15 Fevereiro 2023
O New York Times reproduz as palavras do acadêmico Yusuke Narita sobre um “Seppuku” em massa e explode a polêmica. Ele recua: "Eu deveria ter usado mais cautela." No país o número de pessoas que tiram a própria vida está entre os mais altos do mundo.
A reportagem é de Gianluca Modolo, publicada por La Repubblica, 29-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como enfrenar a questão do rápido envelhecimento da população japonesa? "Parece-me que a única solução seja bastante clara: não estaria se tratando de um suicídio em massa - ou um seppuku em massa - dos idosos?”, referindo-se ao antigo ritual de suicídio samurai, literalmente “corte na barriga com uma faca”. O mundo caiu! Yusuke Narita, professor de economia em Yale, disse isso no final de 2021. E suas palavras, reproduzidas agora pelo New York Times, estão desencadeando um alvoroço na Terra do Sol Nascente, mexendo num dos nervos expostos da sociedade japonesa, hoje aquela com uma das maiores taxas de suicídio do mundo.
O professor de 37 anos se defende, dizendo que foi mal interpretado, que suas declarações foram "tiradas de contexto" e que na verdade se referia ao esforço crescente de afastar as pessoas mais idosas dos cargos de liderança nos negócios e na política, para abrir espaço para a geração mais jovem.
“Eu deveria ter sido mais cuidadoso”, respondeu ele por e-mail a algumas perguntas do New York Times. "Depois de pensar nisso, parei de usar essas palavras no ano passado."
“Embora ele seja praticamente desconhecido mesmo nos ambientes acadêmicos dos EUA, suas posições extremas lhe renderam centenas de milhares de seguidores nas mídias sociais japonesas, entre jovens frustrados que sentem que seu progresso econômico foi prejudicado por uma sociedade gerontocrática”, escreve sobre ele um jornal estadunidense.
Por mais chocantes que sejam, as palavras do Dr. Narita estão abrindo as portas para discussões sobre a reforma da aposentadoria e mudanças na Previdência Social. "O que se critica é o fato de os idosos receberem muito dinheiro pela aposentadoria e os jovens sustentarem todos os idosos, mesmo os ricos", declarou ao New York Times, Shun Otokita, membro da câmara alta do Parlamento pelo Nippon Ishin no Kai, um partido de direita.
Pela primeira vez em 13 anos no mês passado o número de suicídios no Japão voltou a subir: segundo dados preliminares do Ministério da Saúde japonês, em 2022 ocorreram 21.854 suicídios, cerca de 600 a mais que no ano anterior.
No ano passado, o Japão viu sua população cair em mais de 600.000 pessoas devido ao declínio da taxa de fertilidade e ao rápido envelhecimento da população. Sobre o problema do declínio da natalidade e do envelhecimento da população, havia sido o Primeiro Ministro Fumio Kishida a se manifestar no final de janeiro: "O Japão está no limite da possibilidade de continuar funcionando como sociedade". Segundo dados do Banco Mundial, o Japão é o segundo país do mundo em número de pessoas com mais de 65 anos (cerca de 28%), depois do Principado de Mônaco.
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Professor de Yale: “Para salvar o Japão do envelhecimento, os idosos escolhem o suicídio” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU