03 Setembro 2024
"Desde os primórdios da humanidade, quantos foram os períodos em que a humanidade viveu em completa paz? São exceções."
O artigo é de Edelberto Behs, jornalista.
Elizabeth Spehar, secretária-geral assistente para o Apoio à Consolidação da Paz, da ONU, lamentou que as contribuições dos Estados para a prevenção de conflitos e os investimentos pela paz chegaram ao valor mais baixo em 15 anos, enquanto os custos da violência, em 2023, atingiram quase 20 trilhões de dólares, ou 13,5% do Produto Interno Bruto mundial, uma cifra que só cresce.
Nos últimos 100 anos o planeta vivenciou duas Guerras Mundiais. Além da guerra da Ucrânia, a Guerra em Gaza, com grande cobertura da imprensa. Mas outros sete conflitos armados em grande escala estão em curso em Burkina Faso, Iêmen, Mianmar, Nigéria, Síria, Somália e Sudão. Desde os primórdios da humanidade, quantos foram os períodos em que a humanidade viveu em completa paz? São exceções!
Desde “A Arte da Guerra”, escrito pelo militar chinês Sun Tzu por volta de 500 a.C., passando pelo “Da Guerra”, do militar prussiano Carl von Clausewitz (1790-1831), estratégias, tanques, aviões, até mesmo uniformes experimentaram e continuam sofrendo evolução, até atingir, atualmente, o estágio das tecnologias que usam a IA nas armas autônomas letais, os tais robôs assassinos. A guerra tem sido o maior “investimento” da humanidade, ou melhor, dos “senhores da guerra”.
A guerra exige produção de armas e reforça o lucro da indústria bélica. Não importam vidas que se vão, nem ideologia. No livro “Cabeça de Turco”, o jornalista alemão Günter Wallraff, que se passou por um trabalhador turco para denunciar as condições insalubres, desumanas e de baixa renda que esses imigrantes estavam submisssos, em comparação com trabalhadores nacionais.
Walraff relata que na I Guerra Mundial, o truste Krupp, da Alemanha, forneceu peças para as granadas inglesas, que traziam gravadas as iniciais “KPZ” (Krupp-Patent-Zeitzünder: detonador patenteado pela Krupp). “Graças à guerra, Krupp pôde dobrar sua fortuna. Graças aos soldados ingleses e alemães que tombaram mortos. Para cada soldado alemão que morria, Krupp cobrava 60 marcos de royalties do fabricante de armas britânico Vickers. Quando a Alemanha foi derrotada, Krupp estava 400 milhões de marcos-ouro mais rico”.
Então qual a surpresa no dado divulgado de que os investimentos voltados à violência crescem ano a ano? Após a II Grande Guerra, acordo ratificado por 196 países em 1949 procura dar um verniz humanista à guerra com a Convenção de Genebra. O texto reza que prisioneiros de guerra, civis, enfermeiros/as, soldados feridos sejam protegidos e tratados dignamente.
As novas armas “desarmaram” a Convenção de Genebra. Mirem Gaza e a Ucrânia e vejam se esses cuidados são observados.
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Convenção de Genebra é letra morta nos conflitos bélicos do século XXI. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU