07 Março 2025
Cumprem-se esta segunda-feira, 24 de fevereiro, três anos sobre a invasão russa da Ucrânia e, para o líder da Igreja Grego-Católica naquele país, Sviatoslav Shevchuk, “os objetivos de Putin são claros: ele quer apagar a Ucrânia, o seu povo e a sua Igreja”. Concretamente em relação à Igreja, não restam dúvidas ao arcebispo de Kyiv: “Se a Rússia conseguir ocupar a Ucrânia, a nossa Igreja não sobreviverá. Para nós, é uma questão de vida ou morte”, alertou durante uma visita a Washington, no final da semana passada, enquanto os EUA iniciavam negociações com Putin.
A reportagem é de Clara Raimundo, publicada por 7 Margens, 24-02-2025.
“A história ensina-nos que sempre que a Rússia assume o controlo de territórios com católicos orientais, força-os a entrar na Igreja Ortodoxa Russa, leva-os ao exílio ou envia-os para campos de prisioneiros, para perecer”, sustentou Shevchuk na intervenção que fez no âmbito de uma conferência que decorreu no Instituto Hudson, em Washington DC.
O arcebispo de Kyiv recordou como, em dezembro de 2022, as autoridades russas declararam a Igreja Greco-Católica Ucraniana ilegal e proibiram as atividades da Caritas Ucrânia e dos Cavaleiros de Colombo. Shevchuk lembrou igualmente os dois padres ucranianos que sofreram “tortura brutal” ao longo de 18 meses de cativeiro russo, e que só foram libertados “graças ao esforço especial e à mediação da Santa Sé”.
No entanto, acrescentou, “pelo menos outros dez pastores protestantes estão na mesma condição e estão a ser torturados agora mesmo, neste momento. Temos que nos lembrar deles e falar em nome de sua libertação”.
Durante o painel de discussão em que interveio – e que também incluiu o arcebispo metropolitano de Filadélfia, Borys Gudziak – Shevchuk alertou ainda sobre o perigo para outras nações como a Polónia, a Geórgia ou a Arménia: “Putin quer reconstruir o Império Russo. Se a Ucrânia cair, outros serão os próximos”.
Quanto à solução para o fim da guerra, o líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana considera que é necessária “uma estratégia clara para a paz” mas salvaguardou que não pode ser uma estratégia “que apazigue ditadores”. “Buscamos uma paz justa, não um cessar-fogo temporário que permita que o agressor regresse mais forte”, sublinhou.
Também o Papa, apesar de se encontrar internado e em “estado crítico”, fez questão de renovar a sua “proximidade ao martirizado povo ucraniano”. No texto distribuído pela Sala de Imprensa da Santa Sé com a saudação que havia sido preparada para o Angelus deste domingo, Francisco escreveu: “Amanhã é o terceiro aniversário da guerra em grande escala contra a Ucrânia: um aniversário doloroso e vergonhoso para toda a humanidade!”. E convidou os fiéis “a recordar as vítimas de todos os conflitos armados e a rezar pelo dom da paz na Palestina, em Israel e em todo o Oriente Médio, em Myanmar, no Kivu e no Sudão”.
Já nesta segunda-feira, 24 de fevereiro, a secretária-geral da Anistia Internacional (AI). Agnès Callamard, defendeu que “quaisquer negociações sobre o futuro do povo da Ucrânia devem dar prioridade à justiça para todos os crimes de direito internacional cometidos desde a intervenção militar da Rússia em 2014, à responsabilização de quem os praticou e à reparação das vítimas da agressão russa”.
Para a responsável da organização de defesa dos direitos humanos, é essencial que “o sofrimento do passado, incluindo os mortíferos ataques aéreos russos contra civis e a transferência forçada de crianças para a Rússia” não seja “esquecido ou deixado sem resposta”.
A AI exige “justiça, responsabilização e reparação, bem como uma participação significativa no processo de paz” para os “civis ucranianos raptados pelos serviços de segurança russos, para os prisioneiros de guerra torturados e condenados ilegalmente, para as crianças ameaçadas por estudarem ucraniano, para os professores da Ucrânia ocupada pela Rússia sujeitos a trabalhos forçados em escolas reabertas com um currículo russo, para os tártaros da Crimeia e outras minorias que enfrentam uma repressão brutal à medida que a Rússia procura alterar a demografia dos territórios ocupados”.
A organização alerta que, caso não seja posto termo imediato às violações em curso e sem fortes garantias de justiça, “um ‘acordo de paz’ apressado apenas prolongará o seu sofrimento e assegurará a impunidade dos autores de violações hediondas dos direitos”.
E referindo-se concretamente à alegada intenção do Presidente dos EUA, Donald Trump, de “acabar com a guerra de uma forma sustentável e duradoura”, Agnès Callamard considera que “um compromisso genuíno” da sua parte “deve ser concretizado não em palavras, mas em ações”, nomeadamente através do “apoio a todas as vias possíveis para uma verdadeira justiça e responsabilização dos suspeitos de crimes de guerra e de todos os crimes ao abrigo do direito internacional”, conclui.