19 Dezembro 2024
Em 2024, mais de 200 mil pessoas morreram em conflitos armados e desastres naturais. Entre as vítimas, centenas de agentes humanitários.
A reportagem é de Federico Piana, publicada por L'Osservatore Romano, 17-12-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Às vezes, até os números podem causar sofrimento. Muito sofrimento. Ao ler aqueles divulgados ontem pela Fundação para a Cooperação e o Desenvolvimento (Cesvi), nos sentimos petrificados. Primeiro, porque falam de um mundo que está cada vez mais coberto de sangue e sob o domínio de um vórtice de violências que parece não ter fim. Depois, porque por trás desses números frios estão escondidas histórias dramáticas de homens, mulheres e crianças que teriam o direito de ser lembradas uma a uma e não jogadas no caldeirão asséptico das estatísticas.
O sofrimento excruciante começa quando a organização humanitária informa que mais de 200 mil pessoas perderam suas vidas em conflitos armados ou desastres naturais nos onze meses de 2024 analisados.
Ao comparar dados de outros órgãos internacionais, o Cesvi também consegue revelar a ordem de grandeza de um tributo de sangue pouco conhecido, pouco contado: aquele dos 283 agentes humanitários que encontraram a morte este ano durante sua missão de levar apoio às populações afetadas pelas emergências. Esse número dobrou em comparação com apenas cinco anos atrás. E aqui podemos ver um paradoxo que nos aperta o coração: enquanto aqueles anjos do trabalho voluntário encontram cada vez mais dificuldades para ajudar, arriscando até mesmo suas próprias vidas, o número de pessoas no limite da sobrevivência no mundo está aumentando, chegando à beira dos 300 milhões.
A terceira guerra mundial em pedaços que está em curso, tantas vezes evocada pelo Papa Francisco, se materializa com a força dos dados quando o próprio Cesvi confirma que, de 2021 até hoje, as áreas de conflito aumentaram 65%, envolvendo um total de 6,5 milhões de km², uma área duas vezes maior que a Índia. Dos 56 conflitos armados atualmente em curso, aquele da Ucrânia é o mais cruento, com mais de 37.000 mortos, seguido pela carnificina de Gaza, onde foram registradas mais de 35.000 vítimas civis e quase 100.000 feridos. Também é alta a conta que o mundo paga pelos 100 eventos extremos registrados em 2024: milhares de mortes e 6 milhões de pessoas deslocadas. De acordo com os dados do Cesvi, é o Chifre da África que está sofrendo mais com uma seca prolongada que desencadeou carestias e deslocamentos em massa. Na Etiópia, Quênia e Somália, 23 milhões de pessoas estão vivendo uma carência alimentar sem precedentes e não têm acesso adequado à água. É verdade: até mesmo os números às vezes causam sofrimento.
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Balanços de lágrimas e sangue - Instituto Humanitas Unisinos - IHU