24 Mai 2025
Como em qualquer transição papal, quando o Papa Leão XIV foi eleito, surgiram questões sobre quais seriam suas prioridades e se ele continuaria a promover as reformas de seu predecessor.
A reportagem é de Elise Ann Allen, publicada por Crux Now, 23-05-2025.
Uma das perguntas mais constantes até agora, à medida que o mundo conhece o Papa Leão, tem sido qual será sua abordagem em relação às mulheres e se ele dará continuidade aos esforços pioneiros do Papa Francisco para criar espaços mais significativos para elas na governança e na autoridade, inclusive dentro da Cúria Romana.
O que Leão fará em questões como a ordenação sacerdotal de mulheres e o diaconato feminino ainda não se sabe. No entanto, ele participou do Sínodo de Francisco sobre a Sinodalidade, o que levou à formação de vários grupos de estudo com foco em questões específicas, incluindo um sobre ministérios e a possibilidade do diaconato feminino.
No início do Sínodo de 2024 sobre a sinodalidade, o cardeal argentino Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF), responsável pelo grupo de estudos que explora o diaconato feminino, disse que era prematuro tomar qualquer tipo de decisão sobre o assunto e que ele continuaria a ser estudado.
É improvável que o novo papa faça algum movimento drástico sobre isso ou sobre a ordenação de mulheres logo no início de seu pontificado, mas ele provavelmente esperará para ver o que os grupos de estudo dirão, pois espera-se que eles concluam seu primeiro mandato e resumam as descobertas até junho deste ano.
Mesmo assim, é improvável que ele se desvie da linha adotada por seu predecessor em questões como a ordenação sacerdotal de mulheres, que Francisco repetidamente disse ser uma porta firmemente fechada.
Enquanto isso, Leão já enviou alguns sinais iniciais de que manterá o status quo para as mulheres que Francisco já colocou na liderança e expandirá sua presença na Cúria Romana.
Sem querer interpretar demais, nos primeiros dias após sua eleição, o Papa Leão XIV teve um encontro privado com a irmã italiana Simona Brambilla, que Francisco havia nomeado prefeita do Dicastério para os Religiosos em janeiro.
A nomeação, marcando a primeira vez que uma mulher foi nomeada para liderar um departamento do Vaticano, causou comoção entre os rigoristas canônicos, que questionaram o fato de ela não ter sido ordenada, já que parte de seu trabalho como prefeita envolve tomar decisões vinculativas sobre membros das Ordens Sagradas.
Em poucas palavras, o argumento é que os prefeitos do dicastério compartilham a autoridade do papa, governando em seu nome e como uma extensão do poder papal enraizado nas Ordens Sagradas e na sucessão apostólica, o que não está aberto às mulheres.
Francisco procurou mudar isso durante os últimos anos de seu papado, buscando com suas reformas curiais separar as Ordens Sagradas da governança, colocando leigos mais competentes em posições de autoridade.
Muitos observadores se perguntaram se Brambilla e a irmã italiana Raffaella Petrini, chefe do Governatorato da Cidade do Vaticano, seriam mantidas em seus cargos pelo atual papa, dado o debate sobre nuanças canônicas, e parece que, por enquanto, Leão não apenas pretende fazer isso, mas está redobrando a aposta na inclusão de mulheres em altos cargos curiais.
Ele decidiu no início que deixaria todos os prefeitos de dicastério e chefes de departamentos vaticanos em suas funções atuais enquanto os conhece e recebe resumos de seus trabalhos.
Não apenas o Papa Leão se encontrou quase imediatamente com Brambilla, mas durante sua primeira audiência geral pública em 21 de maio, quase todos os leitores que fizeram a leitura do Evangelho e os resumos de sua catequese em diferentes idiomas eram mulheres, com exceção do leitor de língua árabe.
Até recentemente, os leitores eram todos homens, geralmente clérigos. No entanto, o Papa Francisco iniciou uma mudança nesse sentido e permitiu que leigos em geral, incluindo mulheres, fizessem as leituras durante as audiências gerais.
Na quinta-feira, 22 de maio, Leão fez sua primeira nomeação curial significativa, nomeando a irmã italiana Tiziana Merletti, ex-superior geral das Irmãs Franciscanas dos Pobres, como secretária do Dicastério para os Religiosos, o que significa que os dois principais cargos naquele departamento agora são ocupados por mulheres.
Entre os dois está o cardeal espanhol Ángel Fernández Artime, nomeado por Francisco como pró-prefeito, ao lado de Brambilla como prefeita, uma atitude interpretada por muitos observadores como um sinal claro de que Brambilla estava no comando, mas que a assinatura de Artime eliminaria o debate sobre a validade de suas decisões.
Merletti, uma canonista, é agora a terceira mulher a ocupar o cargo de secretária de um dicastério, após a nomeação inicial de Brambilla como secretária do Dicastério para os Religiosos antes de sua promoção a prefeita, e da Irmã Alessandra Smerilli como secretária do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral.
O Papa Francisco, em sua constituição apostólica que reforma a Cúria Romana intitulada Predicate Evangelium, autorizou leigos, incluindo mulheres, a liderar os departamentos vaticanos, enquanto que anteriormente os cargos eram abertos apenas a homens.
Nascida em Pineto, na Itália central, em 1959, Merletti fez sua primeira profissão religiosa com as Irmãs Franciscanas dos Pobres em 1986.
Formou-se em Direito em 1984 e, em 1992, doutorou-se em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma. Atualmente, trabalha como canonista na União Internacional das Superioras Gerais, uma organização que reúne religiosas do mundo todo.
Durante o papado de Francisco, a proporção de mulheres trabalhando na Santa Sé e na Cidade do Vaticano aumentou de 19,2% para 23,4%, muitas delas em posições de autoridade.
Se suas primeiras ações servirem de indicação, parece que o Papa Leão XIV, além de dar ênfase à pauta social da Igreja, também pretende garantir os lugares e as vozes das mulheres no topo da burocracia governamental global da Igreja Católica.