07 Janeiro 2025
"A festa da Epifania evoca a chegada dos Magos à Gruta de Belém e, na tradição cristã, os Magos são três: os primeiros reis pagãos, se não astrólogos ou magos, que trouxeram como presentes para o recém-nascido apenas ouro, incenso e mirra. A tradição também indica seus nomes: Gaspar, Melchior e Baltasar. Eles aparecem em apenas um único relato do Evangelho, o de Mateus, e sua existência permanece um enigma histórico", escreve Fabrizio D'Esposito, professor italiano, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 06-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Era o dia de Natal de 1943, durante a Segunda Guerra Mundial. Na Catedral do Espírito Santo em Istambul, o delegado apostólico Angelo Roncalli, o futuro Papa João XXIII, denunciou o antissemitismo nazista em sua homilia, na presença do embaixador do Terceiro Reich na Turquia, Franz von Papen.
Roncalli disse: “Em Belém, as distinções começam a desaparecer: se há preferências, são para os pequenos, para os pobres, para os marginalizados: a democracia em ação, não de acordo com as pretensões raivosas dos filhos do século, mas de acordo com o bom e novo espírito que acolhe todos em uma única família, sem distinções de raça, idioma, interesses. Os pequenos braços do Menino Jesus, igualmente abertos para os pastores e os Magos, são os mesmos que, da cruz, clamam a todos pela verdadeira igualdade ou fraternidade universal”. Esse episódio da biografia de Roncalli abre um capítulo do ensaio de Antonio Musarra, que leciona História Medieval na La Sapienza, em Roma: I Magi e la Stella. Viaggio a Betlemme (Os Magos e a Estela. Viagem a Belém, em tradução livre, il Mulino, 327 pág., 30 euros).
Livro "I Magi e la Stella. Viaggio a Betlemme" de Antonio Musarra
O historiador explica então que, na antiga prática da Igreja, os pastores da Natividade designavam os judeus e os Magos representavam povos diferentes, sem qualquer discriminação. Hoje, a festa da Epifania evoca a chegada dos Magos à Gruta de Belém e, na tradição cristã, os Magos são três: os primeiros reis pagãos, se não astrólogos ou magos, que trouxeram como presentes para o recém-nascido apenas ouro, incenso e mirra. A tradição também indica seus nomes: Gaspar, Melchior e Baltasar. Eles aparecem em apenas um único relato do Evangelho, o de Mateus, e sua existência permanece um enigma histórico. De qualquer forma, a narração sobre os Magos foi enriquecida ao longo dos séculos com vários significados alegóricos: “símbolo das três ‘raças primordiais’ da terra” (dos três filhos de Noé); símbolo “dos três continentes, dos três estados do mundo (os sacerdotes, os guerreiros, os produtores), dos momentos da existência humana (juventude, maturidade, velhice)” e muito mais.
Do Evangelho de Mateus: “Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: ‘Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’”. O livro de Musarra é uma esplêndida reportagem de Belém, detalhada não apenas do ponto de vista histórico, onde realmente se tem a sensação de “estar no centro do mundo”. E ainda: “Para além das improváveis das nossas representações de presépios, o que esperamos encontrar corresponde ao que encontramos: um lugar místico, impregnado de séculos”.
A Belém palestina, cidade de Davi e depois do nascimento de Jesus: hoje tem vinte mil habitantes e se assemelha a uma cidade do sul dos anos 1950. Há menos de dez quilômetros entre a Porta de Jaffa, na Cidade Velha de Jerusalém, e a Basílica da Natividade, em Belém. E cada metro encerra séculos de história e religião: a reportagem de Musarra emociona e faz o leitor viajar.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Epifania. Os Magos chegam a Belém, símbolo cristão contra todas as “distinções de raça”. Artigo de Fabrizio D'Esposito - Instituto Humanitas Unisinos - IHU