24 Mai 2025
"Um acordo com Israel? Se dependesse de mim, eu o assinaria na hora. E se agora os israelenses rejeitam a fórmula de dois povos em dois Estados, estou pronto para aceitar e assinar um acordo para um Estado único, no qual todos os cidadãos tenham direitos iguais. Com Jerusalém como capital”. Por 18 anos, Hussein al-Sheikh foi o homem nas sombras. Para todos, era “Abu Jahed”. Desde 26 de abril, ele é “o predestinado”. Pela primeira vez em sua atormentada história em Ramallah há um vice-presidente. Por proposta do líder Abu Mazen, de 90 anos, o Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) aprovou a nomeação do filho de refugiados de 64 anos como vice-presidente da Organização e vice-presidente do Estado da Palestina. Quando Abu Mazen sair, será a vez dele. Mas não é sobre isso que ele quer falar em sua primeira entrevista, menos de um mês depois de se tornar o herdeiro designado do presidente Mahmoud Abbas.
A entrevista é de Nello Scavo, publicada por Avvenire, 22-5-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Inimigo jurado – e recíproco – do Hamas: "O 7 de outubro também foi um ataque contra a Autoridade Nacional Palestina". Ele não tem sido poupado de críticas por suas relações, que vão de Washington a Bruxelas e aos sauditas. Essa é outra razão pela qual nem todos gostam dele. Durante anos, liderou o gabinete responsável por negociar com Tel Aviv a concessão de todas as autorizações que permitem aos palestinos entrar em Israel para trabalho e tratamento médico. Seus detratores o acusam de cooperar com os ocupantes.
Em uma entrevista de 2022, ele disse que não há outra escolha, "além de dialogar com Israel para ajudar os palestinos que precisam". Após quase 11 anos de dura prisão por participar da resistência armada – durante os quais aprendeu hebraico –, ele não é o tipo de homem que se deixa repreender pelos recém-chegados. Maneiras informais, nenhuma preclusão a perguntas e observações, entre um café e algumas tragadas no cigarro eletrônico, ele aponta várias vezes para a foto panorâmica da "Cidade Santa" descrita com a voz baixa e de barítono que causa silêncio: o Muro das Lamentações caro aos judeus, a cúpula dourada da Esplanada das Mesquitas, os vitrais da Basílica do Santo Sepulcro. "Está tudo lá", ele repete.
Negociador após 11 anos nos cárceres israelenses. Ele é considerado o "delfim". Desde que o presidente Abu Mazen (Mohmoud Abbas é seu verdadeiro nome) o nomeou seu vice em 26 de abril, Hussein al-Sheikh tornou-se o principal candidato à sucessão do líder de 89 anos, de quem é um fidelíssimo. Nascido em um campo de refugiados em Ramallah em 1960 – na época sob controle jordaniano –, al-Sheikh militou na Organização para a Libertação da Palestina (OLP) desde jovem, sob o nome de guerra "Abu Jahed". Por isso, entre 1978 e 1988, foi preso pelas autoridades israelenses: na prisão, aprendeu hebraico, o que, após os Acordos de Oslo, lhe permitiria desempenhar funções de ligação com Tel Aviv em nome da Anp. Durante a primeira Intifada, fez parte do comando nacional e ajudou a organizar a resistência. Desde 1994, se tornou uma das figuras mais influentes na política palestina. Em particular, desde 2007, lidera os assuntos civis da Anp: uma função que lhe permite lidar com questões cruciais como as autorizações de viagem e coordenação administrativa na Cisjordânia. Membro do comitê central do Fatah desde 2008, em fevereiro de 2022 foi integrado ao comitê executivo da OLP, sendo nomeado, três meses depois, como secretário. A escolha de al-Sheikh ocorreu após pressão internacional sobre Abu Mazen para reformar a Anp em um sentido menos personalista. A mudança, no entanto, não foi isenta de críticas. Hussein não é muito popular porque alguns o consideram muito próximo do idoso líder e outros excessivamente brando com Israel.
O exército israelense acaba de disparar a curta distância de uma delegação diplomática internacional em Jenin. Na véspera, a Europa havia se manifestado em coro – com o silêncio de Roma e Berlim – contra a operação militar em Gaza. Ontem, porém, a Itália aderiu à moção da OMS condenando os ataques contra os hospitais. Como o senhor avalia esses desenvolvimentos?
Condenamos firmemente os disparos das forças de ocupação israelenses contra os enviados diplomáticos árabes e internacionais em visita na província de Jenin. Convidamos a comunidade internacional para que ponha fim a essa brutal invasão das forças de ocupação nos territórios palestinos. No entanto, não escondo minha surpresa pela reação europeia das últimas horas.
Já não a esperava mais?
Fiquei particularmente impressionado com o Reino Unido e a França, que se expressaram com tons muito severos ao dirigir-se a Netanyahu. Mas a Itália também me surpreendeu. O seu país tem uma tradição de amizade e solidariedade com o nosso povo. No entanto, o seu governo não se uniu aos países que pediram para interromper as operações militares em Gaza e permitir a imediata liberação das ajudas humanitárias à população que vive sob as bombas, entre os escombros e exposta à fome.
Por que considera que a posição internacional também assumida pelo Canadá – desta vez sem repreensões dos EUA – é tão relevante?
Saudamos favoravelmente também a declaração sobre as atividades de colonização israelense na Cisjordânia, cuja continuação, na nossa opinião, está inviabilizando a solução dos dois Estados, constitui uma flagrante violação do direito internacional e da legitimidade internacional e constitui um obstáculo à paz, à segurança e à estabilidade. Agora, porém, convidamos esses países para que reconheçam o Estado da Palestina.
O 7 de outubro de 2023 permanecerá uma data divisora de águas. O banho de sangue organizado pelo Hamas e os reféns arrastados para a Faixa podiam ficar impunes?
Respondo com outra pergunta. O 7 de outubro pode justificar o genocídio? É uma reação proporcional? O que está acontecendo está à vista de todos. Quando teve o primeiro cessar-fogo, centenas de milhares de palestinos retornaram ao norte da Faixa, e o que encontraram? Nada. Tudo destruído. O mais urgente é parar a guerra. Esforços internacionais coordenados são necessários para enfrentar a crise humanitária e construir uma resposta sustentável para atender às exigências dos civis que sofrem em condições trágicas.
Como o senhor avalia as ações do governo estadunidense? A intolerância de Trump em relação a Netanyahu parece estar crescendo e algumas fontes EUA não descartam no futuro o reconhecimento do Estado palestino. O senhor também é reconhecido em boas relações com Washington. O que prevê?
Acredito sinceramente que Trump esteja empenhado com questões políticas internas e também em resolver a questão da guerra na Ucrânia e da situação com o Irã. No momento, estamos observando com cautela, aguardando que as escolhas de política externa do presidente Trump fiquem mais claras.
O Papa Leão XIV voltou a falar sobre Gaza, pedindo o fim dos ataques, a libertação dos reféns israelenses e a autorização urgente para a entrada de ajuda humanitária.
Estamos trabalhando para encontrá-lo em breve. Somos gratos por suas palavras e pelo empenho da Igreja. Não observo as coisas de uma perspectiva ideológica. Não tenho nada contra os judeus, mas tenho o direito e o dever de criticar as políticas de Israel. Assim como devemos trabalhar para proteger a presença dos cristãos e também incentivar o retorno a esses lugares dos cristãos que emigraram.
Na Cisjordânia, não faltam críticas à Autoridade Nacional Palestina, enquanto forças como o Hamas estão ganhando simpatia entre a geração mais jovem. Como o senhor explica isso?
Nossa tarefa agora é relançar as iniciativas para unificar o povo palestino. Não devemos nos deixar dividir. Está se abrindo uma temporada na qual devemos construir unidade. A política de Israel, com a guerra em Gaza e a ocupação ilegal de terras palestinas, também tem o objetivo de criar fraturas entre nós. Mas não devemos ceder. Com a atual liderança israelense, não tenho esperança de que algo possa ser construído. Mas não há alternativa à perspectiva de um acordo.
Arafat e Rabin tiveram sucesso, mas ambos foram mortos.
Ambos?
Rabin foi morto por extremistas israelenses que agora determinam as escolhas políticas. E Arafat também foi envenenado e morto por Israel, tenho certeza absoluta.
Há quem reevoca a luta de Yasser Arafat e a contrapõe à atual Administração Palestina, acusada de ineficiências e submissão. Que lembrança dele o guiará em seu cargo? Yasser Arafat foi o líder que unificou os palestinos, fez deles um povo unido, que combateu e resistiu, mas que soube dialogar com Israel e assinar acordos apesar de algumas resistências internas. Precisamos daquele espírito e daquela coragem.