22 Julho 2024
"Nesse festim de armamentos e gastos absurdos, insere-se uma novidade particularmente alarmante: a decisão de implantar, a partir de 2026, mísseis nucleares de alcance intermediário na Alemanha, em especial os mísseis Tomahawk e as novas armas hipersônicas. Essa é a verdadeira novidade da cúpula de Washington, escondida nas linhas dos jornais e ignorada por todos os comentaristas: os Euromísseis estão de volta".
O artigo é de Domenico Gallo, juiz italiano e conselheiro da Suprema Corte de Cassação da Itália, publicado por Fatto Quotidiano 17-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na cúpula de Washington que comemorou o 75º aniversário da OTAN em tons triunfalistas, não emergiram novidades em relação às orientações estratégicas já tomadas em Madri (2022) e Vilnius (2023), mas foi dado um notável "passo à frente" na construção de um sistema sólido de guerra do Ocidente com o resto do mundo. No que diz respeito à assistência militar à Ucrânia, tendo agora ultrapassado todas as linhas vermelhas, foi anunciado o fornecimento de todos os tipos de armas ofensivas com a capacidade de atacar em profundidade o território da Rússia. O objetivo dos suprimentos e do treinamento militar da OTAN é permitir que a Ucrânia construa "uma força capaz de derrotar a agressão russa". Como esse objetivo não está ao alcance, o projeto é continuar a guerra por tempo indeterminado. Além disso, não há nenhuma visão de paz a ser alcançada no documento final: a paz simplesmente não está prevista.
O que causou certa perplexidade em parte da mídia foi o programa de rearmamento maciço decidido em Washington por causa dos custos para os Aliados e, em particular, para a Itália. Prontos para a corrida armamentista, a cúpula de Washington foi direta ao ponto, declarando: "Acolhemos favoravelmente o fato de que mais de dois terços dos aliados tenham respeitado seu compromisso de pelo menos dois por cento do PIB anual em gastos com a defesa e elogiamos os aliados que o ultrapassaram. Os aliados estão progredindo: os gastos com a defesa dos aliados europeus e do Canadá cresceram 18% em 2024, o maior aumento das últimas décadas." Nesse festim de armamentos e gastos absurdos, insere-se uma novidade particularmente alarmante: a decisão de implantar, a partir de 2026, mísseis nucleares de alcance intermediário na Alemanha, em especial os mísseis Tomahawk e as novas armas hipersônicas. Essa é a verdadeira novidade da cúpula de Washington, escondida nas linhas dos jornais e ignorada por todos os comentaristas: os Euromísseis estão de volta.
Esse cenário nos traz à memória os anos mais sombrios da Guerra Fria, quando o mundo vivia constantemente sob a ameaça de um holocausto atômico. Aqueles que têm os cabelos brancos se lembram que, há quarenta anos, houve uma forte mobilização em toda a Europa contra a implantação dos euromísseis, especialmente na Itália e na Alemanha. Essa mobilização foi bem-sucedida graças à decisão de Gorbachev de evitar a reciprocidade violenta da corrida armamentista. Isso levou ao Tratado para a Eliminação de Mísseis Nucleares de Alcance Intermediário (INF), assinado em 8 de dezembro de 1987. O Tratado representou um marco na história do controle de armas nucleares, marcando um passo decisivo em direção a um mundo mais seguro. Em 2018,
Trump se retirou do Tratado INF; agora a perspectiva foi completamente invertida, a OTAN está se preparando para instalar justamente aquelas armas que foram proibidas pelo Tratado. No entanto, há uma diferença fundamental que torna as armas modernas muito mais perigosas: os mísseis hipersônicos. Os mísseis hipersônicos - com velocidades superiores a cinco vezes a velocidade do som (Mach 5) - representam um "salto de qualidade" na corrida armamentista. Os mísseis hipersônicos nucleares de alcance intermediário, que já têm capacidade de voar a cerca de 10.000 km/h, poderão chegar a Moscou em cerca de dez minutos. Dado os tempos extremamente curtos que essas armas levam para atacar, a resposta ao seu uso só poderá ser confiada à inteligência artificial.
No caso de um acidente ou erro humano, não poderemos contar com um novo Coronel Petrov para nos salvar. Vale a pena lembrar que na noite de 26 de setembro de 1983, em uma das fases mais quentes da "guerra fria", o mundo correu o risco de um holocausto em decorrência de uma guerra nuclear que iniciaria por engano. Naquela noite, de fato, os sistemas de detecção de satélites da União Soviética sinalizaram o lançamento de cinco mísseis em direção ao território da Rússia. O Coronel Petrov deveria relatar o ataque e ativar a resposta que previa o lançamento de um contra-ataque nuclear maciço. O pobre Petrov ficou suando frio, mas não alertou seus superiores. Ele queria ter certeza de que o ataque estava realmente em curso. Foi a meia hora mais dramática que se possa imaginar na vida de um homem.
Mas a sua resistência humana nos salvou. Depois de um número interminável de minutos, o sinal desapareceu. Tinha sido um alarme falso devido a extraordinários fatores geoclimáticos. Se em 1983 a humanidade foi salva pelo fator humano, com a implantação dos mísseis hipersônicos o fator humano será banido, a resposta será confiada à inteligência artificial, que não tem coração nem compaixão.
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Os euromísseis estão de volta: desta vez são hipersônicos. Artigo de Domenico Gallo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU