04 Junho 2024
"A União dos Superiores Gerais, reunida em Assis, relembrou o caminho percorrido até agora. Não foi apenas uma ocasião para recordar e contar uma história gloriosa, mas uma oportunidade para olhar para o futuro. O fato de se reunir em Assis, evocando São Francisco e sua família, ajuda a perceber que tudo tem um sabor evangélico. É um lugar onde se sente o convite ao exemplo fiel da sequência de Jesus e a reviver a minoridade, a bondade, a simplicidade e a pobreza", escreve Rinaldo Paganelli, padre dehoniano, doutor em Catequese e Pastoral Juvenil pela Universidade Pontifícia Salesiana de Roma, publicada por Settimana News, 02-06-2024.
Partindo da memória, o cardeal Aquilino Bocos Merino ofereceu uma contribuição articulada para entender o significado da USG, cujo sucesso foi ser um sinal de esperança na Igreja peregrina. Ela nunca se deixou levar pela uniformidade. A variedade dos carismas enriquece e vivifica a União, que sempre defendeu a identidade carismática dos Institutos membros e suas peculiaridades.
Por várias razões, no século XIX houve iniciativas isoladas para criar entidades corporativas de institutos religiosos. O Congresso dos estados de perfeição, realizado em Roma em 1950, lançou as bases necessárias para realizar esse tipo de instituições.
A USG nasceu pouco depois, em 1952, promovida pelos Padres Gerais dos capuchinhos, dos jesuítas e dos franciscanos menores. Foi prontamente reconhecida pela Santa Sé. O que se deve apreciar nessa primeira tentativa é a rica sensibilidade eclesial.
Após três anos de existência um pouco incerta, mas sempre comprometida, a organização foi oficialmente reconhecida pela Congregação dos Religiosos, em março de 1955, com o título de União Romana dos Superiores Gerais. Em 1962, o Estatuto foi aprovado. Em 1967, o nome da União foi alterado, eliminando o adjetivo “romana”.
Lendo a história do Concílio e os comentários aos textos conciliares, é fácil notar que, frequentemente, se faz referência aos religiosos, tanto nas comissões de especialistas quanto nas sessões de estudo. Além disso, entre os Padres conciliares, havia 129 Superiores Gerais cujos institutos superavam os 3.000 membros. Falando dos protagonistas do Vaticano II, um estudioso indicou, entre as 100 figuras mais prestigiadas do Concílio, 24 religiosos.
É verdade que, segundo os estatutos, não era a USG em si que agia no Concílio, mas participavam membros de destaque da USG e membros de institutos integrados na USG. Além dos renomados superiores gerais, houve uma constelação de teólogos religiosos que atuaram como especialistas, entre os quais vale a pena lembrar Congar, Browne, Balic, Betti, De Lubac, Rahner, Chenu, Tillard, Häring, Schillebeeck.
Na última revisão dos Estatutos – 1990 – a USG incentiva a vida e a missão de cada instituto a serviço da Igreja para uma colaboração recíproca mais eficaz e um contato mais frutífero com a Santa Sé e com a hierarquia.
Outras relações são importantes e frutíferas, entre as quais destacamos: o Dicastério para a Vida Consagrada e o Dicastério para a Evangelização dos Povos; as relações com a Secretaria do Sínodo e a participação dos membros da USG nos mesmos Sínodos; as relações com a UISG (União Internacional das Superioras Gerais), com a CLAR, com a UCESM, com as confederações e federações nacionais. Não se pode esquecer a relação e a participação nas conferências episcopais continentais.
As 100 Assembleias foram ocasiões para sensibilizar sobre a crise e os desafios eclesiais, culturais e sociais que os Institutos enfrentaram. Apostar na comunhão preparou o terreno para a criatividade. As grandes propostas para o futuro, os projetos mais brilhantes, geralmente nascem do intercâmbio de pessoas que pensam e olham para o futuro juntas. O padre Teilhard de Chardin dizia: "Não há força no universo que seja capaz de resistir à ação coerente e coordenada de um grupo suficiente de cérebros funcionando de maneira convergente em direção a um objetivo determinado".
Foi animado e construtivo o encontro com a irmã Simona Brambilla, secretária do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades d Vida Apostólica.
Não faltaram as solicitações para um caminho mais ágil com o Dicastério. Os superiores gerais notaram como, às vezes, são difíceis as relações entre a USG e o Dicastério. Isso, naturalmente, depende muito das pessoas que operam ali. Mas também é verdade que as respostas do Dicastério às vezes demoram. Alguém declarou ter uma confiança abalada em relação ao Dicastério, pela sensação desagradável, amadurecida ao longo do tempo, de estar lidando com uma contraparte. Às vezes, tomam-se conhecimento de decisões sem ter sido previamente informados sobre o que está sendo relatado aos sujeitos interessados. Dificuldades e incertezas também são encontradas na identificação de percursos adequados para lidar com os problemas dos “novos institutos”. O tema das “relações mútuas” continua atual.
De forma positiva, questionava-se o que pode ser feito juntos para promover o futuro da vida consagrada na Igreja sinodal desejada pelo Papa Francisco. Como elaborar um programa de ação e reflexão sem se limitar ao nível do tsunami, que as dificuldades às vezes parecem gerar, para voar mais alto.
A irmã Simona Brambilla ressaltou que está tomando as medidas de uma realidade complexa, que ela nunca encontrou ou conheceu antes. Ela percebe que há um desejo de diálogo para construir cada vez mais pontes. O Dicastério existe porque existem os consagrados, e está em auxílio como expressão do Santo Padre. Também é verdade que, ao abrir o escritório, a imagem que aparece é a do tsunami, por isso é indispensável a colaboração. Sem disponibilidade colaborativa, o Dicastério perderia os braços. Certos processos – continuou a irmã Simona – são inevitavelmente longos porque o caminho de discernimento requer a devida atenção. Está-se no início de uma reconfiguração. Em uma das assembleias da USG seria importante abordar o que é mais importante, sem se deixar levar pela emergência. Mas também é necessário recuperar a confiança.
O caminho de perspectiva para a USG foi abordado pelo ex-superior dos salesianos, padre Pascual Chavez Villanueva. Em sua contribuição, ele lembrou que a memória das 100 Assembleias é uma ocasião privilegiada não apenas para contemplar com gratidão o passado, mas também para sonhar com o futuro, transformando os desafios que hoje devem ser enfrentados em oportunidades de renovação e relançamento. Pareceria – e é um paradoxo – que, quanto mais o mundo precisa da vida consagrada, menos ela está preparada para sua missão. Por isso, deve-se saber renovar, enfrentando dificuldades e desafios.
Dom Pascual manifestou a convicção de que a vida consagrada, entendida e vivida como seguimento radical e imitação fiel de Jesus, nunca cessará de existir. Sempre haverá homens e mulheres que, fascinados pela pessoa de Cristo, iluminados pelo Evangelho, guiados pela força do Espírito e comprometidos com a plena humanização do mundo, se reunirão em comunidades compartilhando a mesma experiência espiritual. A vida consagrada, de fato, é como uma floresta que representa uma reserva e um suporte para a ecologia espiritual e social de toda a Igreja e do Mundo, onde a vida nasce, se desenvolve e se torna fecunda. Não é por acaso que a "Vita Consecrata" a considera uma "terapia espiritual para a humanidade" (VC 87).
Sem a vida consagrada, o corpo da Igreja ficaria privado daqueles membros que, por vocação e profissão, melhor expressam publicamente a maneira de ser e agir de Cristo, e perderia também sua relevância social. Quando se tentou combater a Igreja ou anular seu peso social, a vida consagrada foi o alvo, sendo perseguida, com suas obras e bens confiscados, chegando em alguns casos à supressão de congregações e institutos.
A vida consagrada se identifica, em última análise, embora não exclusivamente, com a própria presença da Igreja no tecido social. Basta pensar na ação missionária da Igreja nos lugares mais distantes e inóspitos, onde os religiosos são os únicos presentes, para entender que, sem a presença deles, a da Igreja também faltaria. Mas não só: não podemos esquecer os objetivos específicos das Ordens, Congregações e Institutos, no campo da educação, saúde, promoção humana, comunicação social, etc., que asseguram que a Igreja adquira maior relevância social e influência cultural.
Dom Pascual citou padre Bruno Secondin, que, com grande visão, soube viver e interpretar os sinais de mudança presentes em nosso tempo: "Somos chamados a habitar horizontes, explorar caminhos, não apenas reciclar-nos para sobreviver. Quem não antecipa o futuro não encontrará um lugar no futuro".
Hoje, como ontem, o Espírito age de forma livre e criativa; e pode suscitar – e de fato produz – “novas formas” de vida consagrada, como ocorreu em toda a história do cristianismo. Continua verdadeiro que a relevância social não depende da quantidade, mas da qualidade. Daí a necessidade de voltar ao essencial, a Cristo, ao Evangelho como Regra suprema de vida, ao seguimento de Cristo, humilde e pobre.
Eficaz sobre este aspecto, foi a reflexão oferecida pelo padre Arturo Sosa (Superior Geral dos jesuítas). Ele apresentou o voto de pobreza com duas imagens.
A “mãe” é a primeira imagem utilizada pelos fundadores da Companhia de Jesus para explicar a pobreza religiosa. A mãe é quem gera livremente a vida e gera a confiança que leva ao desprendimento total. A pobreza religiosa leva a depositar toda a confiança no Senhor, que proverá o necessário àqueles que escolhem continuar na pobreza e humildade. A comunidade que ama como mãe a pobreza evangélica e se nutre da eucaristia torna-se capaz de construir relações fraternas dentro e fora dela.
A hospitalidade é uma das características das comunidades daqueles que professam a pobreza evangélica. Seguir Jesus pobre leva à opção pelos pobres e a se unir às lutas pela libertação de todo tipo de injustiça nas relações sociais e com o meio ambiente. Nas condições do mundo de hoje, a comunidade cristã experimenta outro tipo de pobreza: ser uma minoria, muitas vezes perseguida, injustamente desacreditada.
A segunda imagem é a do “muro protetor”. Nasce do reconhecimento da fragilidade da pobreza evangélica como dimensão crucial da Vida Consagrada. Muitas tensões derivam do voto de pobreza vivido como expressão radical da confiança em Deus. Não devemos raciocinar em termos de sobrevivência da vida consagrada e dos institutos, mas de profecia. Não se é válido porque se é útil, mas porque se é capaz de levantar questões e envolver pessoas que querem compartilhar a paixão pelo Reino, encarnando a profecia de Cristo em uma vida paradoxal, a do Evangelho.
A UISG e a USG encarregaram uma comissão de sintetizar a contribuição dos Governos Gerais das religiosas e dos religiosos para a segunda fase do Sínodo.
Maria Cimperman, das Religiosas do Sagrado Coração, ao apresentar a síntese, afirmou que se procurou relatar, da forma mais precisa possível, as respostas articuladas pelos grupos envolvidos nos papéis de liderança e pelos membros das congregações religiosas de todo o mundo.
As perguntas propostas – como colaboração da vida religiosa para a segunda fase do Sínodo – abordam questões importantes para toda a Igreja.
A Comissão sintetizou as respostas recebidas em cinco temas fundamentais: 1) Corresponsabilidade pela Missão 2) Autoridade, Governança e Participação 3) Unidade na Diversidade 4) Participação das Mulheres na Vida e na Missão da Igreja; 5) Renovação e Fortalecimento dos Ministérios e dos Organismos de Participação para melhor expressar a Corresponsabilidade da Missão.
Aqui está um breve resumo das reações.
A 101ª Assembleia entrega muitas sugestões não apenas para celebrar ou recordar, mas para olhar adiante, relançando caminhos e iniciativas. Há espaço para um futuro rico de possibilidades.
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As 100 Assembleias USG. Artigo de Rinaldo Paganelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU