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16 Abril 2014

A solidão digital reenvia as nossas linhas de fratura social e nos lembra que a justiça e a dignidade vão além da satisfação das necessidades materiais. Criticar a violência das relações sociais digitais talvez só faça sentido se criticarmos com a mesma força com a violência das relações sociais tout court. E que tentemos responder a elas.

A opinião é de Anthony Favier, em artigo publicado na revista Parvis, de março-abril de 2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Nunca como agora a nossa época manifestou o seu apetite pelas novas formas de comunicação. A "revolução" digital muda as nossas sociedades, que, no entanto, não parecem conseguir responder à solidão sofrida por alguns de seus membros.

São inúmeros os paradoxos contemporâneos. Formamos ao mesmo tempo uma sociedade em que os solteiros são legiões e buscam o amor, sozinhos, em sites de encontro pagos. O desejo de afirmar "a si mesmos" se realiza através da inserção online em redes sociais de dados privados e fotos com pessoas que se encontram pouco ou raramente e que são, apesar de tudo, definidas como "amigas".

A socióloga norte-americana Sherry Turkle, que trabalha sobre o modo como a internet transforma os nossos comportamentos, destaca: "No silêncio da conexão, as pessoas se sentem tranquilizadas, estando em contato com um grande número de pessoas – cuidadosamente mantidas à distância. Nunca temos o suficiente do outro, já que podemos usar a tecnologia para manter o outro à distância: não perto demais, nem longe demais, justamente da forma que nos convém".

Portanto, as técnicas da informação satisfariam o nosso desejo de controle, mas desembocariam somente em relações distantes e, consequentemente, inconsistentes... que nos tornam, no fim, mais sozinhos e que marcam o advento de uma sociedade conectada e depressiva. Depressiva porque conectada?

Do curvamento à abertura

Sem ir longe demais, lembramos que 27% dos franceses declara ter iniciado "relações com novas pessoas" graças à internet e às novas tecnologias da informação, segundo uma pesquisa muito recente (CREDOC. Les Français en quête de lien social).

O percentual sobe para 51% para pessoas que participam de redes sociais. As comunidades de cidades ou de bairros, as socialidades familiares, religiosas ou profissionais não desapareceram com a chegada da internet. As coisas se inserem em um tempo mais longo...

Ao contrário, a tecnologia não abole as distâncias, mas pode criar novas amizades, improváveis redes de interesse, socialidades nascidas do diálogo espontâneo. Blogs e fóruns sobre centros de interesse não significam o desaparecimento da associação de bairro ou de ex-alunos; muitas vezes, oferecem um paralelo digital delas e prolongam a sua prática sob uma outra forma. O lugar das novas tecnologias na solidão sofrida modernamente talvez reproponha o velho debate entre "tecnófilos" e "tecnófobos".

Um instrumento não tem em si um senso moral e, ao invés, é o seu uso, as sociedades que o sustentam e as regras de que são dotados que lhe conferem uma consistência. Educar-se a internet, então? Um filósofo das novas tecnologias, Antonio Casilli, faz uma curiosa constatação no seu último livro sobre a socialidade digital, intitulado Les liaisons numériques, vers une nouvelle sociabilité (Seuil).

São aqueles que usam as novas tecnologias em uma lógica do dom, abrindo-se aos outros e comunicando conteúdos próprios, que dizem que recebem mais, obtêm mais para si mesmos. A lógica altruísta e a disponibilidade aos outros seriam as disposições que levam a menos ao curvamento sobre si mesmos e sobre o próprio mundo fechado. Seja no espaço digital, seja na vida real, de um certo modo.

Contra a solidão (digital)?

Nesse amplo debate, além disso, os tecnófilos têm muitos argumentos em seu favor. As nossas relações face a face também podem ser de conveniência, conformistas... e narcisísticas.

Além disso, se as novas tecnologias alimentam as nossas solidões, na realidade revelam sobretudo as já existentes. Aqueles que lutam contra a pobreza falam, e não só para os países do Sul do mundo, de "brecha digital". A expressão designa o modo pelo qual aqueles que não têm acesso material, que não foram formados para as novas tecnologias ou que não têm a idade para serem iniciados, são excluídos, mais uma vez, do "jogo social" e das suas possibilidades.

A solidão digital reenvia as nossas linhas de fratura social e nos lembra que a justiça e a dignidade vão além da satisfação das necessidades materiais. Criticar a violência das relações sociais digitais talvez só faça sentido se criticarmos com a mesma força com a violência das relações sociais tout court. E que tentemos responder a elas.

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