15 Abril 2025
Um trecho do livro Chiamami adulto. Come stare in relazione con gli adolescenti (Chama-me adulto. Como se relacionar com os adolescentes, em tradução livre, Raffaello Cortina Editore, pp. 212, 16 euros), do psicólogo e psicoterapeuta Matteo Lancini. Um livro para falar das novas gerações. Todas as garotas e os garotos precisam urgentemente de uma mãe, um pai ou um professor que os escute de verdade e se relacione com eles. Um adulto capaz de refletir o valor que cada adolescente tem, seus recursos, talentos, as especificidades que o distinguem e que serão sua marca de estilo. Quando aparentemente não houver nenhum traço de tudo isso, a tarefa do adulto é ficar junto ao drama do adolescente, ajudá-lo a pensar e encontrar as palavras para expressá-lo, certamente não por meio da mortificação, da reprovação e da punição. Promover e apoiar seu Self, estar em relação com o que eles têm à disposição e, assim, estarão fazendo muito por eles. Façam com que eles os reconheçam e os chamem de adultos. Para mim, essa é a verdadeira educação, todo o resto é apenas didática.
A informação é publicada por Avvenire, sobre trecho do livro de Matteo Lancini, 06-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em uma sociedade em que muitos adolescentes escolhem se afastar, a verdadeira esperança, aquela que realmente pode fazer a diferença na vida de uma pessoa, está justamente na relação. E isso é especialmente verdade e hoje, quando nos deparamos com um número crescente de jovens (estima-se que de 5% a 15% dos adolescentes, de acordo com a Organização Mundial da Saúde) que sofrem de solidão ou, como é cada vez mais frequente, de solidões no plural - desde a solidão emocional, que se manifesta quando faltam vínculos profundos e íntimos, passando pela solidão social, que surge da pobreza de interações e de contato com os outros, até a solidão existencial, a mais profunda e insidiosa, que leva a desvalorizar a própria vida, mesmo estando cercados de amigos ou entes queridos. Cada uma delas não só gera uma angústia indescritível, mas também acarreta graves riscos ao bem-estar e à saúde do indivíduo, tanto física quanto mental. Entre eles, a OMS cita doenças cardíacas, depressão, distúrbios do sono e do apetite, maior suscetibilidade a doenças físicas devido ao estresse e a um estilo de vida pouco saudável, além de enfraquecimento dos sistemas imunológico, cardiovascular e endócrino.
Pesquisas mostram que a falta de relações sociais pode influir sobre o risco de morte prematura tanto quanto fumar quinze cigarros e beber seis taças de vinho por dia. Um dos antídotos mais eficazes para combater o desespero que a solidão pode trazer é oferecer às crianças uma relação que alimenta e preenche a ponto de poderem internalizá-la quando não estiver presente, ser evocada na ausência, como uma dimensão consoladora, mesmo quando o “objeto real” não está presente em carne e osso. Uma relação satisfatória que, depois de incorporada, torna-se uma função do próprio Self, permitindo que a pessoa se autorregule e se tranquilize nos momentos de necessidade. Uma relação que vive por dentro e é integrada no próprio aparato psíquico, impedindo que a pessoa afunde no abismo, no vazio da ausência de sentido, de valor do Self, do outro e da vida. Não uma dimensão relacional que atrapalha, que toma o lugar do verdadeiro Self, que o substitui, mas que é capaz de se tornar presente de maneira suficientemente boa, como nos ensinou Donald Winnicott, por meio de satisfações e frustrações equilibradas, preservando a vitalidade e a autenticidade da subjetividade de cada um. Só assim o pequeno filho de nós, seres humanos, pode ser sereno, mesmo sem a presença constante dos outros, e pode estar com seus próprios pensamentos sem se sentir perdido e, portanto, angustiado.
Muitas vezes me perguntam qual é a melhor maneira de nos comportarmos como pais, o que fazer como professores ou educadores, o que os adultos podem ou não fazer para ajudar os garotos e as garotas. Às vezes me dirigem essas perguntas no final de uma conferência, de uma formação em que me pareceu ter sido até bastante enfático em dizer que fazemos demais, que pensamos demais - e muitas vezes mal - tentando antecipar o que eles precisam, sem nem mesmo perguntar o que eles querem ou como se sentem. O mais difícil não é tanto escutar, mas permitir que as palavras de dor realmente penetrem dentro de nós e tenham o tempo de se enraizar em nossa mente e coração, para que possam dialogar com nossas emoções e sentimentos mais profundos. Como é difícil deixar que as emoções negativas de nossos meninos e meninas criem raízes dentro de nós.
Como é difícil transformá-las em sementes capazes de fazer brotar dentro de nós a planta do estar, que, como a giesta de Leopardi, é esplêndida e brilhante, e tem raízes profundas e entrelaçadas, capazes de resistir e se ancorar profundamente no solo que a cerca. Podemos estar em relação, mesmo que não consigamos nos sentir tão confortáveis, mesmo que não estejamos apoiados nas almofadas macias dos afetos mais calorosos, envolventes e reconfortantes. Então, vou tentar isso, com a veemência das letras garrafais não permitidas pela etiqueta de um ensaio, mas com o mesmo pathos sincero e visceral que poderia vir de uma foto gigante, de um discurso berrado em praça pública.
Livro "Chiamami adulto. Come stare in relazione con gli adolescenti", de Matteo Lancini (Editora Raffaello Cortina, 2025).
A resposta é: podemos ficar. Vamos ficar. Vamos ficar parados, em escuta, atentos, concentrados, desconfortáveis, com a sensação de ter acabado de levar um soco no estômago, mas vamos ficar. Vamos escutar - e não apenas as palavras que os jovens têm a dizer e que dirigem a nós, adultos. Palavras fora da gramática, impensáveis, às vezes sem sentido, pelo menos na aparência, desprovidas de esperança e vazias. Vazias em comparação com a plenitude da vida que gostaríamos que eles testemunhassem, que acreditamos ter oferecido com nosso distribuidor de amor, atenções e recursos. Vamos ouvir quanta dor sentem por dentro e o quanto isso nos machuca. Sua raiva, seu esforço, a ausência de perspectivas, de amigos, de uma qualquer visão nos atinge e nos perfura como uma lâmina no meio do peito, como um soco no estômago, como o sangue que chega ao cérebro, como algo que nos corrói por dentro. Isso nos corta a respiração. Mas isso também é vida.
Dói, como quando as mulheres que se tornam mães se contorcem no trabalho de parto, mas também é vida aquela que passa por aí, do sentir-se mais perto da morte enquanto se está gerando a vida. Passar intensamente pela dor é a primeira experiência que encontramos para estar no mundo, para viver.
A dor dos filhos é uma dor que toma corpo, que o domina, mas é como uma onda gigante e avassaladora. Podemos resistir, deixar-nos levar, mas permanecendo plantados profundamente dentro de nós, firmes e seguros de que, com a mesma intensidade, ela evoluirá, se transformará, não do nosso jeito, mas do jeito deles. Não adianta ir para outro lugar, com a mente ou fisicamente, mas é preciso ficar ali, ao lado, sintonizados em suas frequências, sem ceder à tentação de mudar de canal, como diante de um filme de terror ou de um programa de que não gostamos. Se na vida sempre tentamos ser um exemplo de empenho, força e dedicação, é natural esperar que essas qualidades se reflitam nas experiências de nossos filhos (...).
Adeus desejo sexual. O corpo para eles é apenas um parâmetro estético.
O texto que publicamos nesta página é um trecho do livro Chiamami adulto. Come stare in relazione con gli adolescenti (Raffaello Cortina Editore, pp. 212, 16 euros), do psicólogo e psicoterapeuta Matteo Lancini, presidente da Fundação Minotauro de Milão e professor de psicologia na Universidade Bicocca de Milão e na Universidade Católica. É um texto que conclui a trilogia que começou em 2021 com o Età tradita e continuou em 2023 com Sii te stesso a modo mio.
Nesse novo ensaio, o especialista retoma e desenvolve alguns dos temas já abordados nos textos anteriores. Fala de desconforto juvenil, que permanece como ruído de fundo, muitas vezes apenas insinuado, e que se manifesta em episódios de violência, em “atos desesperados – escreve - que devem ser interpretados não apenas como sinal de medo, mas também como uma indicação da ausência de perspectivas e da busca por visibilidade”.
Em um mundo em que tudo muda rápido demais, em um mundo de pós-narcisismo e hipernarcisismo, sem mais referências estáveis compartilhadas, impedir, proibir não serve para nada, explica o especialista, se não nos dedicarmos a entender seu desconforto e suas demandas de autenticidade. Como as que dizem respeito às relações que estão mudando e assumindo formas diferentes do passado. Um mal? Não, observa Lancini, “é o fruto que colhemos hoje por termos incutido nas mentes das novas gerações o quanto a dependência do outro é errada e problemática. Não está longe o tempo em que a verdadeira prevenção contra as relações tóxicas será não ter mais relações”. Ou, pelo menos, relações como nós as entendemos.
Até mesmo o sexo parece cada vez mais distante das preocupações reais e dos principais interesses das novas gerações. Em um parágrafo muito interessante, Lancini explica o distanciamento progressivo dos mais jovens do amor erótico, com o conceito de corpo cada vez mais ligado a parâmetros estéticos e não mais “objeto” de desejo sexual.
Um convite para avaliar o comportamento de nossos filhos a partir de suas autênticas tramas afetivas, e não de nossos modelos um tanto desgastados.
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