07 Outubro 2021
“Agora as realidades eclesiásticas de outros países precisam ter a mesma coragem da Igreja francesa. Espero que também a Itália. A Igreja não é imaculada e, infelizmente, é feita também de pecados e crimes”. O homem de confiança do Papa, o jesuíta alemão Hans Zollner, 54, comenta a divulgação do Relatório da Igreja francesa sobre os abusos. Zollner lidera o Instituto de "Antropologia, estudos interdisciplinares sobre dignidade humana e cuidado de pessoas vulneráveis" da Universidade Gregoriana, um dos centros mais prestigiosos do mundo, tanto que, na quinta-feira, Angela Merkel, o visitará antes de se encontrar com o Papa.
A entrevista é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 06-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por que a visita de Merkel?
O Instituto nasceu em colaboração com o Departamento de Psiquiatria e Psicoterapia da Universidade Clínica Estatal de Ulm. As instituições alemãs sempre acompanharam o nosso trabalho. Acredito que a chanceler esteja interessada em entender melhor como ajudamos a Igreja a prevenir. A Igreja alemã foi abalada por um relatório semelhante àquele francês. Mas os abusos dizem respeito a toda a sociedade.
Os números do relatório francês são impressionantes.
Por trás do choque desses números e das dimensões dessa chaga está a vítima, a sua família, o contexto em que vive. Precisamos pensar em cada vítima: é pela justiça e pela salvaguarda das pessoas que a Igreja quis este trabalho.
O senhor falou com os bispos franceses?
Encontrei-me com eles há duas semanas. Estavam cientes do eco que o Relatório teria e juntos reconheciam que o caminho da verdade e da sinceridade é o único que deve ser trilhado. Admitir os crimes do passado e as responsabilidades é o único ponto de partida. As responsabilidades são sistêmicas e institucionais. Os crimes foram tratados com negligência e também culpadamente e ativamente ocultados.
Há resistências na Igreja para investigar e fazer uma limpeza?
Sim, também porque encarar essa realidade é difícil para muitas pessoas que pensam que a Igreja seja imaculada, um lugar sem pecado e crimes. Não é assim. Para além do plano teológico, a realidade humana é constituída também por homens que erram, que cometem crimes e que os encobrem. Existem pessoas feridas na Igreja e elas devem estar em primeiro lugar. Muita coisa mudou de 2019 para hoje, desde que Francisco convocou as vítimas ao Vaticano e mudou as Normas do direito canônico em um sentido mais restritivo. Este é o caminho e não se pode voltar atrás.
Podemos esperar demissões dos bispos franceses?
Se um bispo não fez o que a legislação de seu Estado e o Código de Direito Canônico, lhe pedem, sim. Na Alemanha, o Cardeal Marx, mesmo não sendo diretamente culpado, ofereceu sua renúncia como sinal de que assumia responsabilidades pela Igreja que representa especificamente. O Papa rejeitou a renúncia, mas o seu gesto, inclusive para servir de sinal para todos, deveria fazer os outros pensarem.
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O conselheiro do Papa, Hans Zollner: “Agora cabe aos bispos italianos investigar a pedofilia” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU