19 Junho 2018
Agostino Marchetto, arcebispo italiano, considerado, inclusive pelo Papa Francisco, como o “grande hermeneuta do Concílio Vaticano II”, comenta a controvérsia Andrea Grillo e Massimo Borghesi, amplamente documentada aqui na página do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, em texto publicado por Il sismógrafo, 18-06-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Caro Diretor,
Como de costume peço hospitalidade no seu blog, quando considero que seja necessário, e parece-me o caso, em virtude do "diálogo" Grillo-Borghesi, que eu segui graças a vocês.
De fato, mesmo que eu não tenha sido chamado em causa, a minha vida de estudioso nos últimos trinta anos tem girado em torno do Concílio Vaticano II, como história, hermenêutica e recepção, seus três degraus fundamentais que constituem o panorama de fundo das contendas, quer se goste ou não, destes últimos 50 anos. Pois bem, acredito que a respeito eu também tenha recebido uma declaração de apreço por parte do Papa Francisco, e isso deveria, inclusive, ser levado em consideração, sem faltar com a modéstia.
Especificamente, a questão à frente da continuidade-descontinuidade, anteparo, para muitos, de uma questão verdadeiramente discriminante, é aquela da ruptura e da revolução, da "virada copernicana", como se costuma dizer, inerente ao Vaticano II. De fato, as famosas afirmações do Papa Bento sobre a correta hermenêutica conciliar, que resumem aquelas de todos os papas do Magno Sínodo e pós, incluindo o Papa Francisco, podem ser assim resumidas: não hermenêutica da ruptura na descontinuidade, mas da reforma e da renovação na continuidade do único sujeito Igreja.
Ruptura, portanto, não pode ter acontecido, não pode ter havido uma “radical descontinuidade da arrojada teologia do Papa Francisco em relação àquelas dos Papas anteriores". A única verdadeira revolução, inclusive para o Papa Francisco, é o santo Evangelho.
Na Igreja Católica existe uma "coincidentia oppositorum", expressa, como muitas vezes tenho repetido, no uso da conjunção 'e'. O gênio do Catolicismo (Cullmann) é colocar junto. Na verdade, é a minha impressão - e espero estar equivocado - que não seja desconhecido para muitos, o pensamento, o desejo, de uma mudança necessária de doutrina, bem como a adaptação pastoral que se deseja, inclusive da qual nasce a consideração de que no Vaticano II exista "um modelo Igreja pensado de maneira ainda excessivamente apologética". Afinal, o que significa "não ceder à modernidade" ou ceder a ela? Estamos com o Concílio Ecumênico Vaticano II e agradecemos a Deus e especialmente aos Papas João e Paulo, abençoados, que o deram a nós como presente!
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D. Agostino Marchetto, sobre a controvérsia entre A. Grillo-M. Borghesi: "não hermenêutica da ruptura na descontinuidade, mas da reforma e da renovação na continuidade do único sujeito Igreja" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU