16 Abril 2024
"O Papa Francisco ouviu, escolheu o caminho evangélico das igrejas irmãs. Esses gestos mostram uma atenção ao que fere ou traz alegria aos nossos irmãos não católicos: porque só se as Igrejas começarem a caminhar para o futuro consultando-se, compreendendo-se como verdadeiras irmãs, caminharemos para a unidade em prol de toda a humanidade", escreve o monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 15-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nas igrejas cristãs e, portanto, também na Igreja católica, acontecem fatos, realizam-se ações que não parecem interessar aos leitores dos nossos jornais e, por isso, não encontram espaço nem narração, nem se vislumbra o seu significado. E, no entanto, às vezes, quase em silêncio, realizam-se atos muito importantes no diálogo entre as Igrejas e na possível partilha do seu estar no mundo no meio da humanidade.
O Bispo de Roma, como sabemos, carrega inúmeros títulos que querem celebrar a sua dignidade. Estes aparecem nas primeiras páginas do Anuário Pontifício (um órgão informativo publicado todos os anos pela Santa Sé) e consequentemente nos documentos mais solenes: Vigário de Cristo, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Patriarca do Ocidente, Primaz da Itália, Arcebispo e Metropolita da Província Romana, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano...
No Anuário atual são chamados de "títulos históricos" para significar que estão ligados aos eventos históricos e não se originam do Evangelho. Parece, portanto, um pouco discordante que depois de todos esses títulos históricos apareça o verdadeiro, o mais apropriado, usado pelo Papa Gregório Magno, que define o Papa como o “Servo dos servos de Deus”. Mas também é verdade que os títulos são importantes na hierarquia eclesiástica, especialmente aqueles que são reconhecidos também pelas outras igrejas não católicas. Tal é o título de Patriarca do Ocidente porque os canais ecumênicos haviam definido o Sistema de governo da igreja cristã como "pentarquia", isso é, governo dos cinco patriarcas que se debruçavam sobre o Mediterrâneo: Jerusalém, Alexandria, Antioquia, Roma, Constantinopla.
Infelizmente, em 2006, Bento XVI, pressionado por aqueles que viam no título de Patriarca do Ocidente uma redução do primado universal do bispo de Roma, abandonou esse título.
Grande foi o espanto das igrejas ortodoxas que vivenciaram o fato como mais um distanciamento de Roma da sinfonia do primeiro milênio e consideraram essa omissão antiecumênica. Infelizmente, o Pontifício Conselho para a Unidade da época justificou essa medida. Mas o Papa Francisco, que ouviu os desejos das Igrejas ortodoxas e daqueles que trabalham pela unidade da Igreja, desde o início do seu papado pôs em evidência o título de Bispo de Roma, e agora reintroduziu aquele de Patriarca do Ocidente, dando início a um processo que reconfigura a Igreja latina como Patriarcado do Ocidente, no qual a primazia papal poderia ser exercida não na forma de jurisdição, mas de comunhão com as Igrejas ortodoxas.
O Papa Francisco ouviu, escolheu o caminho evangélico das igrejas irmãs. Esses gestos mostram uma atenção ao que fere ou traz alegria aos nossos irmãos não católicos: porque só se as Igrejas começarem a caminhar para o futuro consultando-se, compreendendo-se como verdadeiras irmãs, caminharemos para a unidade em prol de toda a humanidade.
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O Patriarca do Ocidente. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU