19 Abril 2023
- O jesuíta alemão deixou a comissão vaticana de antipedofilia há três semanas.
- "Eu vi com meus próprios olhos como o papa ouviu e escuta, nisso ele é um exemplo absoluto de como a Igreja deve ser, não apenas os bispos e líderes, mas todos os seus membros, que às vezes não querem ouvir, não apenas os superiores, mas também os simples fiéis".
- Zollner explicou que "não foi nada fácil" para ele sair da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, porque o que menos ele deseja é prejudicar o papa, também jesuíta. Sublinhou, porém, que a Igreja não deve "fugir quando alguém se aproxima dela para ser ouvido".
A reportagem é publicada por Religión Digital, 17-04-2023.
O jesuíta alemão Hans Zollner, especialista na luta contra os abusos sexuais na Igreja, explicou hoje sua saída da Comissão para a Tutela dos Menores afirmando que, em sua opinião, as vítimas “não foram suficientemente ouvidas”.
"Há uma impressão contínua por parte das vítimas de que não são ouvidas", disse ele em coletiva à Associação de Imprensa Estrangeira, em Roma.
No dia 29 de março o padre e psicólogo alemão surpreendeu ao anunciar sua saída da comissão criada em 2014 pelo Papa Francisco para combater os abusos, da qual fazia parte desde sua fundação.
Gran interés en encuentro ahora con @hans_zollner en @Stampa_Estera, experto en lucha contra abusos que se fue de la Pontificia Comisión para la Tutela de Abusos de Menores creada por @Pontifex_es hace nueve años pic.twitter.com/I9LWbxAZ57
— Elisabetta Piqué (@bettapique) April 17, 2023
"Eu vi com meus próprios olhos como o papa ouviu e escuta, nisso ele é um exemplo absoluto de como a Igreja deve ser, não apenas os bispos e líderes, mas todos os seus membros, que às vezes não querem ouvir, não apenas os superiores, mas também os fiéis simples", lamentou.
Não é a primeira vez que um membro da citada comissão deixa o cargo. Em 2016 e 2017, o britânico Peter Saunders e a irlandesa Marie Collins, ambos vítimas de abusos, retiraram-se em protesto contra a falta de colaboração do Vaticano.
Zollner explicou que, para ele, "não foi nada fácil" deixar a Comissão para a Tutela dos Menores porque o que menos ele deseja é prejudicar o papa, também jesuíta. Ele sublinhou, porém, que a Igreja não deve "fugir quando alguém se aproxima dela para ser ouvido".
Declaraciones de @hans_zollner, miembro fundador de la Comisión para la Protección de Menores del #Vaticano a la @Stampa_Estera explicando los motivos que le llevaron a su dimisión.
— Eva Fernández (@evaenlaradio) April 17, 2023
Modera @Dariomenorroma pic.twitter.com/vPAEfJqIba
"Não entendemos por que é tão difícil de escutar"
“Muitas pessoas, inclusive eu, não entendem porque é tão difícil escutar. Não se deve nem responder, às vezes basta acompanhar as pessoas em suas feridas para ajudá-las”, considerou.
O também diretor do Instituto de Antropologia da Pontifícia Universidade Gregoriana denunciou a “falta de transparência, cumprimento de obrigações e responsabilidades” na comissão e alertou que esta operação pode “abrir as portas a abusos e negligências”.
“Não pretendo ser polêmico ou prejudicar a Comissão para a Tutela dos Menores, mas sim melhorar seu trabalho e funcionamento de acordo com as preocupações das vítimas e em sintonia com as do Santo Padre”, argumentou.
Após a partida de Zollner, o cardeal Seán O'Malley, que preside o grupo, disse em comunicado que o papa "aceitou o pedido, agradecendo-lhe profundamente por seus muitos anos de serviço".
O 'caso Rupnik', sem relação com sua saída
Da mesma forma, Zollner afirmou que em sua decisão de deixar a comissão o caso do jesuíta esloveno Marko Ivan Rupnik, acusado de abusar de freiras, não pesou muito, embora sempre tenha sido muito crítico sobre como o Vaticano estava procedendo.
No dia 30 de setembro, Francisco renovou a comissão com novos membros e com paridade de gênero, já que agora é composta por dez mulheres e dez homens, representando todos os continentes, e Zollner foi um dos componentes renovados em seu cargo.
Os novos membros foram os bispos Peter Karam e Thibault Verny, o padre Tim Brennan, as freiras Mary Niluka Perera e Annah Nyadombo, a professora mexicana Irma Patricia Espinosa Hernández e outros profissionais, como Maud de Boer-Buquicchio, Anne-Marie Emilie Rivet-Duval, Teresa Devlin e Ewa Kusz.
O chileno Juan Carlos Cruz, um dos três sobreviventes dos abusos do padre Fernando Karadima e muito próximo do pontífice, que também é a única vítima desta comissão, para a qual foi nomeado no ano passado, continua como membro.
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Zollner: “As vítimas de abuso não foram suficientemente ouvidas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU