16 Abril 2025
"Uma “teologia rápida” não se esquiva, afunda o bisturi exatamente onde a doença se aninha, por isso exige ideias extremamente claras, precisas e circunstanciais. Odeia as simplificações e ama a complexidade, a complexidade do mundo e a da própria disciplina teológica", escreve Luca Doninelli, escritor, jornalista e dramaturgo italiano, em artigo publicado por L'Osservatore Romano, 11-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Desde o primeiro momento em que li, a expressão “teologia rápida”, usada pelo padre Antonio Spadaro, pareceu-me tão genial quanto necessária. Diante da pressão de eventos imprevisíveis, capazes de pegar de surpresa qualquer esquema (político, sociológico, ideológico) herdado do passado, diante da crise das interpretações, diante de uma certa perda de credibilidade do mundo da informação, o costumeiro teatro dos discursos, dos salões, dos talk shows e dos festivais parece ter suas horas contadas: os especialistas nas coisas do mundo parecem estar perdendo a credibilidade. Basta pensar no constrangimento humano, além de ideológico, de tantos intelectuais diante do bárbaro conflito israelense-palestino e da consequente suspeita de que chegamos - nós que até poucas semanas atrás éramos o Ocidente - ao fim do grande projeto democrático.
E a teologia, que mais do que qualquer outra disciplina coloca sobre a mesa, diante da imprevisibilidade histórica, os temas últimos da existência, do destino, da salvação e da liberdade, correria o risco, se ancorada em uma forma excessivamente discursiva, de ser continuamente ultrapassada pelos acontecimentos; uma vez estabelecido um limiar entre o humano e o não humano, se veria imediatamente ultrapassada por uma situação contingente cujo precipício (mas também, acredito, cuja glória) não tem fim à vista. É preciso que toda a minha consciência seja capaz de conectar o instante presente, o aqui-e-agora, com esse destino, com essa salvação da qual minha disciplina é portadora. Essa é, se entendi corretamente, a “teologia rápida”.
Lembro-me de quando, aos dezenove anos, assisti às últimas palestras de Gustavo Bontadini, um dos maiores filósofos do século XX, bem como professor de Emanuele Severino, nunca renegado. Tendo abandonado o papel de metafísico profissional, tendo esgotado os ciclos de palestras sobre filosofia moderna, uma vez aposentado, Bontadini se dedicou a cursos de aspecto quase lúdico. Lembro-me da primeira pergunta que ele me fez no exame. “Diga-me, meu jovem: se todos os bodes têm barba e eu tenho barba, o que decorre? Veja bem, eu sou um homem que se ressente fácil”. Um dos últimos cursos livres de Bontadini era intitulado “Grande Caçada” ou algo semelhante. O grande homem entrava na sala de aula com um exemplar do jornal do dia e começava a ler em voz alta, fazendo pausas e se sobressaltando (era um verdadeiro talento roubado ao teatro) toda vez que se deparava com um raciocínio falso, um paralogismo, um pensamento que fingia fazer evoluir o discurso (se era um editorial) ou o relato (se era uma notícia) e, em vez disso, se fechava em si mesmo por falta de energia racional. Ríamos muito; o professor não estava interessado em que pudéssemos repetir seus argumentos, mas sim em nos transmitir uma paixão intelectual. Diante do desafio dos acontecimentos, nossa inteligência não pode permanecer neutra e, portanto, é necessário dar-lhe armas (para ele: a metafísica) para não perder o rumo.
Se aprendi corretamente a lição do velho mestre, parece-me entender que uma “teologia rápida” não é uma teologia enxuta, limitada a pontos-chave, uma teologia prêt-a-porter, um manual de primeira intervenção para um mundo doente. Uma “teologia rápida” não se esquiva, afunda o bisturi exatamente onde a doença se aninha, por isso exige ideias extremamente claras, precisas e circunstanciais. Odeia as simplificações e ama a complexidade, a complexidade do mundo e a da própria disciplina teológica. Em resumo: é uma “grande caçada”. O lema dantesco “perder tempo desagrada mais a quem mais conhece o seu valor” é sua definição icônica. Nosso pai Dante se move por sendas obscuras seguindo os passos de Virgílio (que não é um guarda-chuva protetor, um refúgio para belas almas, assim como a cultura nunca é) e é forçado a empregar no instante, no aqui e agora, todo o seu conhecimento, sua fé, sua teologia. Aristóteles e Tomás fluem diante dele em cada encontro, a eles (e à força da poesia) ele se entrega para marcar cada rosto, cada encontro, cada situação com a palavra certa, aquela palavra que - mesmo condenando - salva, sempre e em qualquer caso.
Essa palavra certa, extraída do patrimônio do conhecimento e proferida no instante a ponto de revelar, como diria Montale, um fragmento da realidade, é o que entendo como “teologia rápida”.
Quero acrescentar, me reportando a Pasolini, que a cultura que age no instante possui uma conotação de sabedoria que é muito rara hoje em dia. Exige um aspecto de correspondência humana que vai muito além da aplicação de uma teoria ou de um discurso. Deixe-me explicar. Alguém que tenha ouvido uma determinada sinfonia apenas uma vez, ao ouvi-la novamente a uma distância de tempo, terá dificuldade em identificá-la imediatamente; alguém que, por outro lado, tenha ouvido essa sinfonia (digamos) cem vezes, precisará apenas da primeira nota para identificá-la. Em outras palavras, se eu o entendi corretamente, o Padre Spadaro não está nos convidando a nos tornarmos teólogos-jornalistas ou teólogos-de-salão (embora alguns de nós terão de fazê-lo, c'est la vie), ele está nos convidando a colocar à prova, em um mundo que de repente se tornou caótico, aquilo que acreditamos já conhecer: nossa doutrina, nossa cultura, nossa visão de mundo, à qual estamos apegados e que às vezes nos rende bons posicionamentos. E afiar as armas da nossa teoria - que sempre continuará a ser necessária - até que ela seja capaz de enfrentar a arrogância desavergonhada dos homens mais poderosos do mundo para encontrar, aqui e agora, não apenas uma condenação ou um motivo de indignação, mas o sinal de uma possível salvação. Estamos no mundo para nos salvar, para rastrear o sentido das coisas, para encontrar no labirinto, e precisamos fazer isso agora.
Eu acrescentaria, para encerrar, que uma “teologia rápida” não pode ser neutra (justamente como dizia Bontadini) e, portanto, não pode carecer de um aspecto heroico. Ela, se bem compreendida, modifica a posição do intelectual, o expõe a ventos hostis, coloca em risco sua posição no circo midiático. E rejeita a ideia do tempo como um avanço galopante contínuo, muitas vezes sem sentido, mas celebra sua profunda atualidade ao construir uma ponte entre a miríade de perguntas que a vida nos lança a cada momento e o que os mais afortunados entre nós puderam aprender com seus avós.