24 Fevereiro 2025
O artigo é de José Luis Ferrando Lada, teólogo, filósofo e escritor espanhol, publicado por Religión Digital, 23-02-2025.
Não desejo outra coisa senão que o Papa Francisco se recupere e retome, provavelmente com uma atividade reduzida, sua agenda cotidiana. E rezo por isso, embora outros, inclusive alguns de colarinho clerical, tenham colocado garrafas de cava, prosecco ou champanhe para gelar, dependendo da latitude geográfica.
Dito isso, não sabemos se será o momento, mas devemos nos preparar, pois, mais cedo ou mais tarde, a sucessão chegará. A idade e os problemas de saúde não perdoam. Sua saúde tem cobrado seu preço, embora, como afirmam aqueles que realmente estão próximos – e não os corvos –, sua lucidez e seu bom humor continuem intactos.
Sem dúvida, o Papa Francisco fez com que a Igreja Católica avançasse a passos largos em muitos aspectos; em outros, não se moveu um milímetro. Mas, provavelmente, lançou as bases para que seu possível sucessor possa aprofundar essas questões e tomar decisões mais concretas.
Ele adotou com total naturalidade um estilo de vida mais simples, fraterno e próximo das pessoas e de seus problemas. No entanto, uma de suas maiores contribuições foi todo o trabalho desenvolvido em torno da sinodalidade – uma eclesiologia nascida no Concílio Vaticano II com o conceito de Povo de Deus. Trata-se de uma compreensão da Igreja compatível com o conceito de hierarquia entendida como ministério, mas não com a demoníaca “clericalização”, um resquício medieval.
Ainda assim, a sinodalidade carece de uma maior participação das mulheres em todos os níveis. Uma reflexão lúcida e profunda, à luz dos dados teológicos, antropológicos e sociológicos como um todo, deveria nos levar a decisões concretas nesse campo. Francisco, apesar de seus esforços, ainda precisa avançar um pouco mais nessa direção.
A Igreja Católica não pode continuar perdendo oportunidades e chegando tarde a muitas das questões que hoje se apresentam com urgência. O celibato opcional aguarda um estudo lúcido e sério sobre sua viabilidade e aplicação.
Recentemente, um bispo me comentou, com certa amargura, sobre a quantidade de sacerdotes que abandonaram o ministério em sua diocese. Sempre se dizia que “a Igreja tem seus doutores”, mas ultimamente parecem todos antiquados e obsoletos, moldados pelo mesmo padrão. Esperemos uma nova primavera de teólogos seguindo as diretrizes que Francisco está traçando.
Algumas questões internas também deveriam ser seriamente consideradas: uma eleição do Papa mais universal e uma escolha dos bispos menos sigilosa; uma participação mais qualitativa dos leigos na vida eclesial em geral; um maior compromisso com os jovens, ou seja, com o presente e o futuro… Para citar apenas alguns pontos cruciais, que colocam à prova a credibilidade das intenções sinodais da Igreja Universal, Local e Paroquial. Educar os seminaristas nessas direções é absolutamente necessário e vital – e não em frequentar alfaiates romanos para tirar medidas de suas vestes talares, prática ainda muito comum em muitos seminários diocesanos durante suas passagens pela Cidade Eterna. Apesar de tudo, o balanço do Papa Francisco é muito positivo, pois despertou grande esperança na Igreja. E sua palavra é sempre muito livre, clara e contundente.
Também na área ecumênica, Francisco criou um ambiente de reconhecimento fraterno e tomou iniciativas que mostraram uma Igreja Católica mais humilde, menos impositiva e menos condenatória diante de muitas Igrejas irmãs e outras religiões. Ele está sempre em busca de pontes e possibilidades.
No que diz respeito à geopolítica internacional, a possível ausência do Papa Francisco gera uma certa inquietação diante da ascensão de lideranças perigosas e do crescimento da ultradireita em diversas partes do mundo. Francisco é uma voz que se levantou e realizou gestos proféticos justamente para chamar a atenção sobre os imigrantes, que agora são descartados e rejeitados em muitos países. Os pobres sentirão uma certa orfandade, pois o Papa é um grande defensor de sua causa.
Além disso, o planeta e o meio ambiente sofrerão ainda mais sob o impacto do capitalismo predatório, pois a ausência de Francisco pode enfraquecer essa sensibilidade que, pouco a pouco, vinha ganhando espaço na Igreja. Esses perigos não podem ser descartados nem minimizados – e muito menos neste momento.
Enquanto aguardamos sua pronta recuperação ou sua passagem para o Pai, já nos adiantamos às especulações. Um cardeal me contou que, poucos dias antes do início do conclave que elegeu Bergoglio, convidou-o para uma refeição em sua casa e concordaram em discutir os critérios de escolha, mas não os nomes. Gostaria de abordar ambos: primeiro os critérios, depois os nomes.
O primeiro critério seria que seja um Homem de Deus, que acredite nisso firmemente e de forma sincera – algo que, muitas vezes, se presume automaticamente. O segundo, que seja um Homem da Igreja, alguém que convoque, una, aqueça os corações, e não apenas um aplicador de leis canônicas e exclusões. O terceiro, que seja um Homem do Homem, que leve a sério a Encarnação e reconheça a presença de Deus nos pobres e descartados. O quarto, que seja um Homem da Terra, comprometido com a luta por um ar mais puro, uma água mais limpa e uma terra fértil, saudável e compartilhada. O quinto, que seja um Homem do seu Tempo, aberto aos sinais da época e ao Espírito Santo da História, capaz de nos conduzir ao essencial e abrir horizontes de esperança.
O que acontecerá quando os cardeais tiverem que escolher o próximo Papa? O primeiro problema que enfrentarão não será exatamente o dos critérios propostos, mas uma questão anterior, que se repete constantemente quando se estuda a história dos conclaves: a temporalidade. Em outras palavras, a idade. O dilema será: se elegermos alguém muito jovem e ele se revelar um problema, estaremos presos a essa escolha por muito tempo; se optarmos por alguém mais velho, o “prejuízo” será mais curto. Assim funcionam as “cordadas vaticanas”, termo consagrado por meu amigo José Manuel Vidal, diretor do Religión Digital.
No entanto, o conceito de “velhice” mudou, de modo geral, devido à melhoria da qualidade de vida. A questão é: qual seria o limite de idade para a escolha? Creio que os candidatos reais estarão em torno dos 75 anos, aproximadamente. Curiosamente, é aos 75 anos que os bispos apresentam sua renúncia ao Papa. Entre os 65 e os 75 anos, encontra-se um bom número de cardeais eleitores.
Normalmente, quando especulamos nomes, eles não costumam ser escolhidos, mas nunca se sabe. Vidal, em uma recente entrevista na Televisão Espanhola, disse:
"Entre os papáveis estarão Tagle, Pizzaballa, Zuppi, Aveline, Grech ou Hollerich. Ou os dois salesianos espanhóis, Ángel Fernández Artime e Cristóbal López... Em caso de um embate entre dois papáveis progressistas, poderia ter alguma chance um candidato do setor mais moderado, como o mexicano Carlos Aguiar... Poderiam ter possibilidades os salesianos Artime e Cristóbal López, ambos espanhóis, mas residentes em Roma, o primeiro, e em Rabat, o segundo."
Acredito que o momento de Tagle já passou, embora tenha se tornado muito conhecido por seus cargos e, de fato, seria um bom candidato. Quanto ao franciscano Pizzaballa, passou tempo demais na Terra Santa; sua postura sempre extremamente calculada diante do conflito israelo-palestino pode ser uma faca de dois gumes. Alguns não compreendem sua prudência excessiva diante da barbárie e se perguntam o motivo.
Entre os italianos, permito-me acrescentar Battaglia, atual arcebispo de Nápoles, e, claro, concordo com as candidaturas de Grech e Hollerich – especialmente a de Grech. No entanto, parece-me que, neste conclave, os salesianos espanhóis Artime e López ainda não terão sua vez.
Também acrescento o dominicano Vesco, que conheci em Jerusalém na École Biblique e que exerce seu ministério episcopal na Argélia. Um homem bem preparado e com uma mente muito lúcida.
De qualquer forma, já sabemos que o Espírito Santo, às vezes, se distrai na Capela Sistina e nos surpreende. Esperemos que seja uma surpresa agradável. Além disso, é sempre fácil confundir nossos desejos com a realidade.