia Prevost é confirmada pelo início de um pontificado que marca uma evidente mudança de ritmo em relação ao Papa Francisco, apesar das frequentes referências de Leão ao seu antecessor argentino. As referências, ainda que sóbrias, são também a outros pontífices, por um papa que soube escolher – e o pensamento corre ao que Montini escreveu em uma nota logo após sua eleição – um “nome belo e novo, tradicional, mas diferente dos que se repetiram nos últimos tempos”.
Acima de tudo, é muito evidente o distanciamento em relação à transbordante personalização do papado exercida de forma autocrática pelo pontífice argentino. As palavras de Leão aos cardeais que o haviam eleito dois dias antes foram claras: o papa "é um humilde servidor de Deus e dos irmãos, nada mais do que isso". Uma figura que "nunca deve ceder à tentação de ser um líder solitário ou um líder posto acima dos outros", especificou depois na homilia da missa inaugural de seu pontificado.
Fundamental será a equipe de colaboradores que Prevost escolherá, provavelmente sem pressa. Mas os primeiros sinais são indicativos. Ao se reunir com os membros da Cúria e funcionários do Vaticano, Leão começou com uma frase simples e eloquente: "Os papas passam, a Cúria permanece".
A diferença é, portanto, abismal em comparação com as chicotadas verbais infligidas diversas vezes – mas sem resultados – por seu antecessor às estruturas curiais e vaticanas, certamente necessitadas de reformas contínuas, mas em relação às quais Bergoglio sempre se sentiu alheio e alternativo. “Sentiu-se imediatamente um clima diferente, mais relaxado”, observou, antes mesmo da audiência, um leigo que mantém contato diário com os papas desde a época de João Paulo II.
Igualmente significativa foi a audiência na Secretaria de Estado, esvaziada de poder pelo Papa Francisco, e à qual Leão quis devolver confiança reiterando que “o papa não pode seguir em frente sozinho” e que deve contar com a colaboração de muitos, “mas de modo especial” justamente com a Secretaria de Estado. A colegialidade, projetada pelo Concílio, será, portanto, a marca registrada do governo de Leão em tempos de guerras (e polarizações, mesmo entre os católicos): sucessor de Pedro, mas também de Paulo, os dois apóstolos que – nas palavras de Clemente I – o Papa Montini havia definido como as “grandes e justas colunas” da Igreja Romana e da Igreja universal.