16 Agosto 2024
"A imprensa ligada ao Hezbollah o acolheu com tons violentos, chamando-o de 'coronel israelense'. Mas ele ainda é o mediador com o qual as fronteiras marítimas com Israel foram definidas e, portanto, as conversações irão acontecer. Sobre a mesa, haverá a definição das fronteiras terrestres entre os dois países, como pede o Hezbollah, e a retirada dos milicianos do Hezbollah a 40 quilômetros da fronteira, como pede uma resolução da ONU (1701) que Israel exige que seja respeitada", escreve Riccardo Cristiano, jornalista, em artigo publicado por Settimana News, 14-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Irã apostaria agora em uma tentativa de cessar-fogo em Gaza? Essa indicação não oficial é corroborada por algumas fontes militares iranianas reconhecidas: “Só desistiremos da vingança pelo assassinato do líder do Hamas em Teerã se Israel finalmente assinar o cessar-fogo em Gaza”. Essa abertura, negada por outros, parece ser corroborada pelo recuo parcial do Hamas, este também desmentido por outras fontes do Hamas, que, depois de dizer que não iria às negociações de 15 de agosto, agora afirmaria que estará lá se Israel suspender sua agressão em Gaza.
Assim, pode-se entender por que hoje, 14 de agosto, o mediador estadunidense Amos Hochstein retorne a Beirute após uma escala em Israel, enquanto o Secretário de Estado Blinken adia sua viagem devido à incerteza na região.
Há, no entanto, um trabalho diplomático problemático em várias frentes que, devido ao momento, pelo menos parece descartar ataques iminentes: é difícil que o Hezbollah ataque Israel justamente quando o enviado de Biden estará na cidade.
A imprensa ligada ao Hezbollah o acolheu com tons violentos, chamando-o de “coronel israelense”. Mas ele ainda é o mediador com o qual as fronteiras marítimas com Israel foram definidas e, portanto, as conversações irão acontecer. Sobre a mesa, haverá a definição das fronteiras terrestres entre os dois países, como pede o Hezbollah, e a retirada dos milicianos do Hezbollah a 40 quilômetros da fronteira, como pede uma resolução da ONU (1701) que Israel exige que seja respeitada.
Então, uma janela de negociação está se entreabrindo? É difícil dizer. É preciso examinar até mesmo as agitadíssimas águas de Israel para saber. O ministro de extrema direita Ben-Gvir achou por bem retornar à Esplanada das Mesquitas pela terceira vez, reiterando que seu objetivo é que todo judeu possa fazer isso. Esse gesto é como um dedo no olho das negociações, dada a importância da mesquita de Al Aqsa para todo o Islã, um palheiro a poucos passos do incêndio que há meses assola o Oriente Médio. Netanyahu negou, mas como há fotos dos acompanhantes do ministro concentrados em oração (o que é proibido pelas regras em vigor), teve que admitir que houve uma violação do status quo vigente nos locais sagrados, e, portanto, reiterar que essa não é a escolha do Estado de Israel.
Desta vez, no entanto, houve uma condenação conjunta da ação de Ben-Gvir pelo Catar e pela Arábia Saudita: em um momento como esse, não fazer isso seria como deixar a mesquita para o Irã. O Departamento de Estado dos EUA também interveio para repreender o ministro israelense (assim como os EUA, muitos outros se manifestaram, a começar pela Europa, Jordânia, Egito, França e Nações Unidas).
A força da provocação em um momento como esse é evidente: isso é demonstrado pelo fato de que até mesmo o Ministro de Assuntos Religiosos se desassociou, e alguns parlamentares observantes declararam que agora terão que perguntar a seus rabinos se podem continuar sendo parceiros de governo de Ben-Gvir.
Quanto mais se aproxima um possível cessar-fogo, mais surgem diferenças internas no governo israelense, lançando dúvidas sobre sua resistência, como confirma a crescente polêmica entre o primeiro-ministro e o ministro da defesa Yoav Gallant.
Nas mesmas horas, um míssil do Hamas foi disparado de Gaza, depois de tanto tempo, contra Tel Aviv, indo parar no mar, demonstrando várias coisas: a organização militar do Hamas não foi desmantelada, o inimigo ainda está lá, tanto que, de todas as forças do famoso eixo da resistência pró-Irã, quem dispara contra as cidades israelenses não é o Irã, os Houtis, o Hezbollah, mas o Hamas.
E talvez a provocação de Ben-Gvir tenha algo a ver com a escolha do momento da ação. O que o exército israelense fará em Gaza nas próximas horas? É imaginável uma “contenção”, como pede o Hamas? Parece muito improvável, especialmente considerando a natureza e o caráter das ações israelenses nos últimos dias e a pesada ação miliciana do Hamas.
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Oriente Médio: véspera da paz ou da guerra? Artigo de Riccardo Cristiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU