14 Fevereiro 2024
Oito grandes empresas comprometem-se, sob os auspícios da Unesco, a construir uma inteligência artificial mais ética, mas essas iniciativas não vinculantes podem se revelar frágeis frente a seus interesses financeiros.
A reportagem é de Mélinée Le Priol, publicada em La Croix International, 07-02-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Depois dos Estados, as empresas. Para desenvolver uma inteligência artificial que sirva ao bem comum, “não cabe apenas aos governos agir”, disse Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco no dia 5 de fevereiro, no centro de convenções Kranj, na Eslovênia.
Ali, às margens de um fórum mundial de dois dias da Unesco sobre o assunto, a francesa mostrou-se satisfeita por ter obtido “o mesmo compromisso concreto de grandes empresas”.
Oito empresas – Grupo Lenovo, LG AI Research, Mastercard, Microsoft, Salesforce, GSMA, INNIT e Telefónica – assinaram um acordo para “construir uma inteligência artificial mais ética”. Isso foi indicado pelo grande painel em que seus representantes colocaram simbolicamente suas assinaturas, sob os flashes dos fotógrafos e o incentivo de Azoulay.
Pouco mais de dois anos antes, em novembro de 2021, os 193 Estados-membros da ONU já tinham se comprometido a respeitar os princípios promovidos pela Unesco em relação à implantação dessas tecnologias. Essa recomendação – não vinculante – instruiu-os a garantir a “proteção dos direitos humanos” durante a implantação da IA.
A recomendação da Unesco não será mais vinculante para essas oito empresas. Concretamente, elas se comprometem a implementar “procedimentos de avaliação e mitigação de riscos”, antes e depois da comercialização de seus sistemas de IA.
“O problema dessas iniciativas voluntárias é que elas podem desmoronar quando entrarem em conflito com interesses financeiros”, alerta Oliver Marsh, da ONG AlgorithmWatch, presente nesse “fórum mundial” na Eslovênia. O britânico lembra que a rede social digital X se retirou no ano passado do código europeu contra a desinformação online, depois de relaxar deliberadamente a moderação de conteúdos ilícitos. “Mas a recomendação da Unesco pode se revelar mais sólida. Ainda não sabemos”, acrescenta.
“Cabe a nós, sociedade civil, exigir que essas empresas signatárias sejam responsabilizadas”, afirma Vilas Dhar, da Fundação Patrick J. McGovern, uma agência filantrópica global com sede nos Estados Unidos, também presente na Eslovênia.
Enfatizando que o cidadão médio “não é tão impotente quanto ele pensa”, ele destaca as alavancas de ação ao seu alcance: escolhas de consumo, defesa de direitos e pressão junto a seu governo.
Esse fórum da Unesco sobre ética na IA ocorreu um dia depois de os 27 Estados-membros da União Europeia terem acordado, no dia 2 de fevereiro, com o projeto europeu de regulamentação da IA – uma validação que surgiu após intensas negociações destinadas a encontrar o equilíbrio certo entre inovação e segurança.
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Uma IA mais ética? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU