13 Agosto 2024
"Nestes dias que recordam as tragédias de Hiroshima e Nagasaki, e enquanto paira no horizonte mais uma vez o eco sinistro de um conflito nuclear, evocado, mesmo que nem por todos (em palavras) exorcizado, precisamos de figuras institucionais que empunhem resolutamente a arma do diálogo, mas junto com elas precisamos de testemunhas que, como Takashi Nagai, 'o santo de Urakami', mostrem ao mundo o poder da revolução inaugurada por Cristo e que trouxe uma semente de novidade para a história dos homens: a semente do amor", escreve Giorgio Paolucci, jornalista e escritor, em artigo publicado por Avvenire, 09-08-2024.
"É isso que os habitantes de Urakami, que choram prostrados nas cinzas, pedem a Deus: que sua cidade seja a última do mundo a se tornar um deserto pela bomba atômica. Clamam a todos os homens: 'Não façam mais guerras! Vamos seguir a lei suprema de Deus, vamos nos amar uns aos outros! Permaneçamos unidos, trabalhemos juntos para o bem de toda a humanidade'".
Com essas palavras, conclui-se o livro Os Sinos de Nagasaki, um diário da alma escrito por Takashi Paulo Nagai, um médico radiologista que testemunhou a explosão que, em 9 de agosto de 1945, semeou terror, destruição e morte (80.000 em cinco meses) três dias após o evento semelhante de Hiroshima. Urakami é o bairro que foi o epicentro da explosão, e foi lá que Takashi Nagai passou os últimos anos de sua vida marcada pela leucemia contraída como resultado das radiações à qual sua profissão o expôs.
Na explosão, ele perdeu amigos e colegas e, acima de tudo, sua amada esposa Midori, graças à qual tinha conhecido e depois abraçado a fé cristã. Quando ele foi procurá-la no local onde moravam, tudo o que encontrou foi uma pilha de ossos, fragmentos da pélvis e da coluna vertebral e, ao lado, as contas do rosário que ela tinha nas mãos: sinal de uma fé profundamente enraizada, herdada da tradição dos "cristãos ocultos" que, por duzentos e cinquenta anos, tinham transmitido de pai para filho o Tesouro de sua existência, vivendo escondidos para escapar das perseguições das autoridades japonesas.
É aquele Tesouro que permite a Takashi Nagai enfrentar a tragédia da bomba atômica com um olhar cheio de esperança invencível e testemunhá-la até sua morte (1951) a seus concidadãos prostrados sob o peso da devastação atômica. Ao longo dos anos, ele se torna um ponto de referência para o renascimento espiritual e material de Nagasaki - a cidade japonesa que, mais do que qualquer outra, havia se aberto ao cristianismo, tanto que foi chamada de "a Roma do Oriente" -, animando inúmeras iniciativas de reconstrução e dando vida a um movimento pela paz fundado na mudança da pessoa, que ele acreditava ser o verdadeiro antídoto para a recorrência de tragédias semelhantes. Pois é do coração do homem que nasce a guerra, e somente a partir de uma mudança do coração é possível tornar-se um pacificador. Quando suas forças residuais o abandonam, Takashi Nagai, para quem foi iniciada a causa de beatificação, se retira para Urakami em meio aos escombros do bairro destruído.
Junto com seus dois filhos pequenos vive no Nyokodo ("o lugar do amor por si mesmos"), uma pequena cabana onde passa seus dias acamado, rezando e escrevendo, um lugar que se torna o destino de uma peregrinação incessante de pessoas desejosas para encontrá-lo e aprender como a esperança pode ser cultivada diante de uma vida ferida e da morte iminente, encontrando alimento naquele Tesouro que ele descobriu em seu encontro com o cristianismo. Porque quando tudo ao redor desmorona - como aconteceu naquele 9 de agosto em Nagasaki - só se pode continuar a viver agarrando-se "àquilo que nunca morre", como diz o título de seu livro mais famoso.
Nestes dias que recordam as tragédias de Hiroshima e Nagasaki, e enquanto paira no horizonte mais uma vez o eco sinistro de um conflito nuclear, evocado, mesmo que nem por todos (em palavras) exorcizado, precisamos de figuras institucionais que empunhem resolutamente a arma do diálogo, mas junto com elas precisamos de testemunhas que, como Takashi Nagai, "o santo de Urakami", mostrem ao mundo o poder da revolução inaugurada por Cristo e que trouxe uma semente de novidade para a história dos homens: a semente do amor.
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O tesouro da esperança. Para além da tragédia de Nagasaki. Artigo de Giorgio Paolucci - Instituto Humanitas Unisinos - IHU