Reabre-se o debate sobre o celibato sacerdotal

Fotos: Antonio Uquiche e Tamara Govedarov | Unsplash. Edição: IHU

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21 Março 2023

A escolha do Sinodaler Weg (o Caminho Sinodal alemão, em favor do celibato sacerdotal opcional), e as palavras “que abrem possibilidades” do papa nos últimos dias reacenderam na Igreja Católica um debate que dura há séculos. Alguns dados históricos. Jesus não obrigou os apóstolos ao celibato, tanto que, afirma o Evangelho, ele curou a sogra de Pedro. O Concílio de Niceia, primeiro ecumênico, celebrado na Anatólia, em 325 excluiu do clero aqueles que, dando uma interpretação exasperada às palavras de Cristo que exaltavam o celibato, se castravam.

O comentário é de Luigi Sandri, jornalista italiano, publicado por L'Adige, 20-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

De fato, no Oriente apenas monges e bispos eram obrigados a observá-lo, mas não os simples padres; no Ocidente, por outro lado, o celibato foi sendo favorecido também para os sacerdotes: no entanto, a primeira solene e severa legislação a esse respeito, emitida pelo Concílio de Latrão I em 1123, teve dificuldade para se afirmar, tão difundido era o concubinato dos padres. A obrigação do celibato também teve uma motivação econômica: impedir que o "benefício" (a terra que dava ao pároco o suficiente para viver) fosse repartido entre filhos e netos, esgotando assim sua renda com o passar do tempo.

Na época do Concílio de Trento, enquanto a Reforma contestava o celibato eclesiástico em suas raízes, alguns “padres” propuseram sua abolição; mas, finalmente, a norma emitida quatro séculos antes foi confirmada também para os "novos" territórios além-mar em mãos europeias. Aos poucos, mesmo ali, entre as populações que os missionários ocidentais converteram ao catolicismo, alguns africanos ou astecas e incas quiseram se tornar sacerdotes.

Mas o celibato, completamente estranho às suas culturas, muitas vezes foi acolhido não como uma escolha livre, mas como um fardo inevitável para ser ordenado padre.

No entanto, as Igrejas Católicas Orientais (surgidas nos três séculos seguintes ao Tridentino, e oriundas das comunidades já ortodoxas, que haviam aceitado o primado do papa) até hoje, e com a confirmação do Vaticano II, mantiveram o celibato opcional para os padres. Na Calábria, na diocese de Lungro, há seis séculos existe uma comunidade de origem albanesa que, embora com dificuldade (porque os bispos latinos queriam abolir esse privilégio), ainda hoje tem vários párocos casados. E assim na Sicília, na diocese de Piana degli Albanesi. A proposta do Synodaler Weg, portanto, tem raízes na história, que remontam à tradição mais antiga da Igreja Católica.

Em 2019 o Sínodo para a Amazônia havia proposto a ordenação sacerdotal de diáconos já casados: mas Francisco a ignorou.

No entanto, dez dias atrás, em uma entrevista, ele lembrou que o celibato dos padres não é um dogma, mas apenas uma medida disciplinar, que “poderia” ser alterada. O debate sobre o tema, no Sínodo dos bispos, em outubro, será inflamado: os "conservadores", alinhados pelo "não" à mudança, e os “progressistas” a favor do “sim”.

Ao fundo, a antiga questão: será que Jesus realmente se incomodará com o celibato sacerdotal opcional, visto que Pedro, por ele escolhido, era casado?

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