08 Abril 2025
Rosario Lo Negro, 27 anos, estudante de Filosofia na Universidade San Raffaele, em Milão, membro do Comitê Nacional do caminho sinodal e da associação “Progetto Giovani Cristiani Lgbtq+”, é um dos 51 leigos que tomaram a palavra no Vaticano contra o documento final do Sínodo, que em seguida foi retirado da assembleia e adiado para outubro próximo.
A entrevista com Rosario Lo Nigro é de Fabrizio Caccia, publicado por ‘Corriere della Sera’, 05-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Você teve muita coragem.
Na terça-feira de manhã, na Sala Paulo VI, minhas pernas tremiam: eu era o primeiro o inscrito para falar, tinha mil delegados na minha frente e a dois passos de distância o Cardeal Matteo Zuppi e o Arcebispo Erio Castellucci, sentados à mesa da presidência do Sínodo da Conferência Episcopal Italiana, que me encaravam em silêncio.
Mas, mesmo assim...
Eu tinha dois minutos para falar, então tive que ser sucinto, mas o que eu queria dizer, eu disse. Depois de quatro anos de trabalhos preparatórios, chega a Proposição n. 5 e eu leio: 'Acompanhamento das pessoas em situações afetivas especiais'. Ou seja, eu estaria nessa má situação, de acordo com eles?
É irônico?
Mas por que não chamar as pessoas Lgbtq+ pelo nome? Nós estamos dentro da Igreja, não estamos fora. Precisamos de reconhecimento, de participação. E não há necessidade alguma de nos acompanhar, porque somos muito capazes de nos mover por conta própria, eu mesmo participei de muitos retiros, momentos de oração e formação junto com médicos, teólogos, psicólogos.
Você se sentiu agredido?
Agredido não, porque já estou acostumado com a terminologia eclesial. Até mesmo o Papa Francisco, quando falou sobre viadagem, poderia ter se poupado disso. Fiquei magoado, sim, como quando li o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica de Bento XVI aos 13 anos: lá se falava dos atos homossexuais como ‘intrinsecamente desordenados’. Palavras muito duras, tanto que me perguntei se eu estava no lugar errado, se minha condição estava errada. Então, anos depois, até entrei no seminário de Agrigento para buscar uma resposta para minhas dúvidas. Era 2017, mas me vi dentro de um novo pesadelo chamado ‘terapias reparadoras ou de conversão’. Em resumo, eles queriam me ‘curar’! Larguei o seminário.
Sua história também foi divulgada pela BBC.
É por isso que eu digo que, quase 10 anos depois, eu esperava muito mais do que um paternalista 'acompanhamento', um conceito que também retorna na proposição número 3 para pessoas com deficiência. E das mulheres, vamos falar sobre isso?
Vamos falar.
As mulheres na vida paroquial são uma maioria, não uma minoria. Há mais catequistas mulheres do que homens, mas os homens são quase sempre chamados para funções de responsabilidade. Até mesmo sobre os abusos poucas palavras irrelevantes são colocadas no documento. Nunca há qualquer referência à responsabilidade eclesial pelo fracasso em indenizar as vítimas, pelo silêncio conivente e pelo encobrimento dos abusadores. Em vez disso, a ênfase é colocada em instrumentos parciais e ineficientes, que não inspiram a confiança daqueles que foram abusados, eu primeiro.
Palavras fortes.
No entanto, fui aplaudido e, portanto, se eu tinha entrado decepcionado, saí com uma consciência diferente, porque a Igreja finalmente abraçou totalmente a sinodalidade do Papa Francisco, o documento foi retirado e é bom, como leigo, sentir-me hoje corresponsável pelas escolhas que a Igreja pode fazer.