Por: Jonas Jorge da Silva | 16 Mai 2024
Hoje, quando se diz que vivemos a era da aceleração, intuitivamente, tendemos a concordar, já que é algo que sentimos no cotidiano de nossas práticas, tarefas e relações sociais. Para João Tziminadis, pesquisador associado ao Centro Max Weber de Estudos Sociais e Culturais, da Universidade de Erfurt, e coordenador do projeto O potencial transformativo do compartilhar, na Universidade Friedrich Schiller de Jena, ambos na Alemanha, uma boa equação do que atravessamos pode ser intitulada da seguinte forma: A era da aceleração: da crise do tempo à crise da tecnosfera.
Tziminadis inaugurou, em 13 de abril, a série de debates [online] Questões do Antropoceno, abordando o tema A era da aceleração: tempo, produção e alienação. A iniciativa do CEPAT conta com a parceria e o apoio do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, do Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental – SARES, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá – UEM e do Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNLB.
Abertura da série de debates 'Questões do Antropoceno', com o tema 'A era da aceleração: tempo, produção e alienação'
Para abordar o tema, Tziminadis se baseou na teoria sociológica do pensador alemão Hartmut Rosa, professor de sociologia geral e técnica na Universidade Friedrich Schiller de Jena e diretor do Centro Max Weber de Estudos Sociais e Culturais, da Universidade de Erfurt. Para este sociólogo, a aceleração não é apenas uma característica da modernidade, mas, sim, um elemento estruturante da sociedade moderna.
Para isso, Tziminadis traçou um panorama geral do debate sobre a aceleração, partindo da relação crítica entre o mundo natural e o mundo construído por nós, daí a sua distinção entre biosfera e tecnosfera, abordando também a relação crítica entre os ritmos desses mundos que tendem a uma dessincronização e o lugar do humano na tecnosfera criada por ele próprio.
Estamos acostumados a pensar “as grandes cidades como fábricas iluminadas, onde pessoas, veículos e mercadorias circulam incansavelmente”, ressaltou Tziminadis. Opomos esta visão urbana à vida do interior, à tradição. Facilmente também associamos a modernidade aos avanços tecnológicos mais recentes, dando ênfase à sua velocidade, performance, capacidade de alcance. Portanto, intuitivamente, há uma associação entre modernidade e aceleração, principalmente com a aceleração técnica.
Nessa direção, Tziminadis lembrou que tal associação já emerge nas reflexões de grandes teóricos da modernidade. Cabe citar, por exemplo, Marx e Engels, que na era da burguesia industrial reconheciam que “tudo o que é sólido se desmancha no ar” (Manifesto do Partido Comunista, 1848). A revolução constante do maquinário industrial produzia crises e, muitas vezes, gerava destruição e reorganização das relações de produção.
Em outra chave de leitura, Max Weber também viu na vida moderna o predomínio de um senso de progresso. O homem moderno nunca poderia morrer pleno de vida, pois o futuro sempre reserva algo novo, inesperado, ao passo que a vida tradicional é cíclica, ou seja, ao morrer o homem tradicional simplesmente encerra um ciclo preestabelecido (Ciência como vocação, 1917).
Tziminadis também fez referência ao historiador Reinhart Koselleck, um teórico da historiografia que escreveu sobre o censo da história para os modernos, que em sua avaliação é marcado pela separação do horizonte de expectativas das experiências que temos. Em outras palavras, “pela ideia de que não podemos imaginar o futuro como uma continuação do presente e do passado. O futuro dos modernos para este historiador é um futuro aberto”, disse.
A questão central em todas essas considerações é a distinção entre modernidade e tradição. Na modernidade, o tempo se torna um problema crítico. Nesse sentido, em forma de recapitulação, Tziminadis sintetizou: “Marx e Engels enfatizaram a dinamicidade da maquinaria moderna. Weber enfatizou o senso de progresso que preenche o tempo de vida na modernidade. E Koselleck ressaltou a nossa orientação pelo futuro, a nossa expectativa de que ele será diferente do passado. Todos esses autores pensaram a modernidade em termos de dinamização e de mobilidade. Ao mesmo tempo, todos eles relacionaram essa tendência a uma certa noção de crise.”
Se na sociedade tradicional o tempo é inseparável de categorias espaciais, na sociedade moderna há um desacoplamento entre tempo e espaço. Para Tziminadis, uma característica central das sociedades modernas é a crise do tempo.
Para muitos povos, o tempo já foi ou ainda é inseparável do espaço e das mudanças ligadas ao ambiente da vida, como o tempo das estações, o ciclo de noite e dia, de nascimento e morte, entre outros. Estão intimamente ligados a condições locais. Contudo, com a modernidade, o tempo se sobrepõe às nossas experiências, que sempre são experiências do espaço. Daí a sua pressão sobre nós: o tempo do relógio, o tempo das máquinas, dos mercados e cada vez mais o tempo das comunicações digitais.
Para pensar sobre esta crise do tempo, Tziminadis recorreu ao movimento artístico, especificamente ao impressionismo, no final do século XIX. Em sua avaliação, além de enfatizar a subjetividade do observador, uma das inovações dos movimentos modernistas na arte, o impressionismo também ressalta a noção de mudança, dando ênfase à impermanência e à transitoriedade em torno do observador.
‘Mulher com sombrinha’ ou ‘O Passeio’, de Claude Monet, 1875
Um dos exemplos é a obra de Claude Monet conhecida como Mulher com sombrinha ou O Passeio, de 1875. “Sentimos, apenas pelas técnicas da pincelada, a dinamicidade do mundo ao redor”, ressaltou Tziminadis. “Enquanto a arte clássica buscava retratar temas excepcionais, de modo a eternizá-los, Monet retrata a vida cotidiana”, disse. Nesse tipo de arte está presente a dinâmica da vida: a luz variável do sol e do movimento, o vento, as nuvens etc.
Contudo, segundo Tziminadis, a imagem que melhor capta o movimento ou o sentimento de movimento inaugurado pela modernidade é a obra do artista inglês William Turner: Chuva, vapor e velocidade – O Grande Caminho de Ferro do Oeste, 1844. Em plena Revolução Industrial, com sua técnica antecipa o estilo dos impressionistas, registrando dois tipos de fugacidade. De um lado, a dinâmica da paisagem retratada pela chuva e a neblina. Do outro, um tema alheio à paisagem, mas não menos importante: a locomotiva a vapor que cruz uma ponte em alta velocidade. Vem de um lugar e se move para outro, apenas de passagem, já que não pertence àquele ambiente.
Chuva, vapor e velocidade – O Grande Caminho de Ferro do Oeste, de William Turner, 1844
“Seu habitat natural é o próprio movimento sobre os trilhos”, ressaltou Tziminadis. A ponte na estrada de ferro também é emblemática, pois não segue os desníveis e as imprecisões da paisagem natural, corta a paisagem e liga o ponto A ao ponto B da forma mais eficiente possível, indiferente ao mundo ao redor.
“De alguma forma, Turner nos apresenta dois universos paralelos, mas que estão em relação um com o outro: as dinâmicas do ambiente natural e as dinâmicas das estruturas construídas pelo homem, bem como as possíveis formas de coexistências desses dois sistemas. De um lado, o surgimento de uma aceleração social, do outro, a produção de marcas humanas nas camadas geológicas da Terra”, considerou Tziminadis.
A partir deste ponto de sua apresentação, Tziminadis passou a abordar as contribuições teóricas do sociólogo alemão Hartmut Rosa, para quem, como já foi ressaltado, a aceleração não é apenas uma característica da modernidade, mas um elemento estruturante e distintivo da sociedade moderna. No começo de sua obra, Rosa propôs três tipos de aceleração característicos da sociedade moderna: a aceleração técnica, a aceleração do ritmo da vida e a aceleração das mudanças.
No sentido da aceleração técnica, regularmente, nossos artefatos se tornam mais velozes, mais eficientes, mais capazes. É o que pode ser observado na produção industrial, na comunicação e nos transportes. No tocante ao ritmo da vida, percebe-se a aceleração como aumento do volume, da quantidade de ações e das experiências que acontecem dentro de uma vida. Em outras palavras, tal modo de aceleração tem a ver com o adensamento do volume de ações e de experiências que vivemos ou que podemos viver antes de morrer.
Por fim, quanto à aceleração das mudanças sociais, cabe perguntar: como podemos medir a sua velocidade? E o que, de fato, medimos? Para Tziminadis, uma forma de pensar esta questão está em observar as mudanças sociais como práticas sociais de trabalho, de relações amorosas, familiares, de lazer, entre outras. Por exemplo, o campo da moda, a introdução de aplicativos de relacionamento, a educação dos filhos, a forma atual de ensino, o modo como os movimentos sociais se organizam.
Aqui, a questão é observar como certas práticas vão se tornando ultrapassadas ou simplesmente deixam de existir. “A aceleração das mudanças sociais, portanto, diz respeito ao aumento da velocidade com a qual práticas atuais se tornam passadas, coisas do passado”, considerou.
Para Rosa, segundo Tziminadis, esses três tipos de aceleração podem ser pensados como um círculo aceleratório, que são engrenagens interligadas. “Um maior ritmo de aceleração das mudanças sociais gera uma aceleração do ritmo da vida e, muitas vezes, tentamos compensar a aceleração do ritmo da vida usando ferramentas mais rápidas. E estas, por sua vez, geram mais mudanças sociais”.
“É muito comum pensarmos a técnica como a causadora da aceleração. Muitos de nós temos a intuição de que por causa das técnicas disponíveis, sobretudo por causa das técnicas de comunicação, as nossas vidas estão ficando mais agitadas, mais rápidas. Mas, aqui, entra uma observação central do modelo de Rosa: o produto direto da aceleração técnica é a economia de tempo”, disse Tziminadis. Portanto, a aceleração técnica não pode ser apontada como uma causa da aceleração social.
Rosa busca explicar o paradoxo de existirmos em um mundo que é tomado tanto pela aceleração técnica quanto pela aceleração social. Então, o que causa a aceleração social? Ao longo de sua obra, Rosa organizou as causas da aceleração de modos diferentes. Focado em seus modelos mais recentes, Tziminadis explica que o sociólogo alemão observa dois domínios principais de causalidade para a aceleração social: um domínio estrutural e um domínio cultural.
A causa estrutural da aceleração diz respeito ao que o sociólogo alemão concebe como uma forma particular de estabilidade estrutural da sociedade moderna, o que chamou de estabilização dinâmica. Todas as formas de sociedade possuem elementos de estabilidade e elementos de dinamicidade. O que garante que a sociedade X continue sendo a sociedade X, apesar da contínua troca de seres humanos e de eventos disruptivos, são os seus elementos de estabilidade. Tais elementos podem ser, por exemplo, papéis sociais, papéis de gênero, uma herança cultural comum e instituições que preservem esta herança comum.
Segundo Tziminadis, “uma sociedade tradicional, portanto, ganha estabilidade na medida em que consegue fazer com que os seus elementos de estabilidade se sobreponham aos elementos de dinamicidade. O que não quer dizer que em sociedades tradicionais não haja mudanças ou dinamismo. Apenas se reconhece que estas sociedades se tornam estáveis ao domar esses elementos dinâmicos e não permitir que eles alterem a sua estrutura”.
Ao contrário, em relação à sociedade moderna, suas “estruturas dependem de uma dinamização permanente e por isso são baseadas em uma estabilização dinâmica”, disse. Esta dinamização necessária e estrutural pode ser vista, por exemplo, na esfera econômica, com o imperativo do crescimento econômico. Se nas economias tradicionais a estagnação é sinônimo de estabilidade, na economia capitalista moderna é um sinal de crise.
O mesmo também pode ser pensado no campo da produção do conhecimento. Ao contrário de sua mera reprodução, espera-se de uma universidade moderna a produção contínua de novos conhecimentos. A arte moderna também vai nessa direção, pois é pautada pela busca constante do novo, pela inovação e a ruptura com o passado. Portanto, em uma sociedade moderna, a ausência de dinamicidade coloca em risco a estabilidade social.
Para explicar esta condição da sociedade moderna, Tziminadis fez referência à analogia citada por Rosa: “as sociedades modernas são como bicicletas: quanto mais velozes, mais estáveis”. “Evidentemente, esta estabilização dinâmica é um modo de estruturação social que pressupõe um mundo que é infinitamente dinamizável, o que leva a dilemas materiais e ecológicos inevitáveis”, ressaltou.
Existem também as causas culturais da aceleração. Tziminadis adverte que, de acordo com o pensamento de Rosa, as práticas que promovem a aceleração não são apenas resultado da necessidade e do medo. Um elemento fundamental da sociedade moderna é a visão de mundo que ela oferece. Esta visão de mundo é fundamentalmente baseada no que o sociólogo alemão chamou de promessa de ampliação de alcance sobre o mundo.
Segundo Tziminadis, “esta promessa diz respeito à ideia de que podemos fazer mais, vivenciar mais, chegar mais longe, conhecer mais e talvez aumentar indefinidamente os nossos horizontes”. Ela está presente em todos os âmbitos da vida social: na economia, na ciência, na arte etc. Nesse sentido, “uma crítica da aceleração social não pode esquecer que ela não ocorre só porque somos obrigados por demandas estruturais, mas também porque esperamos e almejamos mais produtos, mais experiências, mais conhecimentos, mais alcance sobre o mundo”, avaliou.
Em resumo, a teoria da aceleração social propõe que uma sociedade é moderna na medida em que sua estabilidade depende de sua capacidade de dinamizar. Além disso, considera que a cultura dessa sociedade é orientada pela promessa de que mais crescimento econômico, mais inovação tecnocientífica e maior alcance sobre o mundo são elementos constitutivos de uma boa vida.
Diante dessas considerações, Tziminadis nos provoca a refletir sobre como essa teoria pode ajudar a pensar a relação do mundo construído por nós, a tecnosfera, com o mundo natural à nossa volta, a biosfera. Qual é o lugar dos seres humanos em tudo isso? Neste ponto, propõe que nos voltemos ao que Rosa chamou de crises de dessincronização.
“Se uma sociedade só pode se estabilizar dinamicamente, uma das consequências é a exaustão de energias que temos disponíveis. A necessidade de dinamização contínua gera fricções entre diferentes sistemas que não podem acelerar ou crescer com a mesma facilidade. Essas fricções são chamadas por Rosa de dessincronização”, explicou Tziminadis.
Pode-se pensar, por exemplo, nas crises de representação das democracias modernas como uma crise de dessincronização. Nesse sentido, os processos que dizem respeito à deliberação, à construção de consensos, à legislação são muito mais lentos, por exemplo, do que os ritmos da economia e da inovação tecnológica. Sobretudo, as tecnologias de comunicação. “Dessa forma, a política se torna cada vez mais reativa. Ela reage a desenvolvimentos tecno-econômicos, ao invés de guiá-los”.
Também é possível pensar em uma dessincronização entre as dinâmicas de mudança social dos ritmos de trabalho, de consumo e de entretenimento e os ritmos da psique humana. Tziminadis reconhece que talvez a aceleração seja um fator contribuinte para as crises psíquicas que caracterizam a nossa sociedade, como a depressão, a ansiedade, o burnout.
Contudo, “talvez o que mais nos interesse hoje são as crises de dessincronização que se formam entre as dinâmicas do mundo construído e as dinâmicas da biosfera. A leitura proposta por Rosa é de que a crise ambiental não diz respeito ao uso em si de recursos naturais, pois não pensa a natureza como uma entidade intocável e pura, uma posição que é compartilhada por muitos pensadores contemporâneos. O problema está na velocidade, nos ritmos do nosso uso que são infinitamente mais rápidos do que a capacidade que os ecossistemas têm de repor os recursos utilizados e de metabolizar a poluição produzida”, avaliou Tziminadis.
A crise do tempo na modernidade é a chave de leitura para muitas outras crises que experimentamos. Nesse sentido, o conceito de alienação também pode ajudar a pensar a aceleração e a crise climática. “Rosa entende a alienação como uma característica de relações de estranhamento e não como uma característica de certos conteúdos da experiência ou de uma certa falsa consciência”, ressaltou Tziminadis. “A alienação é relacional no sentido de que ocorre quando sentimos que nossas relações com o mundo, com outros seres humanos ou com nós mesmos perde vivacidade, responsividade ou aquilo que Rosa veio a chamar mais tarde de ressonância”, disse.
“Na medida em que a dinamização, o crescimento, a inovação e a busca por perfectibilidade técnica viram imperativos, o tipo de relação que estabelecemos com o conteúdo da nossa experiência não permite mais nem que consigamos ouvir, entre aspas, o mundo ao nosso redor”, avaliou Tziminadis. Em sua avaliação, “na fase mais recente de sua obra, focada no conceito de ressonância, Rosa vai dizer que o imperativo da aceleração gera um emudecimento do mundo. Em termos mais psicológicos, a alienação para o Rosa diz respeito a uma perda da nossa capacidade de se sentir autossuficiente, o que é um termo técnico para descrever o sentimento de que as nossas ações fazem diferença no mundo”.
Nesse sentido, “estar alienado significa sentir-se isolado, bloqueado, incapaz de deixar-se tocar pelo mundo e de tocá-lo. Podemos dizer o mesmo sobre o próprio sistema aceleratório, a própria questão da aceleração dinâmica que nós criamos. Sentimos que esse processo de estabilização dinâmica se torna autônomo, independente de nossa própria capacidade ou de nossa vontade de controlá-lo”, considerou Tziminadis.
A partir daí, Tziminadis retornou à pintura de William Turner, destacando que o esfumaçamento na imagem causa uma sensação de mescla entre o trem, com sua infraestrutura, e a paisagem, o que pode ser visto como a mescla entre biosfera e tecnosfera. Na perspectiva de Rosa, pode-se enxergar aí um bom exemplo de dessincronização. De um lado, a locomotiva com o seu motor a vapor, que traz a sensação de velocidade e regularidade da máquina. Do outro, dinâmicas muito lentas como a meteorologia. “A tecnosfera e a biosfera compõem uma única paisagem e um sentimento de ruptura. Esta ruptura podemos chamar, com Rosa, de dessincronização”, afirmou.
“Talvez a visão do progresso científico-industrial como um trem desgovernado que carrega a gente em direção a uma catástrofe, em relação à qual não temos mais qualquer poder, seja muito frequente em nosso imaginário cultural”, afirmou Tziminadis. Contudo, é algo contraditório, conforme já observado pela pensadora contemporânea Eva Horn: “[...] é algo irônico o fato de que humanos estão sonhando com sua própria extinção em plena era que foi nomeada por causa dos traços duradouros que eles vão deixar na história geológica do planeta” (E. Horn, The Future as Catastrophe).
Para Tziminadis, “talvez esse seja um exemplo contundente do nosso senso de alienação. Ao mesmo tempo em que damos o nosso nome a toda uma era geológica [Antropoceno], sentimos que o futuro não nos pertence mais”.
Já ao final de sua exposição, Tziminadis apresentou uma foto tirada pelo astronauta Terry Virts, a partir da Estação Espacial Internacional. Nela, vê-se a Terra à noite, mais precisamente as ilhas britânicas, onde toda esta história de industrialização e aceleração começou. A imagem mostra a extensão de nossa tecnosfera e a sua integração na superfície do planeta.
Foto tirada pelo astronauta Terry Virts
Não se trata mais, simplesmente, do trem de William Turner, mas de uma rede gigantesca de luz artificial que indica a presença de estruturas humanas entranhadas na crosta terrestre como parte constitutiva da paisagem do planeta. Em sua descrição, também observou que o brilho das luzes chega a competir com o da aurora boreal. Além disso, no canto direito da imagem, na parte de cima, aparece uma outra estrutura humana, uma parte da própria estação espacial, que também pertence à tecnosfera e nos oferece uma perspectiva sobre o Universo e a própria Terra que nunca teríamos sem a técnica.
Para Tziminadis, a imagem permite pensar a relação entre o humano, a técnica e o planeta e pode indicar duas histórias diferentes. A primeira seria uma história de fuga, a que alimenta a imaginação de muitos bilionários hoje. Ela diz o seguinte: após consumirmos o planeta até o último recurso, eles imaginam como escapar das consequências catastróficas, fugindo dos limites e da finitude da Terra.
Já a segunda é a história de sensibilização de nossos próprios limites e da preciosidade do que temos. Com a ida ao espaço, pela primeira vez, a humanidade pôde enxergar o seu próprio lugar, o seu habitat como um todo. A imagem vista do espaço permite a percepção da vulnerabilidade de nosso planeta e impulsiona os movimentos ambientais.
Nesse sentido, Tziminadis disse que a imagem pode ajudar a pensar a relação entre natureza e cultura, entre biologia e tecnologia, “não apenas como uma forma de perda de pureza ou um presságio de uma catástrofe, mas também como possibilidade para novas formas de enxergar o mundo ao nosso redor e também a nós mesmos. E, mais importante, como algo que pode nos ajudar a recuperar o senso de futuro e de esperança”.
Abaixo, disponibilizamos a íntegra da exposição e debate.
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A era da aceleração: a locomotiva disruptiva que nos atravessa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU