01 Julho 2025
"O Ocidente vive mais nas palavras do Papa Leão do que nas conclusões finais das cúpulas da OTAN e da Europa, se por Ocidente entendermos o respeito pelas minorias, a centralidade dos direitos das pessoas, o direito à paz, que é mais do que o direito à segurança", escreve Marco Damilano, jornalista, em artigo publicado por Domani, 29-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Triste, desolador, indigno, vergonhoso. E diabólico. Esses são os adjetivos usados pelo Papa Leão XIV em seu discurso às igrejas orientais em 26 de junho, o mais forte dos dois primeiros meses de seu pontificado. Hoje, a igreja celebra a festa dos Santos Pedro e Paulo, a rocha sobre a qual a primeira comunidade cristã foi fundada e o apóstolo dos gentios, ambos destinados ao martírio em Roma. Um caminho que também marca os papas, especialmente os contemporâneos, honrados em suas aparências exteriores mas não escutados em profundidade.
O Papa Prevost parece não ser exceção. Celebrado pelos críticos do Papa Bergoglio por causa da mozeta, ignorado na última mensagem. Palavras duras, contra a "veemência diabólica" da violência bélica em Gaza e no Oriente Médio, "as falsas propagandas do rearmamento" que traem os desejos de paz dos povos, os "mercadores da morte" que movimentam "quantidades de dinheiro com as quais hospitais e escolas poderiam ser construídos. E, em vez disso, os que já foram construídos são destruídos!"
Termos cuidadosamente escolhidos, enquanto a cúpula da OTAN se encerrava em Bruxelas, decidindo aumentar os gastos militares em 5%, por um Papa estadunidense que defende o universalismo da paz contra os Herodes e Pilatos da política, por nenhum líder europeu, a começar pelo Secretário-Geral da OTAN, Rutte, que desonrou a Europa com seu servilismo descarado, a cupiditas serviendi, e nem mesmo pelos políticos italianos, geralmente tão rápidos em aparecer, nem mesmo pela Primeira-Ministra Giorgia Meloni, esperada no Vaticano nos próximos dias para seu primeiro encontro oficial.
E, no entanto, o Ocidente vive mais nas palavras do Papa Leão do que nas conclusões finais das cúpulas da OTAN e da Europa, se por Ocidente entendermos o respeito pelas minorias, a centralidade dos direitos das pessoas, o direito à paz, que é mais do que o direito à segurança.
Há um livro fundamental que deve ser lido para entender o que está acontecendo na Europa, escrito pelo jornalista do Times, Oliver Moody, Báltico. Il mare conteso al centro del nostro futuro (Báltico. O mar disputado no centro do nosso futuro, Marsilio). O Báltico é o nosso futuro, da Europa e talvez do mundo. O modelo báltico, da Estônia, Letônia, Lituânia, além da Polônia e Finlândia. A exigência de se confrontar com o gigante russo nas fronteiras pressionou aquelas que Milan Kundera definia de "pequenas nações" ("cuja existência pode ser posta em questão a qualquer momento") a fortificar "a espinha dorsal da segurança".
A Estônia, de onde vem a Alta Comissária Kaja Kallas, ultrapassou 2% do PIB em gastos militares em 2007, em 2024 atingiu 3,3% e visa dobrá-lo bem antes dos outros países da OTAN. Desconfia da Europa Ocidental, cujas classes governantes (começando com Mitterrand) em 1990-91 trataram as aspirações de independência com cinismo. A invasão russa da Ucrânia é o primeiro sinal para o projeto de "segurança progressiva": orçamentos de defesa mais altos, intervenções estatais, liberalismo social e cultural.
Durante setenta anos, a Europa Ocidental hegemonizou o continente com seu modelo de bem-estar social, de economia social no mercado, de alternância de governo entre populares e socialistas, de paz na segurança. Hoje, esse modelo desapareceu. A identidade báltica, que se candidata a se tornar a identidade de todo o continente, é sustentada por uma parte significativa do establishment europeu e também italiano, uma parte dos comentaristas, alguns membros do Partido Democrata e, não se sabe até que ponto pela primeira-ministra Meloni, que nunca assume posições claras, aliás, confortada nas pesquisas por uma estratégia centrista típica dos antigos democratas-cristãos. Alternativamente, sempre do Oriente, há o modelo autoritário de Viktor Orbán, que já reivindicava anos atrás: "Em 1989, pensávamos que a Europa fosse o nosso futuro. Hoje, pensamos que nós somos o futuro da Europa".
A grande participação popular na Parada do Orgulho Gay de Budapeste diz que não, o modelo Orbán não é aceitável na Europa. Mas, se isso for verdade, a defesa dos valores não pode se limitar ao dia de ontem.
A questão é: a Europa Ocidental ainda é capaz de propor um modelo político e social, aquela visão de coesão, de bem comum, de que fala o Papa Leão? Pode aceitar ser representada por Ursula von der Leyen e Mark Rutte? E dentro da Europa Ocidental, tem algo a dizer aquela porção voltada para o Mediterrâneo, a Itália? E aquela parte que construiu a Europa junto com outros, a esquerda?