06 Setembro 2023
A Igreja das favelas, comprometida com os pobres, com aqueles que estão confinados a viver frequentemente à margem da sociedade, quis deixar claro para o candidato da extrema-direita argentina, Javier Milei, que com o Papa Francisco ninguém mexe, que eles não ficarão calados diante dos insultos vergonhosos proferidos contra o Papa argentino.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Por esse motivo, em 5 de setembro, eles organizaram uma missa de reparação, realizada na porta da paróquia Virgen de Caacupé, na Villa 21-24, no bairro de Barracas, em Buenos Aires, com uma faixa onde se lia: "em solidariedade com o Papa e com os pobres", presidida por dom Gustavo Carrara, vigário geral da arquidiocese e responsável pelo cuidado da pastoral das favelas, recebido junto com mais de 40 concelebrantes, incluindo bispos e padres de diferentes partes do país, com gritos de "Viva a Igreja".
O bispo auxiliar começou destacando que "estamos celebrando esta missa em apoio ao Papa Francisco", lembrando que "ele prega por um mundo em favor da fraternidade e da amizade social, um mundo em que ninguém é descartado, em que ninguém é esquecido, em que ninguém é deixado de fora do caminho da vida, e por isso o Papa muitas vezes recebe ofensas e insultos". Uma missa para dizer "que amamos o Papa e que precisamos de sua palavra, precisamos que ele continue a acender em nós o coração da esperança, que outro mundo é possível", insistiu Dom Gustavo Carrara.
Foto: Luis Miguel Modino
Em sua homilia, o padre Pepe Di Paola, coordenador dos Lares de Cristo e membro da equipe de sacerdotes das favelas e dos bairros populares, começou lembrando Madre Teresa de Calcutá, "a santa da caridade, aquela que nos ensinou não em nome da caridade, mas em caridade, aquela que nos ensinou não com palavras, mas com sua vida, o que significa doar-se aos outros, servir aos outros", lembrando sua visita à Argentina e que a missa foi celebrada nesse dia porque era o dia de Santa Teresa de Calcutá, a mãe dos pobres.
O local escolhido teve a ver com a presença simples, no meio do povo, em 1997, do então arcebispo coadjutor, Dom Jorge Mario Bergoglio, no dia em que a igreja foi inaugurada. No dia em que a Virgem de Caacupé foi levada para lá, segundo Di Paola, o atual Papa Francisco "acompanhou o povo das favelas em um momento de importância e mudança que tinha a ver com as raízes que são vividas aqui", e que continuou a visitar as favelas da capital argentina de forma permanente, definindo-o como "um bispo que rompe com os moldes e caminha pelos bairros e favelas", sempre escutando o que os padres e a comunidade lhe diziam.
Em nome dos Lares de Cristo, organização promovida pelo atual pontífice, Di Paola disse que "o Papa Francisco é, para nós e para toda a rede católica, aquele que guia, aquele que ilumina, aquele que, mesmo com suas palavras, alcança os corações das pessoas que não pertencem à nossa religião". Ele definiu as palavras de Milei contra a justiça social como indignas de um candidato, deixando claro que isso faz parte do Evangelho, da Doutrina Social da Igreja.
Foto: Luis Miguel Modino.
Um ataque que, de acordo com Di Paola, "vai às raízes de nossa fé e humanismo, porque a justiça social não se baseia em rancores e inveja, como é alardeado nas redes sociais, mas sim no que significa compreensão e liberdade, e liberdade não é apenas fazer o que é conveniente para mim, é colocar em prática o que eu também posso fazer pelos outros", enfatizando que a base de nossa fé é o amor.
O padre da favela criticou a classe política, "que se esqueceu da agenda dos bairros", desafiando-os a colocar na mesa essa agenda, que tem a ver com segurança, trabalho, educação e saúde. Por isso, ele reafirmou o compromisso dos padres das favelas de "estar sempre trabalhando ao lado dos mais humildes, dos bairros populares, das favelas, ao lado da religiosidade do povo, e sempre nos organizando para servir ao próximo".
A missa contou com a presença de um grande número de pessoas e representantes do mundo social, acadêmico, político e sindical do país, com destaque para a presença do ganhador do Prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel. No fim da celebração, foi lido um comunicado da Equipe de Sacerdotes de Bairros e Vilas Populares da Argentina, no qual expressaram seu mais enérgico repúdio às diversas declarações feitas por Milei contra o Papa Francisco, nas quais o acusa de ser comunista, gerando ódio contra sua figura. Diante disso, eles mostraram mais uma vez seu apoio inabalável ao pontífice.
Foto: Luis Miguel Modino
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Argentina. Os padres da favela deixam claro para Milei que com o Papa Francisco ninguém mexe - Instituto Humanitas Unisinos - IHU