01 Outubro 2024
O artigo é de Paola Ugaz, jornalista peruana, publicado por Religión Digital, 29-09-2024.
O historiador Carlo Maria Cipolla explicou em seu estudo irônico “Teoria da Estupidez” que, se o inteligente beneficia a si mesmo e aos outros, o bondoso prejudica a si mesmo, mas beneficia os outros; o malvado se beneficia, prejudicando os outros; o estúpido prejudica a si mesmo e aos outros.
Chamar Caccia e Blanco de estúpidos não é um insulto, mas uma descrição. O único problema deles é sua mediocridade, sua incapacidade de entender o óbvio, unida à sua soberba, marca do Sodalício. Tudo isso temperado com o vitimismo do passivo-agressivo. O coquetel de estupidez, soberba e vitimismo é explosivo.
Talvez vocês, vivendo em um país normal, tenham ficado surpresos com o último vídeo que circula nas redes: ‘Querem nos excomungar’. No entanto, para um peruano médio ou para alguém como eu, perseguida nos tribunais desde 2018, não surpreende. Apenas cansa e esgota. Se não o viram, não vejam: são dois bonecos da 'Vila Sésamo' explicando "algo" sem entender o que explicam. São dois protagonistas de 'Amo a Laura' (vejam no YouTube, entenderão muitas coisas) perdidos no espaço infinito e obscuro de seus cérebros.
Com uma paciência indescritível, escutei ‘Querem nos excomungar’. Não deixa de ser mais uma provocação. Uma tentativa de dois influenciadores estúpidos de tentar conseguir um minuto de glória, fazendo Francisco parecer um papa da Idade Média.
Os fatos questionados por esses dois personagens e a decisão de Francisco são muito fáceis de entender (não para Caccia e Blanco, ao que parece).
Em 25-07-2023, começava uma missão especial ao Sodalício enviada pelo Santo Padre. Como me disseram na época, a lista de declarantes era fechada, pois a missão duraria apenas de terça a sábado. Os dois primeiros declarantes seríamos Pedro Salinas e eu mesma, porque a missão foi lançada após minha denúncia desesperada em 10-11-2022, em uma audiência privada com o Papa, dada a impossibilidade de obter justiça no Peru para as vítimas do Sodalício.
Durante o interrogatório que me fez D. Scicluna, após o que foi feito a Pedro, sempre separadamente, soube que no dia anterior houve dois declarantes extras, que não estavam nos planos da missão especial, acolhidos por Bertomeu com grande generosidade. Eles se apresentaram como supostas vítimas de ex-sodalícios.
A afirmação que ela havia feito (naquele momento, eu não sabia que era Caccia) não era verdade, disse a D. Scicluna. Era falso que aquela fosse vítima de José Enrique Escardó e Martín Scheuch. Expliquei a Scicluna que, nas duas décadas anteriores, muitas pessoas no Twitter haviam revitimizado Scheuch e Escardó, negando-lhes sua condição de vítimas. O típico dos debates nas redes: polemizar até o infinito, falar do que não se sabe, ameaçar com ações legais depois de provocar o outro, etc.
Nunca me deram o nome da "influenciadora" em questão, mas fiquei curiosa.
Comentei com Pedro. E ele respondeu: “um ‘imbecil’ (foi assim que Pedro disse, com sua habitual linguagem comedida) havia afirmado que o conteúdo de ‘Metade monges, metade soldados’ e ‘Sem notícias de Deus’ era falso”. Pedro estava indignado por ter que provar o contrário à comissão. Eu, por outro lado, fiquei feliz em saber que pelo menos o declarante havia lido nossos livros. Confesso que fiquei duplamente curiosa em saber quem eram esses dois.
Naqueles dias, os fotógrafos posicionados em frente à Nunciatura nos enviavam imagens e vídeos para identificar quem estava entrando. Lembro-me perfeitamente da perseguição a Jaime Baertl como se fosse Paris Hilton chegando à estreia de “Gladiador”. Em uma das fotos, na segunda-feira à tarde, um ex-sodalício reconheceu Caccia e Blanco.
Nunca D. Scicluna nem D. Bertomeu revelaram a identidade de Giuliana Caccia e Sebastián Blanco. Nunca D. Scicluna violou qualquer confidencialidade, nem mesmo por cumplicidade com Bertomeu. É pura difamação dizer que “violaram o direito à privacidade” e o “segredo pontifício”, que, por sinal, é outra coisa, diferente do afirmado por Percy García Cavero, representante e porta-voz de algumas empresas vinculadas ao Sodalício.
Que não nos vendam gato por lebre nessa falsa polêmica. O memorável artigo de Raúl Tola em “La República”, de 28-07-2023, intitulado “Comando de elite”, sublinhou precisamente a tentativa de Caccia e Blanco de deturpar mais uma vez a triste história de abusos do Sodalício. A inteligente pergunta de Bertomeu àquele homem - que agora sabemos ser Blanco - de se ele confiaria seus filhos recém-saídos da adolescência a um centro como o de San Bartolo, só teve como resposta um silêncio constrangedor. O mesmo silêncio culposo que vemos agora na atual cúpula do Sodalício.
Bertomeu e Scicluna apenas cumpriram seu dever, o que lhes foi imposto pelo Papa Francisco: com discrição, prudência e respeito pela boa reputação de todos, esclarecer de uma vez por todas a verdade. E em particular, digo eu, descobrir as múltiplas mentiras do Sodalício.
Se denunciar Scicluna já é algo gravíssimo, denunciar Bertomeu é totalmente injusto. Caccia e Blanco, em sua mediocridade, ainda não entendem que aquilo não era uma conversa de buteco e menos ainda um tribunal adicional contra os sobreviventes.
A ‘Missão especial Scicluna-Bertomeu’ é coisa séria e deve ser protegida. Fico feliz com a iniciativa dos sobreviventes, “Petrus vincit”, que convido todos a apoiar (link).
A missão, a "especial" e não a delinquente "Parque do Lembrança", é uma investigação, a definitiva, para esclarecer de uma vez por todas o que é duvidoso ou falso. Foi feita de maneira séria e rigorosa, dou fé, e com uma empatia requintada para com as vítimas. Como fazemos nós, jornalistas sérios, verificando e verificando até chegar à verdade.
Agora soubemos que, desde o primeiro momento, com cartas notariais, tentou-se desacreditar Bertomeu. Esse primeiro intento e os que se seguiram, ele teve que sofrer em silêncio e com firmeza por todo um ano, e os sobreviventes do Sodalício lhe somos gratos por sua firmeza.
Soubemos através desses dois que ele deu uma primeira explicação imediata, via WhatsApp: nem ele nem Scicluna haviam revelado o nome dos declarantes e, em todo caso, pediram que perguntassem aos jornalistas que assediavam a Nunciatura naqueles dias.
Não me surpreende o que vem de Caccia e Blanco. Se não fosse pela raiva que me provoca, pois eu mesma sofri - durante anos - denúncias absurdas, ameaças, assédio à minha família e amigos.
Em vez disso, impressiona agora a desfaçatez e a estupidez do Sodalício ao usar com os dois enviados do Papa, protegidos pela imunidade diplomática, os mesmos métodos que por anos têm utilizado contra os sobreviventes do Sodalício e suas famílias, contra jornalistas, contra os camponeses de Piura. É constrangedor.
Essa tentativa estúpida de desacreditar D. Bertomeu é criminosa, mas, sobretudo, inútil, pois deve-se dizer a Caccia e Blanco que, após esse minuto de glória, a história os colocará no lugar que merecem.
Que não sejam enganados, Caccia, Blanco e Garcia Cavero inventam ataques inexistentes na mídia contra eles, mas não são vítimas, são agressores e merecem a resposta contundente do papa.
Estão difamando D. Bertomeu, não usando “seu direito à controvérsia”. Não é como dizem, uma “simples ofensa” em uma polêmica: é pura e dura difamação. Para quem não sabe, no Peru as ações judiciais não são usadas para chegar à verdade, mas para destruir a boa reputação do adversário. Multiplicar por zero é a consigna.
Entre muitas falsidades, Caccia e Blanco afirmam que nunca entraram em contato com a imprensa. É falso. Minha amiga, a jornalista Elise Harris, me ligou no último 20 de setembro para verificar esses mesmos fatos, pois também ela havia recebido uma carta ameaçadora pedindo uma retratação que não podia oferecer, porque a verdade é outra.
Também afirmam ter recebido uma condenação. É falso. Investiguei e um preceito penal não é uma sentença. É um último e extremo recurso para que alguém se converta.
Caccia e Blanco têm 48 horas para retirar uma denúncia descabida, para pedir desculpas a D. Bertomeu, alvo de difamação, e para se retratarem no Crux, e agora perante a opinião pública mundial. O que eles não sabem é que, se se apegarem à sua soberba e estupidez quando o prazo expirar, então sim, serão excomungados.
Minha querida amiga Rosa María Palacios, em sua bondade, está preocupada que eles fiquem sem receber os sacramentos: quando raciocinarem e se arrependerem, a excomunhão será imediatamente suspensa, mas eles terão que provar o arrependimento e cumprir, como geralmente se faz nesses casos, com uma penitência significativa. No entanto, a medida não é desproporcional.
Que não nos manipulem mais uma vez. Esse comportamento faz parte do DNA do Sodalício. Estão tentando obstruir a justiça canônica, mas não vão conseguir. Além disso, se tudo correr bem, culminará com a supressão do Sodalício. Se para chegar ao fim do processo for necessário declarar uma excomunhão, bendita seja essa decisão.
Os sobreviventes do Sodalício estão esperando por justiça desde o ano 2000. Se quiserem ver um bom vídeo, voltem ao memorável programa de Cecilia Valenzuela, Entrelíneas, de 2001, entrevistando José Enrique Escardó e Jorge Bruce, junto com um reportagem de Diego Fernández Stoll, que falava dos pais cujos filhos foram roubados pelo Sodalício, como Héctor Guillén, pai de Franz, e Eduardo Alt, pai de Axel.
O historiador econômico Carlo Cipolla, em “Allegro ma non troppo”, dissecou a estupidez humana. Como exemplo exímio, se os tivesse conhecido, teria registrado o Sodalício, pedindo a dissolução e os bonecos de ‘Vila Sésamo’ do vídeo, vivendo seu minuto de glória.
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Eles (Sodalício) querem nos estupidificar. Artigo de Paola Ugaz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU