“Entre nós se escondem criminosos, é preciso uma investigação também na Itália”. Entrevista com Hans Zollner

Foto: Freepik

Mais Lidos

  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS
  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

24 Janeiro 2022

 

"Estamos em choque com o relatório sobre a pedofilia na arquidiocese de Munique e Freising. Essas investigações "são necessárias, e seria necessária uma também na Itália". Mesmo que “agora o fenômeno seja claro: no mundo, em todas as regiões, entre 3 e 5% dos padres são abusadores. Temos criminosos entre nós. É por isso que ainda temos que dar passos adiante para purificar a Igreja”.

Esta é a análise do jesuíta alemão padre Hans Zollner, teólogo e psicólogo, presidente do Centro para a Proteção dos Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana, ao qual o Papa Francisco confiou a prevenção dos abusos sexuais na Igreja.

 

A entrevista com Hans Zollner é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 21-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis a entrevista.

 

Qual foi sua reação ao dossiê de Munique?

Como depois de outras publicações de dados desse tipo, estamos chocados. Estamos devastados pela dimensão numérica e pela continuação ao longo do tempo, durante décadas, dessas violências.

 

O que mais o preocupa?

A ocultação e encobrimento dos casos, as omissões e a indiferenças por parte das hierarquias e dos responsáveis das dioceses, que não realizaram as intervenções que o direito canônico previa e prevê.

 

Que significado assume o envolvimento de Joseph Ratzinger no relatório?

Agrava a imagem do caso.

 

O que a Igreja está fazendo concretamente para erradicar esse flagelo dentro dela?

Está trabalhando muito no âmbito da prevenção. Em primeiro lugar na formação de sacerdotes, religiosos e religiosas, catequistas e outros colaboradores. Mas devemos aprender a ser mais responsáveis.

 

Em que sentido?

Nossas estruturas ainda não mudaram o método e o sistema no que diz respeito à transparência sobre as responsabilidades: embora fique claro quem abusa, não é tão simples fazer com que assuma responsabilidade aqueles que o encobriu para ‘salvar a cara da instituição’, quem deveria ter vigiado, quem deveria ter intervindo segundo as indicações das várias leis e também segundo a nossa missão de homens de Igreja: a atitude evangélica de proteger os mais fracos.

 

Investigações como a de Munique podem levar a algo de bom? Seria necessária uma assim também na Itália?

Sim, essas investigações conduzidas de modo objetivo e publicadas são absolutamente úteis. E serviria também na Itália, é claro, para olhar na cara a realidade e não se continuaria a negar algo que é continuamente desmentido, ou seja, que na Itália não há abusos sexuais na Igreja.

Embora em geral, paradoxalmente, tudo agora esteja claro do ponto de vista da difusão do fenômeno: no mundo, o número de padres abusivos está entre 3 e 5% em cada região. Após a divulgação dessas investigações, seria necessário, em primeiro lugar, começar uma obra de escuta das vítimas. E depois modificar as relações de poder na Igreja, que deveriam ser mais compartilhadas e menos autoritárias, e abrir-se às verificações com a possibilidade de ser julgados também por outros especialistas fora do recinto católico. E, além disso, deveríamos nos fazer uma pergunta crucial.

 

Qual?

É mais importante imaginar que não corresponde à realidade, ou admitir que não somos santos, que pecamos e que também temos criminosos entre nós? Jesus disse: a verdade vos libertará. Só depois da confissão pode chegar a absolvição e o perdão.

 

Leia mais