28 Junho 2025
"Mas a democracia de um país não se mede apenas por seus modelos institucionais: neste planeta global e interdependente, existe uma democracia das relações internacionais feita de confrontos e diálogo, à qual todos estão vinculados, os mais fortes e os mais fracos", escreve Gianni Oliva, historiador italiano, em artigo publicado por La Stampa, 26-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Os ataques no Irã, como Hiroshima e Nagasaki, encerraram a guerra": Trump disse exatamente isso. Entre mil páginas da história estadunidense, ele citou como mérito as mais controversas, as mais assustadoras, aquelas sobre as quais todos os seus antecessores, republicanos ou democratas, nunca falaram por respeito ou por pudor. Em Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, a bomba "Little Boy" exterminou 70.000 pessoas em um instante e arrasou todo o centro da cidade; em Nagasaki, três dias depois, a bomba "Fat Man" pulverizou mais de 40.000. Em um ano, os mortos por ferimentos, queimaduras e radiação foram um número impressionante, calculado entre 150.000 e 200.000. Todos civis: mulheres, homens, crianças, idosos, enfermos. Não se sabe exatamente quantos foram, pois de muitos deles não sobrou mais nada e não puderam ser contados. Trump conhece esses números? Conhece essa história?
Diante do que está acontecendo, não faz sentido discutir o significado político das ações. Como muitos, nunca tive qualquer simpatia pelos aiatolás, pelos terroristas do Hamas, pelos Hezbollah: mas isso não tem nada a ver com as capacidades nucleares do Irã ou com o massacre de 7 de outubro. Quando Hiroshima é evocada como exemplo, são renegados oitenta anos de história subsequente e a exibição da força se torna o único parâmetro. Ninguém é tão ingênuo a ponto de pensar que a força é uma variável secundária: todos sabemos o quão fundamental ela é, da força militar à força econômica, à força financeira, à força psicológica. Mas a história do mundo, a partir de 1945, viu o esforço de equilibrar a força de poucos com a dimensão coletiva da ação. Precisamente para evitar outros Hitlers e outras Hiroshimas. É por isso que nasceram a ONU, os tribunais internacionais de justiça, os tratados multilaterais, os encontros periódicos do G7 e do G20; é por isso que o direito internacional foi aprofundado, definido, modulado. O mundo buscou a dimensão coletiva para impedir a repetição das derivas que haviam levado à catástrofe de 1940-1945.
A política de Trump é a negação desse percurso: desprezo pelos parceiros, sejam eles quem forem; humilhação dos mais fracos; arrogância do poder; linguagem dura; nenhuma consideração pelas organizações internacionais. E agora citações históricas que falam mais alto que os ataques ao Irã. Porque com seu arsenal (bombas nucleares incluídas) os EUA podem fazer o que quiserem, anexar o Canadá, ocupar a Groenlândia, sacrificar a Ucrânia e sabe-se lá o que mais... Trump é o líder de um país democrático, eleito livremente por seus cidadãos (aliás, Hitler também chegou ao poder com os votos livres da democrática República de Weimar). Mas a democracia de um país não se mede apenas por seus modelos institucionais: neste planeta global e interdependente, existe uma democracia das relações internacionais feita de confrontos e diálogo, à qual todos estão vinculados, os mais fortes e os mais fracos. E o confronto e o diálogo não se baseiam no espectro de Hiroshima e Nagasaki.
Gostaria de perguntar à presidente Meloni se, durante o jantar da cúpula da OTAN, sentada à mesa de Trump, ela conseguiu lembrar disso ao seu interlocutor, ela que em maio de 2023 participou de um G7 convocado, não por acaso, precisamente em Hiroshima.