Por: Jonas | 16 Março 2012
“É um insulto”. Marie Collins, a única vítima que participou no congresso internacional organizado pela Pontifícia Universidade Gregoriana (de 6 a 9 de fevereiro), sobre os abusos sexuais do clero, critica fortemente o pedido dirigido aos fiéis, pelos bispos irlandeses, de rezarem para a remissão dos pecados cometidos pelos sacerdotes pederastas. Atualmente, como porta voz das vítimas irlandesas, Collins levanta a voz contrária aos bispos da Irlanda: “São eles que devem se redimir e não os paroquianos”.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 14-03-2012. A tradução é do Cepat.
Faltou, aos religiosos, um pouco de humildade ao enfrentar o escândalo da pederastia, que sacudiu a Igreja irlandesa. Enquanto, após a visita apostólica requerida por Bento XVI, para encarar adequadamente o escândalo da pederastia que envolveu e obrigou a renuncia de quase a metade dos bispos do país, a Conferência Episcopal Irlandesa identificou como prioridade a defesa “das novas gerações”. De fato, é isto o que pretendem os bispos da Irlanda (seguindo o caminho que está fazendo a Igreja estadunidense, para onde, e não casualmente, viajaram visitadores apostólicos como os cardeais Sean O’Malley e Timothy Dolan), e enfatizaram isso durante a última assembleia plenária. O comunicado dos bispos destacou “o amplo alcance do trabalho que o Conselho nacional para a defesa das crianças” empreendeu.
Além disso, apontaram no documento que os responsáveis do Conselho, o presidente John Morgan e a diretora dos programas, Teresa Devlin, operam em sintonia tanto com os bispos como com os superiores das congregações religiosas. Segundo os planos predispostos pelo organismo, antes do próximo verão se completará o processo de revisão das normas para a segurança das crianças, na esfera das estruturas religiosas. Outro tema tratado foi o do esforço de organização para preparar o 50o Congresso Eucarístico Internacional, que acontecerá no país de 10 a 17 de junho. Participarão delegações de 95 países e, sobretudo, do Canadá, país que recebeu o encontro em 2008.
A Conferência Episcopal Irlandesa dirigiu um convite aos fiéis para que rezem “intensamente em sinal de reparação pelo pecado dos abusos, que provocou um dano tão grave”. Porém, Marie Collins disse que “as pessoas não têm nenhuma necessidade de fazer penitência”. As vítimas dos sacerdotes pederastas, acrescentou, “querem ver os bispos repararem e se penitenciarem, mortificando-se de alguma maneira”. Para ela, “constitui um insulto pensar que os bispos esperam que os que farão a reparação do assunto sejam as pessoas” normais, que esperam que seja feito algo a respeito. Outro porta-voz das vítimas dos abusos sexuais do clero, Andrew Madden, considera muito injusto que os expoentes das hierarquias eclesiásticas, envolvidos na ocultação dos casos de pederastia, não sintam como um dever moral renunciar aos seus postos. E indica: “Não acredito que estes bispos tenham credibilidade suficiente para dirigirem-se às vítimas de abusos, nem para falarem de proteção da infância”. Maeve Lewis, do grupo de apoio “One in Four”, acusou a Conferência Episcopal Irlandesa de não ter garantido, adequadamente, a indenização das vítimas da pederastia do clero. A “tolerância zero”, que Bento XVI estabeleceu, deveria ter feito com que todos os bispos irlandeses renunciassem para que a igreja, carente de credibilidade, seja reconstruída do zero. Isto não ocorreu, porém o fato de que muitas dioceses permaneçam sem bispo, indica que algo está mudando.
O jornal “L’Osservatore Romano” explica quais são as causas do gravíssimo fenômeno e a direção da Santa Sé em relação à violência sexual do clero. Ao referir-se à quantidade dos casos de abuso de menores pelos religiosos, o jornal vaticano sublinha que “a maior parte dos episódios ocorreram há décadas”. Nesse período, acrescenta o “L’Osservatore Romano”, “as influências sociais pioraram o estado de vulnerabilidade de alguns sacerdotes cuja preparação era inadequada para uma vida consagrada ao respeito do voto do celibato”. Aqueles candidatos ao sacerdócio, que depois se tornaram autores de abusos, “não podiam ser identificados com antecedência mediante exames psicológicos, nem com a análise de seu desenvolvimento cultural, nem com a análise de suas experiências vocacionais”. Ao contrário, “o aumento do nível de formação humana, que ocorreu nos seminários nos anos posteriores, foi o principal motivo da atual diminuição no número de abusos sexuais contra menores”.
A Igreja irlandesa segue enfrentando escândalos, muitas vezes de forma lenta e tardia. Em outubro do ano passado, o governo irlandês agradeceu ao Vaticano por sua resposta ao “Relatório Cloyne”, apesar de manter suas críticas à carta de 1997, em que a Santa Sé “dava pretexto aos sacerdotes para encobrir as acusações de abusos sexuais”. O “Relatório Cloyne” (400 páginas aterradoras) foi publicado em julho do ano passado. Nele se afirma, entre outras coisas, que dom John Magee, que foi secretário de três papas e que depois seria bispo em sua pátria (renunciou em 2010), ignorou as indicações para a proteção dos menores de 1996, que a Conferência Episcopal Irlandesa estabeleceu. Além disso, não denunciou à polícia pelo menos 9 dos 15 casos de abusos sexuais verificados naquele período.
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“Penitência, sim”, propõe vítima de abuso sexual - Instituto Humanitas Unisinos - IHU