23 Fevereiro 2024
“O Estado de Israel está conduzindo um genocídio contra o povo palestino à vista de todas e todos; já não há expressões para tamanho horror. Atualmente, detém também o trágico recorde do maior número de assassinato de jornalistas em conflitos armados, o que não é um acontecimento fortuito, mas faz parte da violência planejada por Israel”. A reflexão é de Silvia Ribeiro, em artigo publicado por Desinformémonos, 21-02-2024. A tradução é do Cepat.
O Estado de Israel está conduzindo um genocídio contra o povo palestino à vista de todas e todos; já não há expressões para tamanho horror. Atualmente, detém também o trágico recorde do maior número de assassinato de jornalistas em conflitos armados, o que não é um acontecimento fortuito, mas faz parte da violência planejada por Israel.
A propaganda falaciosa de Israel de que age “em sua defesa” devido ao brutal ataque do Hamas sofrido em 7 de outubro de 2023 que deixou 1.200 pessoas mortas em Israel, não se sustenta diante das mais de 28.000 pessoas assassinadas na Palestina até este momento, a grande maioria civis, mais de 70% crianças e mulheres, e números impossíveis de saber de pessoas feridas, mais de 1,7 milhão de pessoas deslocadas e desabrigadas.
Após deixar Gaza completamente devastada, Israel ataca agora os locais onde as pessoas deslocadas e os refugiados conseguiram chegar, como Rafah, hospitais e agências das Nações Unidas para refugiados. Também são cúmplices e responsáveis pelo genocídio os governos dos Estados Unidos, Austrália, Canadá, Japão e países europeus que decidiram cortar os seus fundos diante das acusações arbitrárias, não comprovadas ou verificadas de que supostamente havia algumas pessoas ligadas ao Hamas entre os 30 mil funcionários da agência da ONU para refugiados na região.
Obviamente, trata-se de uma guerra de extermínio contra o povo palestino, que Israel tenta constantemente rotular de forma diferente. Mesmo a informação fornecida por aquela agência da ONU sobre o número e a situação dos refugiados constitui uma ameaça ao muro de mentiras que Israel tenta construir.
Para tentar evitar o fluxo de informações reais sobre esta terrível realidade e poder continuar a disseminar mentiras que escondem a intenção e o planejamento do extermínio – incluindo o fato de Israel originalmente ter financiado e fortalecido o Hamas para sabotar a Organização para a Libertação da Palestina e ser cinicamente extraordinário que a fronteira onde o Hamas realizou o ataque de 7 de outubro tenha estado desprotegida durante seis horas –, Israel dedicou-se à perseguição, repressão, ataque e assassinato de jornalistas.
Em quatro meses, a guerra de Israel contra a Palestina foi responsável por um número maior de assassinatos de jornalistas do que houve em conflitos armados em qualquer outro lugar do mundo, mesmo aqueles que duraram mais de uma década.
De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPP), 99 jornalistas foram assassinados em 2023 em todo o mundo, e três quartos deles na Palestina. Em 19 de fevereiro, o CPP relatou a morte de 88 jornalistas e trabalhadores de meios de comunicação social na região: 83 da Palestina, 2 de Israel e 3 libaneses. Além disso, 16 jornalistas ficaram feridos, 4 são dados como desaparecidos e 25 foram presos.
O CPP também denuncia múltiplas agressões, ameaças, ataques cibernéticos, censura e perseguição, assédio e morte de familiares de trabalhadores de meios de comunicação.
As mortes de jornalistas não ocorreram apenas em ataques à sede onde trabalham, mas também em ataques às suas casas e houve inclusive vários casos documentados de mortes por drones e franco-atiradores israelenses e um jornalista que sofreu várias horas de agonia depois de ter sido ferido por um franco-atirador, porque as forças israelenses interceptaram a ambulância para ajudá-lo.
O CPP manifestou preocupação pelo fato de as Forças de Defesa de Israel, em pelo menos uma dezena de casos, parecerem ter cometido assassinatos deliberados, um padrão que o CPP já tinha denunciado antes dos ataques recentes. No seu relatório Padrão Mortal, publicado em maio de 2023, o CPP afirma que “as forças militares israelenses têm uma longa história de matar jornalistas impunemente, tendo matado pelo menos 20 jornalistas num período de 22 anos sem que ninguém fosse responsabilizado e condenado por essas mortes”.
Em um comunicado de fevereiro de 2024, o CPP também destacou que Israel deve cumprir a ordem do Tribunal Internacional de Justiça para garantir a proteção de provas (no caso do julgamento iniciado pela África do Sul em que acusa Israel de genocídio), “um papel crucial dos jornalistas, pois são testemunhas de primeira linha, cujo trabalho tem sido considerado anteriormente como prova nos tribunais”.
Em 2022, o Tribunal Popular Permanente (TPP) organizou uma sessão sobre a impunidade no assassinato de jornalistas, onde foram apresentados casos do México, Síria e Sri Lanka, em particular. Os juízes desta sessão do TPP declararam agora em um comunicado:
“Atacar jornalistas significa tentar impor silêncio à sangrenta guerra em curso. Desde o início das hostilidades, a Faixa de Gaza tem estado fora do alcance dos repórteres internacionais, exceto em raras visitas lideradas pelas Forças de Defesa de Israel. Os jornalistas presentes no território são repórteres dos meios de comunicação palestinos e das poucas agências de notícias e redes de televisão internacionais que tinham escritórios em Gaza antes do dia 7 de outubro, bem como jornalistas independentes que documentam os horrores e os partilham nas redes sociais, todos eles baseados em Gaza. São eles que contam a tragédia em curso, através dos vídeos, das imagens, das notícias que conseguem, em meio a mil dificuldades, transmitir ao mundo exterior. Graças a eles vemos a destruição, o colapso da vida civil, o sacrifício de mais de 100 médicos e profissionais da saúde, a luta diária pela sobrevivência de dois milhões de pessoas deslocadas: a guerra contada a partir do terreno.
A liberdade de informar e de ser informado é a base da justiça e da democracia, e é ainda mais valiosa em contextos de guerra em que as narrativas unilaterais, a propaganda e a censura tendem a prevalecer. Atacar jornalistas é um crime de guerra”.
Nesse sentido, Repórteres Sem Fronteiras (RSF) apresentou duas queixas contra Israel no Tribunal Penal Internacional, por crimes de guerra contra jornalistas cometidos em Gaza desde 7 de outubro.
A este respeito, detalham que os jornalistas assassinados, cujos casos constam da segunda denúncia, são: Asem Al-Barsh, jornalista da emissora Al Najah, morto por tiros de franco-atirador; Bilal Jadallah, da Casa de Imprensa Palestina, vítima de um míssil disparado diretamente contra seu carro quando saía do local de trabalho; Montaser Al-Sawaf, cuja casa foi alvo duas vezes de disparos de mísseis; Rushdi Al Siraj, vítima de impacto direto contra a sua casa; Hassouna Salim, da agência Quds News, morto por um míssil após receber ameaças de morte; Sari Mansour, fotojornalista do Quds News, morto no mesmo ataque; Samer Abu Daqqa, correspondente da Al Jazeera, provavelmente morto por disparos de precisão de drones, ataque no qual o chefe do escritório da Al Jazeera, Wael Dahdouh, foi ferido.
Estes são apenas alguns dos nomes de jornalistas e de muitas outras pessoas assassinadas, que mostram a intencionalidade dos assassinatos. Não foram silenciados, não esquecemos, não ficaremos calados.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A guerra Israel-Palestina. Recorde de assassinatos de jornalistas. Artigo de Silvia Ribeiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU