12 Dezembro 2024
A informação é José Lorenzo, publicado por Religión Digital, 10-12-2024.
Vesco, de branco, atrás de Radcliffe, também com o hábito dominicano | Foto: Religión Digital
Ele reconhece que seu contato pessoal com o Papa é praticamente inexistente, mas uma coisa não há dúvida: Francisco sabe perfeitamente quem é este advogado francês de 62 anos, que se converteu aos 33 em frade dominicano e a quem, após três anos de nomeação como arcebispo da emblemática (não pelo número, mas pelo significado) arquidiocese de Argel, foi criado cardeal no consistório do passado 7 de dezembro. Porém, se o contato pessoal é esporádico, a sintonia é grande. E, para dom Jean-Paul Vesco, "minha relação com o Santo Padre é, sobretudo, espiritual. Compartilho o projeto que ele tem para a Igreja", declara em entrevista recolhida por Catch.ch.
Não se atreva a procurar seu escudo episcopal. Não o encontrarão. "Como o beato Pierre Claverie ou como dom Teissier, ex-arcebispo de Argel, não escolhi um escudo porque para mim ele representa um signo de nobreza. No entanto, tornar-se bispo não é ingressar em uma casta superior. Meu título de nobreza é ser irmão e merecê-lo", proclama, daí que, querendo fazer-se um com o povo que pastoreia, não demorou após seu nomeação como arcebispo para se naturalizar argelino. E assim se sente, "argelino!".
"Sou francês de nascimento, mas recebi este cardinalato como argelino. Disseram-me que o Papa disse: 'Agora temos um cardeal argelino'. Assim é como deve ser interpretado. Não são apenas palavras: tenho a nacionalidade argelina. Isso é importante: este cardinalato é uma honra para muitos argelinos". E de fato foi recebido pelo presidente da República, o que é "um grande sinal de reconhecimento".
O cardeal Jean-Paul Vesco | Foto: Religión Digital
E nesse país muçulmano, que há poucas décadas viveu períodos turbulentos que levaram ao martírio, como, por exemplo, em 1996, dos monges franceses de Tibhirine, o neocardeal Vesco quer "viver uma Igreja mais sinodal e, portanto, envolver mais os leigos, apesar de que a espinha dorsal de nossa Igreja ainda está composta principalmente por religiosos, religiosas e sacerdotes".
Uma sinodalidade na qual o recente Sínodo permitiu aprofundar mais, embora, reconhece, essa forma de ser e fazer Igreja "me acompanha há muito tempo". "Para mim, uma das grandes lições deste sínodo é que condenou qualquer possibilidade de um novo concílio segundo o modelo do Vaticano II. Hoje, não se aprovaria um concílio composto apenas por bispos", afirma o cardeal dominicano, que recebeu os atributos cardeais vestido com o hábito branco dos filhos de Santo Domingo de Guzmán.
Vesco, com o hábito branco dominicano e o barrete vermelho de cardeal | Foto: Religión Digital
"A cultura da sinodalidade está se expandindo e o Sínodo sobre a Família marcou uma ruptura. Este foi o primeiro em que se fizeram perguntas aos batizados. Então as coisas se aceleraram: agora os leigos – homens e mulheres – têm o direito de votar durante um Sínodo. Percebemos que, na Igreja como no mundo, quanto mais compartilhamos responsabilidades, mais encontramos para compartilhar. Para mim, uma coisa está clara: haverá um antes e um depois do Papa Francisco. Não haverá volta atrás, independentemente de seu sucessor", observa em relação à marca deixada pelas mudanças impulsionadas por Bergoglio, como, por exemplo, a abertura da participação nos sínodos aos leigos, também mulheres, e o direito ao voto.
Diante da decepção que alguns sentiram pelo fato de que na segunda fase da assembleia sinodal se evitou o tema do papel e lugar das mulheres nas chancelas, como, por exemplo, em relação à possibilidade de serem ordenadas diáconas, isso não prejudica a confiança que Vesco tem no processo sinodal e nas portas que ele abriu.
"Não sou uma dessas pessoas que esperavam que o Sínodo tomasse uma decisão importante sobre um tema específico. Mas houve uma mudança cultural, uma mutação, como um concílio Vaticano III".
"Estando em Roma para visitar os dicastérios em visita ad limina com os bispos da minha região – confessa o dominicano –, fiquei tocado pela alma adicional que a presença de mulheres nos níveis mais altos de responsabilidade (secretária, subsecretária, chefia…) traz. A Igreja já não poderá prescindir da complementariedade entre homens e mulheres".
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Cardeal Vesco: "Haverá um antes e um depois do Papa Francisco. E não haverá marcha atrás" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU