Por: André | 16 Março 2012
A poucos dias da viagem apostólica do Papa ao “seu” México (pois nasceu em Real de Catorce) e a Cuba (onde viveu por seis anos) e a algumas semanas do décimo aniversário de sua eleição como reitor maior da Congregação Salesiana (no dia 03 de abril), Pascual Chávez Villanueva, nono sucessor de São João Bosco, concedeu uma entrevista ao Vatican Insider.
A entrevista é de Domenico Agasso Jr. e está publicada no sítio Vatican Insider, 08-03-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Estes últimos anos foram anos de fadigas ou de entusiasmos?
Foram, sem dúvida nenhuma, os anos mais entusiasmantes de toda a minha vida. Entusiasmantes porque ser sucessor de Dom Bosco é algo verdadeiramente estimulante, no sentido de que me sinto chamado – como inclusive João Paulo II me recordou – para garantir e promover a fidelidade ao Fundador e, ao mesmo tempo, para ter a capacidade de responder aos novos desafios da missão salesiana. Foi muito gratificante ouvir que me dissessem muitas vezes: “Você não tem os traços físicos de Dom Bosco, mas tem seu coração”. No entanto, também foi uma década muito ocupada, sobretudo porque a Congregação é muito grande, está presente em 132 países. É preciso acrescentar, além disso, o fato de que em 2002 explodiu nos Estados Unidos a dolorosa e preocupante questão dos abusos sexuais contra menores, que pouco a pouco foi se estendendo por todo o mundo, e na qual, tristemente, se viram envolvidos alguns de nossos irmãos. Para terminar, ter que enfrentar o envelhecimento dos salesianos na Europa, a falta de vocações e as dificuldades de continuar a administrar todas as obras que temos, nos levaram, a mim e ao meu Conselho, a colocar em marcha o processo de reconfiguração da presença dos salesianos neste continente, processo que está em andamento.
Dentro de poucos dias o Papa fará sua viagem apostólica ao “seu” México e a Cuba: qual é a realidade que Bento XVI encontrará? Qual é a situação nestes países, em particular para os cristãos?
Cuba está vivendo uma fase de transição, não sei até que ponto esteja sendo dirigida ou monitorada pelo ex-presidente Fidel Castro, na qual, por um lado, se segue insistindo na validade idealista ou ideológica do comunismo e da organização social que se criou quando chegou ao poder, e, por outro, torna-se cada vez mais visível o aumento da liberalização rumo a uma economia de mercado. No tocante à Igreja, deixando de lado o entusiasmo que suscitou na sua época o Enec (Encontro Nacional Eclesial Cubano), quando a Igreja cubana se arriscou a falar, a vida eclesial está tomando um ritmo mais normal paulatinamente, embora se reduza praticamente ao culto, à evangelização e à catequese. O México, que se encontra em uma fase de campanhas políticas em vista da eleição do presidente da República em primeiro de julho, está vivendo, há alguns anos, um período de violência e insegurança por culpa dos choques entre os cartéis da droga para tomar o controle das zonas do tráfico de narcóticos, aos quais é preciso acrescentar outros grupos de delinquentes, pura e simplesmente. A decisão política que o presidente Felipe Calderón assumiu, de combater frontalmente todos estes grupos, desencadeou uma guerra que provocou milhares e milhares de mortes nestes seis anos, indicando a falta de um estado de direito. Contudo, do ponto de vista econômico, o país conseguiu sustentar-se em meio à crise financeira e econômica que, desde 2008, afeta grande parte do mundo. Falando da Igreja no México, o papa encontrará um povo que continua profundamente religioso, mariano “guadalupano”, embora os desafios das seitas e da secularização tenham aumentado.
E falando de modo mais geral, em que ponto se encontra a América Latina?
Em um momento de mudança acelerado e profundo em todo o mundo, por causa do desenvolvimento científico, das novas tecnologias, da globalização, da comunicação social, a América Latina não fica vendo, esperando a influência de todos estes elementos que indicam uma mudança de época. Embora tenha havido diferentes tentativas e projetos para unir todos os países em torno de alianças, segue sendo um mosaico de realidades muito variadas, razão pela qual enquanto alguns países se consolidaram economicamente (como o Brasil, a Argentina, o Chile e o México), outros seguem sendo muito pobres. Enquanto alguns têm democracias robustas, outros estão vendo o renascer dos “caudilhos” e de certos populismos.
E, ao contrário, qual Papa receberá a América Latina? Qual é a sua opinião sobre estes seis anos de Pontificado?
Bento XVI está empenhado em tratar de diminuir sua imagem, para que Cristo nasça nas mentes e nos corações das pessoas ou dos grupos com os quais se encontra. Sua inegável qualidade teológica lhe permite anunciar o Evangelho em uma linguagem que o torna compreensível e relevante para a pessoa de hoje, tratando de suscitar essas perguntas sobre a existência humana que podem abrir caminhos de busca para Deus, para fazer ver que, em Jesus, Deus se revelou ao homem e se entregou completamente ao homem. Seus discursos, alguns verdadeiramente magistrais, são preparados com muito cuidado, sem deixar espaço para a improvisação ou para simples saudações formais. Deste ponto de vista, a América Latina, a partir de Cuba e México, receberá um Papa com a mente clara, com um pensamento articulado, com gestos simples e um coração bondoso. Para mim, Bento XVI representa o Papa de que a Igreja de nossos dias necessita.
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Dom Bosco e a visita de Bento XVI ao México e Cuba - Instituto Humanitas Unisinos - IHU