12 Dezembro 2024
"Já era sabido, porque em novembro de 2023, por exemplo, outra líder protestante, a pastora Annette Kurschus, presidente da Igreja Evangélica da Alemanha (EKD) e da Igreja Evangélica Regional da Vestfália, renunciou após a publicação de acusações em alguns meios de comunicação de que ela não havia denunciado muitos anos atrás um colega culpado de ter abusado de vários jovens. A pastora Kurschus, no entanto, negou qualquer conhecimento, explicando que só se demitiu para evitar mais danos à Igreja", escreve o pastor batista Luca Maria Negro, presidente da Federação das Igrejas Evangélicas na Itália (FCEI), em artigo publicado por Riforma, 11-12-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Talvez alguns pensem que o problema dos abusos sexuais na Igreja diz respeito quase que exclusivamente aos católicos, e que está de alguma forma ligado à obrigação do celibato para o clero.
Mas quando, em 12 de novembro último, o Arcebispo de Canterbury e Primaz da Comunhão Anglicana, Justin Welby, renunciou após ser acusado de acobertar um colaborador da igreja culpado de abusar de mais de cem jovens durante acampamentos de verão, ficou claro o que já se sabia, ou seja, que aquele dos abusos é um grave problema ecumênico, uma chaga que aflige todas as denominações cristãs, inclusive as igrejas nascidas da Reforma.
Já era sabido, porque em novembro de 2023, por exemplo, outra líder protestante, a pastora Annette Kurschus, presidente da Igreja Evangélica da Alemanha (EKD) e da Igreja Evangélica Regional da Vestfália, renunciou após a publicação de acusações em alguns meios de comunicação de que ela não havia denunciado muitos anos atrás um colega culpado de ter abusado de vários jovens. A pastora Kurschus, no entanto, negou qualquer conhecimento, explicando que só se demitiu para evitar mais danos à Igreja. Já cinco anos antes, em 2018, a Ekd havia iniciado uma série de medidas de proteção contra abusos e assédios sexuais, encomendando uma pesquisa independente que identificou 2.200 vítimas confirmadas de 1946 até o presente: mas, como muitos casos ainda estão sendo investigados, algumas projeções indicam que o total poderia subir para 9.000 vítimas de abusos, perpetrados por cerca de 3.500 funcionários da igreja, um terço deles pastores!
Iniciativas semelhantes à alemã foram tomadas por outras igrejas, como a Igreja Reformada Suíça e a Igreja Protestante Unida da França. Esta última decidiu recentemente apoiar um órgão inter-religioso (mas rigorosamente independente das igrejas e das outras instituições religiosas), a Comissão de Reconhecimento e Reparação, que investiga justamente sobre os abusos perpetrados em ambientes religiosos.
Voltando à renúncia do Arcebispo Welby, ele expressou em um comunicado a esperança de que sua decisão mostre “a seriedade com que a Igreja da Inglaterra entende a necessidade de uma mudança e o nosso profundo compromisso de criar uma Igreja mais segura. Ao renunciar, faço isso com pesar por todas as vítimas e sobreviventes dos abusos”. Entre as reações à renúncia, lembramos a do secretário geral do Conselho Ecumênico de Igrejas, Pastor Jerry Pillay, que elogiou a decisão do arcebispo: “Louvamos sua sabedoria em assumir a responsabilidade pessoal e institucional pelo silêncio e a incapacidade de enfrentar os hediondos abusos em menores”. Na mesma linha, vai o comentário do jornal católico francês La Croix, cujo redator-chefe, Loup Besmond de Senneville, afirmou que a decisão do arcebispo anglicano, embora tardia, é “um sinal forte e claro enviado a todos os responsáveis por instituições e líderes deste planeta”, em particular a todos os líderes religiosos, que têm a responsabilidade de “saber reconhecer seus erros e se retirar quando a situação exigir” (La Croix, 12-11-2024).
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Abusos, um problema ecumênico. Artigo de Luca Maria Negro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU