04 Dezembro 2024
O presidente da Argentina garante em entrevista ao The Economist que não tem mais “inimigos”, mas sim “rivais”.
A reportagem é de Frederico Rivas Molina, publicada por El País, 29-11-2024.
Javier Milei tem “desprezo infinito” pelo Estado. Isto foi afirmado numa entrevista que concedeu ao The Economist, que o traz na capa. A publicação britânica define-o como “uma toupeira” que veio destruir o Estado por dentro, como o próprio Milei disse em declarações anteriores. Milei pensa que qualquer restrição à livre iniciativa é o caminho mais rápido “para o socialismo”, o mesmo que a economia neoclássica que orienta as políticas da maioria dos países. “Tudo o que puder fazer para eliminar a interferência do Estado, farei”, disse o presidente argentino.
Milei gosta de se apresentar como o “grande desregulamentador”. Criou um ministério especialmente para isso, que colocou nas mãos de um ex-presidente do Banco Central, Federico Sturzenegger. O jornal inglês diz que a eliminação de milhares de regulamentações que considera desnecessárias deveria ser um bom exemplo para os Estados Unidos e para o novo governo de Donald Trump, de quem Milei se declara admirador. “Todos os dias desregulamentamos e ainda temos 3.200 reformas estruturais pendentes”, disse Milei na entrevista. O argentino garante que Elon Musk, que conheceu recentemente em Mar-a-Lago, está disposto a seguir o seu exemplo como parte do futuro governo republicano.
As dificuldades da extrema-direita em aprovar leis no Congresso obrigaram-no a negociar com aqueles que considera parte da “casta”, políticos que não apoiam as suas ideias e que são frequentemente descritos pelo presidente como “ratos” ou “esquerdistas de merda”. Milei admite que, apesar de seu estilo explosivo, “aprendeu muito sobre como fazer política”. Como parte desse aprendizado, autorizou seu chefe da Casa Civil, Guillermo Francos, a negociar com deputados e senadores da oposição a aprovação de uma lei de incentivo ao investimento. Milei agora diz ao The Economist que não tem mais inimigos na política argentina, mas sim rivais que "explicitamente querem que o país tenha um desempenho ruim".
The Economist considera estas mudanças como puro pragmatismo político. E dá como exemplo a mudança de atitude de Milei em relação à China. Durante a campanha de 2023, o argentino disse que não estava disposto a “negociar com assassinos”. Agora, a China é “um parceiro fabuloso”, que “não pede nada. Ele só quer negociar com calma”, disse Milei na entrevista. O mesmo aconteceu com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem Milei repetidamente chamou de “um comunista corrupto”. “Não vou ser amigo do Lula, mas tenho uma responsabilidade institucional”, disse agora.
A publicação não poupa elogios à política de ajuste de Milei e à sua decisão de encolher o Estado. No entanto, alerta que o seu “fanatismo” pode desviá-lo do objetivo final, que é resolver a situação econômica. Questionado sobre o temor de que isso avance no sistema de freios e contrapesos da democracia na Argentina, Milei respondeu que não se desvia “nem um milímetro das regras acordadas na Constituição”. Um dos projetos que mais questiona a extrema-direita é a sua ameaça de nomear dois novos membros para o Supremo Tribunal por decreto, um deles acusado de manipular casos para beneficiar políticos e empresários amigos.
The Economist critica que Milei está “cada vez mais envolvido em guerras culturais, tal como os seus aliados no estrangeiro. Ele denuncia a ‘ideologia transgênero’, o aborto e as mudanças climáticas, que ele nega serem causadas pelo homem”. Segundo alerta publicação: “como a economia argentina continua a equilibrar-se no fio da navalha, qualquer distração é um perigo”.
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Javier Milei: “Meu desprezo pelo Estado é infinito” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU