A Igreja romana e o antissemitismo. Artigo de Luigi Sandri

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06 Junho 2023

O filme recentemente lançado sobre a história de Edgardo Mortara traz à tona as contradições da Igreja Católica em relação ao antissemitismo. Somente após o Concílio Vaticano II, a Igreja Católica oficialmente se distanciou do antissemitismo. O dilema da beatificação de Pio IX e Pio XII permanece, com opiniões divergentes sobre suas atitudes durante o Holocausto.

O artigo é de Luigi Sandri, jornalista italiano, publicado por L'Adige, 05-06-2023.

Eis o artigo.

A história de Edgardo Mortara - a criança judia raptada por Pio IX porque já havia sido batizada às escondidas, e até mesmo sem o consenso dos pais, por uma empregada católica - abre problemas históricos que revelam as profundas contradições da Igreja romana e a dificuldade do papado em negar seu antissemitismo.

Um filme, recém-lançado, baseado em fatos ocorridos em 1858 em Bolonha, na época pertencente ao estado pontifício, documenta a mentalidade daquele pontífice: uma criança batizada já "pertencia" à Igreja e, portanto, era "obrigatório raptá-la" de sua "perigosa" família para poder educá-la na sua nova e "verdadeira" fé. A pressão psicológica do papa Mastai Ferretti sobre o menino foi tão forte que, quando ele cresceu, Mortara decidiu tornar-se padre.

Mesmo para as autoridades católicas, hoje aquela ação parece repugnante: um verdadeiro "rapto".

Mas, nos séculos passados? Sem desenterrar a história milenária e variegada do antissemitismo (em Trento conhecemos bem a tragédia, no século XV, de "são" Simonino, de cuja morte foram culpados judeus inocentes!), vamos parar em meados do século XIX: o mundo católico, da época, em sua maioria defendeu Pio IX; muitos se sentiram desconfortáveis; poucos ousaram criticá-lo. A mentalidade "justicialista" foi difícil de morrer e chegou no século XX. O rabino chefe da comunidade judaica de Roma, Riccardo Di Segni, afirmou recentemente que, após a Segunda Guerra Mundial, Pio XII se recusou a entregar em instituições judaicas crianças judias escondidas em conventos por seus pais, para escapar dos nazistas.

Seria necessário o Concílio Vaticano II (1962-65), proposto por João XXIII, para que a Igreja Católica tomasse oficialmente distâncias do antissemitismo.

O caminho, além disso, não foi linear. Quando, no início de 2000, soube-se que em setembro daquele ano, João Paulo II beatificaria Pio IX e o Papa Roncalli, grupos católicos expressaram seu protesto público pela promoção do "santo raptor". Por fim, Karol Wojtyla, inflexível, confirmou sua decisão.

No pano de fundo, um dilema crucial: alguns católicos acreditavam que, por seus muitos méritos, Mastai Ferretti tinha que ser "beatificado"; outros, pelo contrário, pensavam que, sem querer julgar a sua consciência, fosse absurdo elevar às honras dos altares aquele que abençoara o rapto de uma criança judia.

Agora é muito improvável que Pio IX seja canonizado. Mas continua o problema da beatificação de Pio XII. É difícil examinar todo o seu pontificado; e, naquele contexto, mais difícil ainda avaliar a atitude do papa Pacelli que, pública e expressamente, nunca, apesar de saber, denunciou o Holocausto (o extermínio dos judeus decidido por Hitler). Alguns estudiosos acreditam que ele fez bem em se calar, para não irritar os nazistas, ao mesmo tempo favorecendo a ação de organizações católicas (paróquias, institutos, dioceses) empenhadas em salvar os judeus; outros, ao contrário, definem seu "silêncio" sobre o Holocausto como escandaloso. E então?

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