07 Abril 2025
Além da China e da Europa, as novas tarifas anunciadas pelo presidente americano Donald Trump também afetam os países da América Latina, embora alguns já tenham afirmado que não ficarão de braços cruzados. Em defesa do multilateralismo, o Brasil afirmou que enfrentará as novas disposições do magnata republicano, enquanto a Colômbia vê nisso uma oportunidade de explorar outros mercados.
A informação é de Axel Schwarzfeld, publicado por Página12, 07-04-2025.
Trump introduziu tarifas de 10% sobre importações do Brasil, Colômbia, Argentina, Chile, Peru, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Guatemala, Honduras e El Salvador. Para a Venezuela será de 15% e para a Nicarágua, de 18%. O México não foi incluído nesta lista, pois é um dos parceiros dos Estados Unidos no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (USMCA).
Enquanto na Argentina o vinho e o mel natural são alguns dos principais produtos afetados, no Brasil os mais afetados são a soja, o açúcar e o milho; No Chile, a agricultura e o setor pesqueiro; na Colômbia, café e flores; e no Equador, camarão, banana e cacau. A Casa Branca disse em um comunicado que alguns produtos, incluindo cobre, produtos farmacêuticos, semicondutores, madeira, ouro, energia e certos minerais, não estão sujeitos a tarifas.
O sociólogo Gabriel Puricelli explicou à Página/12 que as tarifas de Trump têm um duplo impacto negativo na região. "Diretamente, eles obviamente restringem o acesso ao mercado dos EUA. Indiretamente, eles provocam turbulência global, provavelmente duradoura, que já levou a uma queda nos preços das commodities e desviará os fluxos de investimentos para mercados percebidos como de menor risco do que a nossa região", afirmou o coordenador do Programa de Política Internacional do Public Policy Lab.
Entre os líderes regionais que criticaram a medida de Trump estava o presidente colombiano Gustavo Petro, que alertou que as tarifas poderiam desencadear uma recessão global. Por isso, ele enfatizou a necessidade de reduzir a dependência de economias externas e aproveitar a conjuntura atual para fortalecer os laços comerciais entre os países da região, além de explorar outros mercados internacionais. "A América Latina vê novas oportunidades: integrar-se entre si e com o México e, verdadeiramente, abrir-se ao mundo de forma integrada e ganhar mercados norte-americanos de baixo valor agregado", escreveu na rede social X.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva declarou durante evento em Brasília: "Em resposta à decisão dos Estados Unidos de impor uma sobretaxa aos produtos brasileiros, tomaremos todas as medidas cabíveis para defender nossas empresas e nossos trabalhadores". Ele acrescentou: "Defendemos o multilateralismo e o livre comércio e responderemos a qualquer tentativa de impor um protecionismo que não tem mais lugar no mundo de hoje."
O presidente garantiu que a resposta do Brasil será baseada na "lei de reciprocidade econômica", aprovada por unanimidade na quarta-feira pelo Congresso brasileiro, bem como nas diretrizes da Organização Mundial do Comércio (OMC). A nova legislação permitirá ao governo implementar contramedidas para responder a "ações, políticas ou práticas unilaterais de um país ou bloco econômico que afetem negativamente a competitividade do Brasil", de acordo com o texto. Nesse sentido, autoriza o governo a suspender concessões comerciais, investimentos e obrigações relacionadas a direitos de propriedade intelectual.
A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, alertou que as tarifas dos EUA podem prejudicar a meta do governo de arrecadar US$ 1,3 trilhão que pretende mobilizar anualmente para combater as mudanças climáticas, em um ano importante em que o Brasil sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) de 2025, em Belém.
"(As guerras comerciais) estão fazendo com que os países comecem a desviar recursos que poderiam ser usados para financiamento climático e que agora podem ser redirecionados", disse Silva em entrevista coletiva após presidir uma reunião ministerial do meio ambiente dos países BRICS em Brasília. "Em vez de travar guerra uns contra os outros, deveríamos travar guerra contra a pobreza, as mudanças climáticas, a desertificação e a perda de biodiversidade, que é o que está ameaçando nossas vidas e sistemas produtivos", enfatizou.
Por sua vez, o México comemorou a isenção de Trump das novas tarifas, já que, junto com o Canadá, é membro do USMCA. "Tem a ver com o bom relacionamento que construímos com o governo dos Estados Unidos", disse a presidente Claudia Sheinbaum durante sua coletiva de imprensa matinal na quinta-feira. "Claro, sempre propusemos manter o tratado, e até agora, em uma situação que não parecia que seria assim, o USMCA é reconhecido. É muito importante, e continuamos trabalhando na negociação para os outros setores", acrescentou.
Embora o país latino-americano não tenha sido afetado pelas novas tarifas, os impostos anteriormente impostos pela Casa Branca para incentivá-lo a combater a imigração ilegal e o tráfico de fentanil permanecerão em vigor: 25% sobre produtos não abrangidos pelo acordo e mais 25% sobre aço, alumínio e automóveis. "O México é um dos poucos países que tem algo a oferecer a um presidente transacional como Trump: fortalecer os controles de imigração em suas fronteiras norte e sul em troca da manutenção do livre comércio bilateral (e com o Canadá)", explicou Puricelli.
O analista indicou que Sheinbaum mostrou firmeza e obteve resultados diante da primeira ofensiva tarifária. "Isso fortaleceu o apoio doméstico à sua presidência. Em um ambiente global desafiador, o México pode ser um dos poucos países capazes de oferecer a Trump uma situação ganha-ganha, e seu presidente pode se beneficiar disso por sua vez", enfatizou.
Esta semana, Sheinbaum respondeu às tarifas que Trump já havia imposto a ela com um plano de 18 pontos para fortalecer a indústria e o investimento nacionais, promover a soberania energética e alimentar e fomentar a substituição de importações. A presidente apresentou uma versão reforçada de seu "Plano México", estratégia que lançou em janeiro com o setor privado para consolidar a economia mexicana entre as 10 maiores do mundo diante do protecionismo do magnata republicano.
O plano, que rejeita uma estratégia de retaliação como a adotada pela China, busca alcançar a soberania alimentar aumentando a produção de alimentos essenciais, como milho, feijão, arroz e leite até 2030; aumentar a produção de combustível em 30 por cento; reduzir as importações de gás; e adicionar mais de 22.000 megawatts à capacidade elétrica. Além disso, propõe acelerar obras públicas com novos projetos rodoviários e de infraestrutura social; impulsionar a indústria têxtil; e, no caso do setor automotivo, garantir que a maior parte dos veículos utilizados no México sejam fabricados no país.
A resposta do presidente pode ser complementada por medidas de outros países da região contra as novas tarifas de Trump. De fato, é um dos temas que os presidentes provavelmente abordarão nesta quarta-feira, em Honduras, na IX Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Segundo a agência de notícias AFP, eles também poderiam discutir a deportação de migrantes dos Estados Unidos ou as ameaças de Trump de recuperar o Canal do Panamá.