05 Dezembro 2023
"O “sim” ou “não” ao exercício da sexualidade e à convivência de pessoas LGBTQ (homossexuais e outras) está dividindo os vértices da Igreja Católica em Gana, bem como os de outras nações africanas e de outros continentes", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 04-12-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O “sim” ou “não” ao exercício da sexualidade e à convivência de pessoas LGBTQ (homossexuais e outras) está dividindo os vértices da Igreja Católica em Gana, bem como os de outras nações africanas e de outros continentes. Colocando assim árduos desafios, teológicos e pastorais, ao Papa Francisco e ao conclave que um dia terá de escolher o seu sucessor. No país do Golfo da Guiné, onde os católicos representam 13% dos trinta milhões de habitantes, o Parlamento está prestes a aprovar uma lei que punirá, com penas que vão de três a dez anos de prisão, as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, ou aqueles que promoverem os direitos das pessoas LGBTQ.
Mas, comentando a prevista legislação, os bispos do Gana – cerca de vinte – elogiaram a lei, agradeceram aos deputados pelo seu trabalho, definiram o comportamento homossexual como “desprezível” e convidaram os países ocidentais a “deter as tentativas incessantes de nos impor inaceitáveis valores culturais estrangeiros ", como a admissão das uniões homossexuais.
Uma condenação desaprovada, no entanto, pelo bispo Peter Kodwo Appiah Turkson, 1948, nomeado cardeal pelo Papa Wojtyla em 2003, e durante anos prefeito do dicastério do Vaticano que hoje se chama “Para o serviço do desenvolvimento humano integral”.
De fato, o cardeal acaba de comentar: “A homossexualidade não deveria ser um crime e as pessoas deveriam ser ajudadas a compreender melhor o assunto. As pessoas LGBTQ não podem ser criminalizadas porque não cometeram nenhum crime. Precisamos de muito trabalho na área educacional para fazer com que as pessoas façam uma distinção entre o que é crime e o que não é”.
Turkson é um dos pouquíssimos prelados africanos que ousam distinguir-se da grande maioria dos coirmãos determinados a condenar e punir (ou fazer punir pelas leis civis) as uniões homossexuais. Diante de pontos de vista tão incompatíveis – que também existem em outros continentes – Francisco tentou até agora uma difícil mediação: compreensão e respeito pelas pessoas LGBT, mas também a inviolabilidade da doutrina expressa no “Catecismo da Igreja Católica”, lançado em 1992 por João Paulo II. Que afirma: “A Sagrada Escritura apresenta as relações homossexuais como graves depravações. A tradição sempre declarou que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados”.
Hoje, porém, muitos teólogos, teólogas e alguns prelados – levados a pensar por um exame atento das Escrituras; do silêncio de Jesus sobre o tema; das Ciências humanas - consideram que essa “doutrina” deve ser radicalmente repensada. De fato, é filha de premissas religiosas, culturais e filosóficas de um mundo antigo, desconhecedor do que a psicologia moderna descobriu posteriormente. Mas nem todos aceitam as novas descobertas.
O próximo conclave terá que lidar com essa contraposição aguda, a portas fechadas. E será um encontro doloroso, porque a questão LGBT divide tanto o episcopado como os simples fiéis.
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Gana, bispos divididos sobre a homossexualidade. Artigo de Luigi Sandri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU