08 Agosto 2023
"Não é fácil ser padre hoje. No entanto, o fim da civilização paroquial não significa o fim da Igreja, mas apenas, como muitos observam com perspicácia, o fim de um certo modelo de Igreja. E talvez seguirá também o fim de um certo modelo de padre e de pároco".
O artigo é de Giampaolo Ferri, pároco e diretor do Departamento de comunicação social da diocese de Mântua, publicado por Settimana News, 04-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Não é fácil ser padre hoje. Ainda mais ser pároco. Sim, porque o mundo, mesmo o italiano, aqueles dos mil campanários, mudou profundamente, enquanto a teologia do ministério ordenado não.
Não é fácil ser padre hoje em um mundo em que o próprio celibato, talvez também por causa dos escândalos conhecidos por todos, é considerado um elemento de suspeita, quando não a ser abolido o mais rápido possível.
Não é fácil ser padre hoje, ainda mais se for chamado a viver num contexto em que, quando você não é agredido, é no máximo tolerado como um elemento contextual, um tanto "folclórico", ainda útil para aquela faixa de italianos de cabelos brancos aos quais, para usar uma expressão bastante clara, realmente não agradam essas mudanças na Igreja.
Hoje o ministério do pároco, para além do momento de entrada nas novas comunidades, é chamado a lidar diariamente com aquele sentimento de frustração pessoal e dos outros que o acompanha em cada sua ação. Existe a consciência de uma civilização paroquial morta, e nessa situação pede-se que se faça vista grossa, que se minimize, que se mantenha de pé o que já não consegue mais ficar de pé. Qualquer padre, idoso ou jovem, sente na pele aquele seu ser anacrônico, um corpo estranho num mundo cada vez mais plural e ao qual a sua proposta já não diz mais nada. Ou talvez o jeito com que ele estava acostumado a realizá-la.
Muitos padres sentem hoje no coração o peso dos jovens que vão embora, das pessoas que não veem mais na Igreja um lugar onde ser acolhidos e livres, das reclamações dos idosos que não encontram mais as suas certezas religiosas ligadas a práticas de um tempo definitivamente superado.
E, enquanto o Papa Francisco invoca uma Igreja das portas abertas, boa parte da organização da qual ele é a cabeça fala e age com uma linguagem bem diferente, principalmente com aqueles que encontraram essas portas, e ainda as encontram, bem fechadas. E quem, como qualquer padre - de centro ou de periferia, de cidade ou de interior - se encontra neste momento na linha da frente, sente as suas lágrimas virem à tona como um rio em cheia, que já não consegue encontrar qualquer ribanceira para contê-las.
Quem escreve pertence a um mundo em via de extinção. Ou pelo menos indo a pique. Aquele dos padres. É inútil enfiar a cabeça na areia. Há uma forma de viver esse seguimento do Senhor Jesus que não é mais atrativa para ninguém, e talvez - mas isso a história o dirá - o próprio Deus esteja atuando. Olhando mais de perto, de fato, tal aceleração da mudança da nossa Igreja, mesmo em Mântua, não pode ser obra apenas do homem. Estou profundamente convencido de que está em curso um "emagrecimento forçado" tremendamente doloroso, cujas raízes não estão todas na terra.
Não é fácil ser padre hoje. No entanto, o fim da civilização paroquial não significa o fim da Igreja, mas apenas, como muitos observam com perspicácia, o fim de um certo modelo de Igreja. E talvez seguirá também o fim de um certo modelo de padre e de pároco. Sairão disso padres e paróquias mais adequadas para o mundo vindouro. Talvez até aquele em que os padres poderão se casar, mas só a partir de uma certa idade (citação bem conhecida dos leitores).
Na última entrevista concedida pelo cardeal Martini, publicada no Corriere della Sera no dia seguinte à sua morte (01-09-2012), o arcebispo dizia que “a Igreja está 200 anos atrasada. Por que não se sacode? Estamos com medo? Medo em vez de coragem?”
Quem escreve desempenha com alegria o serviço tanto de pároco como de professor de teologia, e confia com absoluta confiança tanto no magistério como na teologia. Ambos estão caminhando. Com seus tempos. Mas se apressem, por favor, porque estamos aqui embaixo!
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A dificuldade de ser padre hoje - Instituto Humanitas Unisinos - IHU