28 Março 2022
Três institutos teológicos em Paris estão organizando uma série de conferência para começar um processo de longo prazo para implementar as recomendações da Comissão de Abusos da França.
A Comissão Independente sobre Abusos Sexual na Igreja (CIASE) chocou muitas pessoas no último mês de outubro quando foi publicado seu mordaz relatório sobre pedocriminalidade nas paróquias e instituições católicas.
CIASE, que era comissionada pela Conferência dos Bispos Franceses (CEF, em francês) e a Conferência de Religiosos e Religiosas da França (Corref), também publicou várias recomendações para ajudar a Igreja a fazer as mudanças necessárias para eliminar tais abusos.
Os três institutos teológicos em Paris aderiram a CEF e a Corref para sediar uma série de quatro conferências públicas para estudar as questões-chave levantadas por essas recomendações e buscar a melhor forma de alcançá-las.
Os institutos são: Institut Catholique de Paris, o Collège des Bernadins, e o Centre Sèvre, a escola jesuíta de filosofia e teologia localizada na capital francesa.
A primeira conferência ocorrerá na quarta-feira, no Centre Sèvres.
O padre Alain Thomasset, o decano da escola de teologia da instituição jesuíta, fala nesta entrevista sobre os objetivos e esperanças da série de conferências.
A entrevista é de Clémence Houdaille, publicada por La Croix, 24-03-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Como essa colaboração entre as três faculdades de teologia localizadas em Paris vem à tona?
Reunir nossas três instituições é uma boa forma de respondermos juntos às preocupações católicas que se sucederam da publicação do relatório da CIASE.
Talvez haja diferenças na sensibilidade e nuances entre nós, e isso é bom. Isso não evita que possamos trabalhar juntos.
As recomendações da CIASE requerem um trabalho profundo. Quando nós no Centre Sèvre contatamos o Insititut Catholique e o Collège des Bernardins, eles imediatamente concordaram.
Um comitê dirigente foi formado, com dois membros de cada instituição, para refletir sobre os temas que nos parecem mais urgentes.
A primeira conferência, a qual foi sediada pelo Centre Sèvres, foi chamada “Vítimas no centro: reconhecimento, perdão e reconciliação”. Como vocês escolheram esse tema?
Tudo começa com a escuta às vítimas, através de seus testemunhos. A própria CIASE diz que suas propostas foram desenvolvidas fundamentadas na escuta às vítimas.
Pareceu-nos importante primeiro colocá-las no centro, para expressar quão difícil suas palavras são, para tentar encontrar como ajudar a reconhecer o que elas estão dizendo e para ajudá-las a embarcarem na jornada de reconciliação consigo com os outros próximos a elas.
Fizemos uma abordagem psicológica, com Lorraine Angeneau, psicoterapeuta, professora do Institut Catholique de Paris, que também ouve vítimas em terapia… Uma abordagem filosófica sobre a noção de perdão e justiça restaurativa com Guilhem Causse, jesuíta que leciona filosofia no Centro Sèvres… E uma abordagem mais teológica sobre a questão do sacramento da reconciliação e como acolher as vítimas quando elas vêm confiar em nós, com o padre Vincent Guibert, professor de teologia do Collège des Bernardins.
As outras três conferências serão realizadas no Institut Catholique, no Collège des Bernardins e na sede da Conferência Episcopal Francesa (CEF). Quais são os temas?
A segunda conferência, que acontece no dia 5 de abril no Institut Catholique, tratará da questão dos ministérios.
É um tema ligado à questão da sinodalidade e à questão do poder, no que diz respeito à função do ministro ordenado.
Será abordado por Dominique Greiner, professor do Institut Catholique [e editor sênior do La Croix], Anne-Marie Pelletier, teóloga que leciona no Collège des Bernardins, e Étienne Grieu, jesuíta do Centre Sèvres.
A terceira noite?
Será no dia 9 de maio no Collège des Bernardins e dedicado à questão da ética sexual.
Há uma reflexão importante a ser feita sobre esse tema, incluindo um estudo de antropologia relacional, para que essa questão não seja vista apenas como um atentado à castidade do agressor, mas também do ponto de vista do sofrimento infligido à vítima.
Os palestrantes serão Catherine Fino, do departamento de teologia moral e espiritual do Theologicum do Institut Catholique, Jacques de Longeaux, teólogo e professor dos Bernardins, e Bruno Saintôt, membro da faculdade de filosofia do Centre Sèvres.
E o último?
Será no dia 7 de junho na sede da Conferência Episcopal Francesa. A CEF e a Corref são parceiras neste ciclo.
Será ministrado pelo padre jesuíta Hans Zollner, membro da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, um dos maiores especialistas na questão dos abusos na Igreja.
Encontrou alguma resistência em organizar esta série de conferências?
Não, não na organização. Talvez haja alguns temores entre o público.
Algumas pessoas podem estar relutantes em falar sobre este assunto novamente, por medo de que a Igreja seja acusada mais uma vez. Mas, no geral, as pessoas estão muito entusiasmadas.
A primeira conferência contou com a presença de cerca de 600 pessoas, 150 delas presenciais.
São assuntos delicados. Temos que ser modestos e humildes na maneira de falar. É importante mostrar que levamos a sério o assunto.
É um projeto de longo prazo que deve ser tratado de forma multidisciplinar. Precisamos das ciências humanas, não apenas da teologia, para entendê-lo.
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França. Teólogos começam a se aprofundar nas respostas aos abusos sexuais: “Primeiro, escutar as vítimas”, diz jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU