25 Abril 2025
"O Papa Francisco teve a coragem de mostrar sua humanidade porque acreditava firmemente que Cristo nos salvou com sua humanidade, com a qual nos revelou Deus", escreve o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado em La Stampa, 22-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sua última mensagem ao meio-dia da Páscoa foi um veemente apelo à paz. Seu último gesto, uma bênção urbi et orbi, como uma bênção para a Igreja e o mundo, foi seu pontificado. Realmente uma despedida solene de alguém que foi papa até o fim. E então, na segunda-feira que liturgicamente estende o dia da Páscoa, Francisco morreu, deixando esta terra que tanto amou.
A Igreja vinha acompanhando os difíceis problemas de sua saúde há alguns meses, sabendo que Francisco sempre era o Papa, em qualquer condição física. Porque o Papa é o sucessor de Pedro, e o que o torna tal não são os atos, as ações mais ou menos eficazes, mas o fato de ser a Pedra da Igreja enquanto estiver vivo. Nos últimos dias, tem-se falado demais, e muitas vezes sem conhecimento sobre o ministério papal, se a eloquência, a força e a saúde fossem indispensáveis para exercê-lo, esquecendo-se de que Pedro continuou sendo a Pedra da Igreja mesmo preso, impotente, sem comunicação verbal com os cristãos. Mas entre Pedro e a igreja havia comunhão mais do que nunca no sofrimento e na oração. E, além disso, os católicos precisam tomar cuidado com o risco da papolatria. Aquele que lidera a igreja é o Espírito Santo, sempre presente e ativo, mesmo quando Pedro é reduzido à impotência, mesmo quando falta, porque ele também é um homem que conhece a morte. O Papa Francisco chegou à morte depois de uma longa doença no hospital e depois em sua residência em Santa Marta, experimentando toda a fraqueza de nós humanos, frágeis e mortais. Como um homem idoso e doente que não era mais autônomo, aceitou que outros o vestissem, outros o carregassem, outros o guiassem para caminhar.
E, como diz a profecia de Jesus a Pedro, o Papa Francisco também foi levado para onde não queria ir. Palavras que encerram um mistério que, no entanto, se cumpre: sim, até mesmo Francisco, como idoso, teve de se curvar e ir com a igreja aonde não queria ir. Mistério do sofrimento de todo papa verdadeiramente cristão que sabe ver seu primeiro lugar na igreja, sua primeira e grande autoridade, mas também o fato de ter que se curvar atrás de um rebanho que nem sempre o segue. Agora se diz que o Papa Francisco é um papa inacabado, que apenas abriu processos e não os levou a cumprimento, que ele indicou metas, mas não percorreu todo o caminho para chegar lá, que ele também foi uma decepção para aqueles que esperavam uma verdadeira reforma da Igreja.
Conheci bem o Papa Francisco - posso dizer isso – ele se sentia em confidência comigo e abriu seu coração nos vários encontros que tive com ele. Tinha consciência do que não podia realizar e da distância entre ele, que tentava seguir os sinais dos tempos, e uma parte da Igreja Católica. Ele certamente não prestava atenção à teologia do “resto de Israel”, daquela porção que só Deus conhece e que não coincide com o povo, porque ele queria que todo o povo de Deus fosse igreja, mesmo em sua pobreza e insuficiência. É por isso que ele não gostava da igreja das minorias, ao contrário de Ratzinger, porque era um homem do povo e solidário com o povo até o fim.
Levará muito tempo antes de entender plenamente o magistério do Papa Francisco. Desde sua aparição na loggia de São Pedro após sua eleição, quando pediu a bênção do povo de Deus em vez de ser ele o primeiro a abençoar, até aquela aparição epifânica em São Pedro nos últimos dias: o Papa Francisco em cadeira de rodas aparecia na realidade cotidiana de um homem idoso e careca, ligado ao oxigênio, envolto em um cobertor com calças escuras e uma camiseta branca. Nenhum trono, nenhuma cruz peitoral, nenhum solidéu: o Papa despido de todas as suas insígnias e vestido como um cristão comum. Ao ver a foto nas mídias sociais, lembrei-me da leitura do breviário em que se conta que o bispo São Guilherme de Vercelli (+1142), antes de morrer, despiu-se de suas vestes pontifícias e disse: “Agora a encenação termina e a realidade começa!”
O Papa Francisco teve a coragem de mostrar sua humanidade porque acreditava firmemente que Cristo nos salvou com sua humanidade, com a qual nos revelou Deus. Sim, alguns católicos não entenderam Francisco, outros ficaram escandalizados, especialmente os homens religiosos. No entanto, em Francisco não havia exibicionismo, nem ostentação, apenas o desejo de ser obediente ao Evangelho. Mas chegarão os dias em que se lamentarão os doze anos de Francisco, nos quais, na Igreja responsável e livre, o medo de censuras e condenações diminuiu, a fraternidade entre os diferentes estados de fiéis se intensificou e foi possível falar e tomar a palavra com parresia. Foi uma primavera sobre a qual paira a possibilidade de uma geada repentina... E, enquanto isso, lamentamos a morte de um verdadeiro pai e pastor.