11 Julho 2024
Uma era realmente terminou: os países europeus da OTAN foram forçados a um despertar abrupto e inevitável após uma letargia que durou quase trinta anos. Desde 2014, desde o golpe russo na Crimeia e das pressões dos governos Obama e Trump, até a guerra de 2022 nas marcas de fronteira do oriente europeu, foi uma valsa de três tempos, na qual os gastos militares continentais explodiram, de 1,47% da riqueza total em 2014 para 2% este ano. Houve um enorme gasto de dinheiro público, mais de 600 bilhões de dólares, incluindo também o Canadá, que geralmente é parcimonioso (1,7% do PIB).
A reportagem é de Francesco Palmas, publicada por Avvenire, 10-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma transferência de riqueza que restabeleceu o equilíbrio do ônus com os EUA. Se os números não mentirem, não há mais aproveitadores a bordo, mas aliados europeus dos Estados Unidos que arcam com 36% da segurança coletiva, fornecendo sempre tropas (e parte de seus valiosos arranjos) para as operações de coalizão. Os 18 países além dos EUA que atingirão o fatídico patamar de 2% do PIB este ano fazem empalidecer os números de 2014, quando apenas três atingiam a mesma cota. Isso representa um aumento de seis vezes em uma década e ainda não acabou porque os aliados europeus da OTAN desviarão US$ 380 bilhões para seus exércitos este ano, sendo 2% mais um ponto de partida que de chegada.
É tudo uma questão de prioridades revolucionadas e instrumentos em evolução: a era das operações fora de área acabou e voltamos às origens do Pacto Atlântico, com ênfase na defesa territorial e nas forças aéreo-terrestres, diante de uma Rússia que mudou de ritmo e está investindo 6% de sua riqueza em armas este ano. Em quase todos os lugares, fala-se de uma economia de guerra e, no Velho Continente, não faltam países que, proporcionalmente à sua riqueza nacional, gastam mais do que os Estados Unidos. Um nome acima de todos: Polônia, cujo gasto militar aumentou 75% desde a Crimeia até hoje e cujo orçamento para 2024 é de US$ 29,8 bilhões ou, se preferir, 4,2% do PIB. Os 210 quilômetros de fronteira comum com o ex-enclave russo de Kaliningrado estão se tornando um dos limes mais militarizados da Europa. O Camp Kosciuszko, em Poznan, é a primeira guarnição estadunidense na Polônia, com 10.000 homens, a oitava na Europa, de acordo com dados do ex-coronel Eric Carrey. É a sede do comando das forças terrestres do Quinto Corpo estadunidense, que está lá desde 2020 e é encarregado por muitas coisas: duas delas, acima de tudo, coordenar as operações e garantir a sinergia com as forças da OTAN no flanco oriental.
Até mesmo a Alemanha, até ontem uma potência mercantil, está redescobrindo os discursos de guerra, a estratégia dos meios e gasta: 100 bilhões de euros da Zeitenwende, o fundo criado pelo chanceler Olaf Scholz para tapar os vazamentos de uma força armada em dificuldades, um mal comum a muitos exércitos europeus. O ministro da Defesa teutônico, Boris Pistorius, não se esconde: disse há algum tempo que esperava uma guerra dentro de cinco a oito anos e já lançou o debate sobre o alistamento obrigatório, ventilando a hipótese de recrutar também estrangeiros para o exército, porque as guerras convencionais exigem enormes massas humanas e materiais, como se vê na Ucrânia. A decisão alemã seria uma maneira de preencher carências de pessoal tão graves que o semanário Spiegel avalia em 75 mil homens.
Berlim já está se organizando: colocará 2% do PIB em gastos com armas no próximo ano e pretende investir de 70 a 80 bilhões de euros por ano no futuro somente para as forças armadas, a fim de ter uma Bundeswehr "poderosa, ultramoderna e na vanguarda do progresso". Será preciso também "alimentar" a brigada pesada que estará pronta em 2027 e que começou a se projetar na Lituânia, um país onde o serviço militar obrigatório voltou em 2015 e onde 3% do PIB é destinado à defesa, um valor superado até mesmo pela Romênia, outro país fronteiriço, cujos gastos militares aumentaram 53,3% no último ano e cujos planos para 2025-2029 preveem investimentos militares de 46,3 bilhões de dólares.
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Após 30 anos, recomeça a corrida armamentista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU