22 Outubro 2023
Apesar das ordens de evacuação, os cerca de 1.000 cristãos que vivem em Gaza permanecem no norte do enclave para permanecerem com os mais vulneráveis.
A reportagem é de Cécile Lemoine, publicada por La Croix International, 19-10-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Nossas irmãs em Gaza me surpreendem”, diz a superiora das Missionárias da Caridade na Terra Santa, com sede em Jerusalém.
É preciso apenas um telefonema de 10 minutos por dia. É o tempo suficiente para dar notícias, tranquilizar ou pedir orações.
“Elas sempre um sorriso na voz, apesar das bombas, apesar da falta de tudo”, afirma a superiora regional.
Desde que o Hamas lançou sua guerra contra Israel, em 7 de outubro, quase 500 cristãos refugiaram-se no complexo paroquial de rito latino em Gaza, onde as Missionárias da Caridade, a congregação fundada por Madre Teresa, administram um centro. Isso representa cerca de metade de todos os cristãos na Faixa de Gaza, todos eles palestinos.
As paróquias ortodoxas latinas e gregas localizadas no norte do enclave receberam o mesmo ultimato que todos os outros na área: retirar-se para a parte sul antes de um ataque iminente do exército israelense.
“Praticamente todos optaram por ficar, considerando isso mais seguro, porque a situação é cada vez mais delicada por toda a parte”, explicou na segunda-feira o cardeal Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, em uma entrevista a jornalistas italianos.
Junto com os outros prelados na Terra Santa, o cardeal – um franciscano italiano que vive na região há décadas – convocou um dia de oração e jejum na última terça-feira pela paz e reconciliação.
“Ir embora? E depois ir para onde?”, pergunta a superiora regional das Missionárias da Caridade.
“Em Gaza, as nossas irmãs administram uma casa que cuida de 60 crianças muçulmanas deficientes e algumas feridas. Suas famílias são refugiadas, espalhadas por todo o lugar, e ninguém poderia ir buscá-las. Elas ficaram, então toda a comunidade também ficou”, diz ela. “Vivemos juntos, morremos juntos – permanecendo perto de Jesus, perto das igrejas.”
Embora o enclave seja continuamente bombardeado e agora falte água, eletricidade, alimentos e combustível, as três freiras missionárias da Caridade estão ocupadas garantindo uma aparência de normalidade no “campo de refugiados” no qual a Paróquia da Sagrada Família se tornou. Trabalhando ao lado delas, estão três irmãs do Verbo Encarnado e do Santíssimo Sacramento e três irmãs do Santo Rosário.
Elas ressaltam que o poço que fornecia à paróquia uma fonte independente de água deixou de funcionar por falta de combustível para alimentar as bombas.
“Ele está transbordando. Não há instalações sanitárias suficientes para todos, não há colchões suficientes, não há cobertores suficientes”, diz a superiora sediada em Jerusalém, transmitindo a notícia que recebeu de suas irmãs em Gaza.
“Vivem hora após hora, sem pensar no amanhã. Elas puseram completamente suas vidas nas mãos de Deus. Elas sempre me dizem: ‘Deus nos ajudará’”, conta a superiora.
Gabriel Romanelli, o padre nascido na Argentina que é pároco da igreja em Gaza, está confinado em Belém desde o início da guerra. Ele diz que o Papa Francisco lhe telefonou pelo menos quatro vezes desde o início da guerra e está “muito preocupado” com o que está ocorrendo em Gaza. O padre diz que o papa espera “uma pausa nos bombardeios” e a “abertura de corredores humanitários para os milhares de pessoas que precisam deles neste momento”.
O número de mortos aumentou para quase 3.500 no enclave, e estima-se que haja um milhão de pessoas deslocadas. No entanto, em meio ao caos, a vida parece continuar normalmente.
Yousef Assad, um padre egípcio, preside todos os dias a missa pelo seu povo. Ele até celebrou no domingo passado o batismo do pequeno Daniel Ala Shaheen, o que é um raio de esperança para o futuro da comunidade cristã de Gaza – apenas uma entre os dois milhões de pessoas que vivem em um enclave abandonado à própria sorte.
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Cristãos de Gaza: “Vivemos juntos, morreremos juntos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU