25 Janeiro 2023
“Negação capitalista e antropocêntrica da sombra e a memória escura, ignorância dos arquétipos, cisão suicida da natureza, dessacralização do mundo. Amnésia e anestesia, autoengano e escapismo. E um paradoxo: só o apocalipse pode ajudar a mudar as coisas, pois sem o “apocalipse” ou “revelação”, que consiste em perceber a importância existencial da memória escura, o “fim do mundo” capitalista é inevitável em sua versão mais catastrófica ou cataclísmica”, escreve Gil-Manuel Hernández Martí, professor titular do Departamento de Sociologia e Antropologia Social da Universidade de Valência, em artigo publicado por El Salto, 23-01-2023. A tradução é do Cepat.
“As opiniões que, neste momento, lhes exponho têm por base, em verdade, a condição fundamental seguinte: a vida, enquanto encerra em si mesma um sentido e enquanto se compreende por si mesma, só conhece o combate eterno que os deuses travam entre si” (Max Weber, Ciência e Política: duas vocações, 1919)
Em um contexto marcado pelo colapso do capitalismo e o capitalismo de colapso, que bem se pode chamar de capitalismo crepuscular, é altamente improvável evitar os piores cenários de um colapso desordenado, caótico e destrutivo. Essa improbabilidade se deve ao desconhecimento geral dos enraizados fundamentos míticos e psíquicos da humanidade (a memória escura como sombra e inconsciente coletivo), o que torna extremamente difícil alcançar a necessária tomada de consciência para uma guinada radical que permita à nossa moderna civilização termoindustrial “colapsar melhor”.
Não é que seja impossível tal tomada de consciência, que precisaria de um trabalho profundo por parte de uma considerável massa crítica de pessoas. No entanto, isso exigiria um tempo que não está disponível, dadas as urgências e dinâmicas do colapso em curso, especialmente visível em campos tão cruciais como o energético e o ecológico.
Como se não bastasse, o sistema capitalista tende a avançar loucamente, ignorando sistematicamente os sinais enviados pelo inconsciente, desencorajando ou dificultando, quando não criminalizando, as ideias e práticas que possibilitariam uma mudança na consciência individual e coletiva. Desse modo, com o colapso avançando, correndo contra o tempo e presos em uma fortaleza de insensibilidade sistêmica, em princípio, muito pouco pode ser feito.
Para abordar o que é memória escura, é necessário introduzir os conceitos de sombra e inconsciente coletivo retirados da psicologia profunda de Carl Gustav Jung. A sombra faz referência, na psique pessoal, aos traços ou habilidades inatas do indivíduo que desde a infância vão sendo deslocados para o inconsciente. Eles podem apresentar um caráter negativo ou de potencialidade positiva, e a qualquer momento podem aflorar como emergências da fase não visível do visível.
Existe uma sombra individual, mas Jung também se refere à sombra coletiva. Nela podemos encontrar os aspectos mais negativos e preferencialmente destrutivos (e autodestrutivos) das sociedades humanas (guerra, violência, crime, atrocidades, dominação e exploração). Segundo a psicologia junguiana, sob o mundo da razão descansa outro mundo escuro e desconhecido, o submundo, cujos influxos no mundo são muito reais.
A sombra, seja em seu aspecto individual ou coletivo, tem a ver com tudo aquilo que não aceitamos ou queremos conhecer de nós, nossas imperfeições ou vergonhas, embora também contenha energia positiva para realizar potencialidades negadas ou reprimidas. Certamente, a sombra nunca será completamente dissolvida ou totalmente afastada, mas, sim, é possível tentar se conectar conscientemente com ela e a integrar, acolhendo e processando tanto seus elementos destrutivos quanto seus aspectos emancipadores.
Contudo, o conceito de sombra só tem pleno sentido se for relacionado a outra das contribuições centrais de Jung: a referência a um “inconsciente”, em sua versão individual, que contém o conjunto de recordações pessoais, sentimentos e comportamentos esquecidos ou reprimidos, bem como o que Jung chamou de “inconsciente coletivo”, enorme e ancestral, repleto das imagens e comportamentos da humanidade ao longo de sua história.
Para Jung, o inconsciente coletivo reúne a totalidade da memória humana, constelada por arquétipos e complexos psíquicos que são universais, sempre ativos e uniformemente distribuídos. Os arquétipos do inconsciente coletivo, ou imagens primigênias compartilhadas pela humanidade, possuem a mesma qualidade, energia e capacidade de influência que os instintos biológicos.
O inconsciente coletivo é constituído pela soma dos instintos e seus correlatos, os arquétipos, que se evidenciam em mitos, cosmovisões religiosas, experiências psíquicas e construções culturais. Segundo Jung, os arquétipos são sistemas de aptidão para a ação, que incluem imagens e emoções, que supõem possibilidades de ideias herdadas e evidenciam a conexão da psique com a natureza. Atuam como fatores e motivos que ordenam os elementos psíquicos em imagens arquetípicas com capacidade de produzir efeitos no mundo material.
Jung retirou sua teoria do inconsciente coletivo e dos arquétipos que o povoam da verificação empírica da ubiquidade dos fenômenos psicológicos que não podiam ser explicados com base na experiência pessoal. Nesse sentido, seria uma espécie de substrato psíquico coletivo, constituído por motivos mitológicos recorrentes ou imagens primordiais recolhidas em mitologias de todo o mundo, que afloram como matrizes energéticas para a ação individual e social em todos os lugares e culturas, e cuja maior parte se encontra mergulhada na escuridão.
Além disso, e isso é muito importante, os arquétipos não podem ser negados, apenas integrados e interpretados de acordo com cada contexto ou etapa de transformação da consciência que a civilização vai experimentando, pois caso sejam ignorados ou neutralizados, sobrevém a neurose (e a psicose coletiva), que no plano psíquico equivale ao suicídio no plano físico.
A potência dos arquétipos e dos complexos arquetípicos derivados deles é tal que, a menos que seja realizado um colossal, árduo e longo trabalho pessoal, seja de psicoterapia, seja de imaginação ativa, seja de atenção plena e rigoroso autoexame, fica difícil perceber como nos influenciam e nos dirigem com sua força e orientação, tanto individual quanto coletivamente.
Em termos similares, expressam-se disciplinas modernas como a psicologia transpessoal e a psicogenealogia, além de formas tradicionais de conhecimento como a alquimia, a introspecção mística e as chamadas “epistemologias do Sul”, segundo a expressão do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos.
Contudo, se a partir de um cientificismo racionalista, essas visões de mundo podem ser classificadas como “esotéricas”, é preciso destacar que, como expõe o psicólogo da percepção alemão Rainer Mausfeld, em seu excelente e recente Por qué callan los corderos (2022), na ciência cognitiva e no campo da economia comportamental vem sendo estudado como o juízo humano e o comportamento na tomada de decisões se ajustam a diferentes tipos de critérios de racionalidade.
E a esse respeito, Mausfeld afirma: “Os resultados de diversos estudos permitem identificar um grande número dos chamados vieses cognitivos, que mostram que a racionalidade humana está sujeita a enormes limitações devido ao próprio desenho de nossa mente, uma vez que nosso comportamento para o juízo e a escolha está sujeito às suas próprias leis cognitivas naturais, que são características universais da espécie humana. É que, mesmo com a experiência e o treinamento apropriados, essas limitações só podem ser compensadas dentro de limites muito ajustados, dado que o processamento interno da informação ocorre de forma inconsciente e automática e é, em grande medida, robusto frente às percepções intelectuais de seu funcionamento”.
Fazer memória significa realizar um esforço para recordar algo que aconteceu entre todos os eventos e fenômenos que conformam o devir histórico. Portanto, qualquer ato de memória já é um ato de seleção, ou seja, de esquecimento, dentro do enorme âmbito fenomenológico da história. Por esse motivo, frente à memória oficial, sempre existe uma memória não evocada, uma memória escura, não ativada, escondida ou marginalizada, que se prefere não recordar ou inconscientemente permanece nas sombras.
Como já ensinava Freud, ao analisar os processos psíquicos da recordação, ocorre que a memória e o esquecimento estão indissoluvelmente ligados entre si, que a memória nada mais é do que outra forma de esquecimento e que o esquecimento é uma forma de esconder uma memória oculta, dada sua natureza problemática, desmesurada e transbordante.
Quando se aborda a natureza da memória escura, cabe bem a referência do que na física chamam de “energia escura” e “matéria escura”. Na cosmologia física, a energia escura é uma forma hipotética de matéria que estaria presente em todo o espaço, produzindo uma pressão negativa que levaria ao aumento da aceleração do Universo. Com a singularidade de que esta energia escura contribuiria com quase três quartos da massa-energia total (70%) do Universo, e estaria preenchendo uniformemente o espaço vazio. Quanto à matéria escura, trata-se de uma matéria também hipotética de composição desconhecida, que seria muito mais do que se conhece e que atua com a radiação eletromagnética.
Sendo assim, se a maior parte da energia e da matéria do Universo é “escura”, ou seja, desconhecida, mas influente, como comparação metafórica, também poderíamos falar de uma “memória escura”, que sabemos que existe e atua, mas que é “desconhecida” para a memória oficialmente construída, ou seja, para a memória institucional do sistema, que opera ao mesmo tempo como garantia estrutural do recordável e como prescrição do possível e desejável, entre a grande massa da população.
É o caso da memória superficial e oportunista ativada pela psicopolítica neoliberal e a ordem capitalista termoindustrial. Esta memória instrumental é seletiva e guiada por propósitos que emanam do presente, mas que operam com uma psicopática projeção do futuro, razão pela qual amplos setores da memória coletiva são desativados ou não ativados, sendo mantidos na escuridão devido à sua inconveniência, sua inutilidade ou sua incoerência, de acordo com os critérios crescentemente exterministas que devem assegurar a reprodução da ordem de propriedade da modernidade capitalista.
No entanto, essa vontade de poder das elites, que acreditam poder fabricar e instrumentalizar a “memória útil”, escapando das complexidades, desconfortos e profundidades da “memória prescindível”, não evita que os arquétipos e complexos arquetípicos do inconsciente coletivo, que se agitam na sombra (a memória escura e obscurecida), atenuem seu gigantesco poder e influência, pois são primordiais, pré-políticos, cósmicos e há que diz que são até anteriores à humanidade, caso se adote uma visão pamsiquista do universo.
Sendo assim, se certas versões ou potencialidades desses arquétipos vão na direção da autodestruição humana e da destruição da biosfera, e é possível dizer que historicamente isso aconteceu em conexão dialética com o antropocentrismo, o patriarcado e os sucessivos modos de exploração (escravidão , feudalismo, capitalismo), não querer reconhecer a potência desses arquétipos, com soberba racionalista e de poder, só pode levar ao desastre, pois não são forças que podem ser vencidas (são descomunais e estruturais), mas, ao contrário, como já como foi dito, só podem ser integradas e interpretadas.
O problema que se acrescenta é que a massa mundial das populações formatadas, geração após geração, sob a ignorância (especialmente moderna) do inconsciente coletivo, também desconhece o seu poder, ficando radicalmente expostas e rendidas diante dele. E sem saber quais foram as forças que nos influenciaram para chegarmos ao delirante e fáustico sistema atualmente vigente, não há muita margem para o otimismo.
Afinal, em uma dinâmica fascinante, parece que as potencialidades dos arquétipos, que podem ir tanto em uma direção libertadora e construtiva (amor e ajuda mútua), quanto opressiva e destrutiva (ódio e agressão), interpenetram-se dialeticamente com os desdobramentos e lógicas da história, que incluem seus vários modos de exploração, espirais energéticas, lutas de classes e gêneros, criações culturais e relações entre sociedade e natureza.
Assim, nessa perspectiva, é possível sugerir, com um misto de amargura e resignação, que os arquétipos projetados culturalmente como deuses, heróis ou afins, como é o caso de Saturno, Marte, Prometeu, Ícaro, Plutão, Sísifo, Narciso e Artemisa, ativados pelo capitalismo em sua versão mais negativa e destrutiva, foram ganhando a batalha frente aos aspectos mais positivos e construtivos trazidos por eles mesmos ou por Apolo, Dionísio, Afrodite e Atena, enquanto Gaia permite as coisas acontecerem, a partir de sua sabedoria orgânica e ancestral.
Se como dizia Max Weber, os deuses encarnam valores, normas e ideais diferentes e muitas vezes inconciliáveis, aplicados aos arquétipos, isto significa que é crucial estar conscientes de sua influência para poder decidir por onde se quer ir por meio de um ato de vontade, não necessariamente racional.
Dito de forma mais simples, o poder “terreno” e materialista acredita que reprime ou ao menos controla, com arrogante eficiência, o que pode questioná-lo, sejam exemplos tirados do registro antropológico do passado, que contradizem os seus dogmas centrais, sejam dramas atuais como as migrações em massa, provocadas pela desigualdade sistêmica, o declínio energético, a mudança climática e a impossibilidade de continuar crescendo sem aumentar os riscos de extinção da biodiversidade, entre outras catástrofes alimentadas pelo capitalismo crepuscular. Até o ponto em que quanto mais crepuscular é, ou seja, quanto mais é afetado e contagiado pelo colapso global que ele mesmo provoca com sua própria lógica, mais tenta manter controlada (reprimida) a memória escura, que, no entanto, a partir do inconsciente coletivo, empuxa com a força descomunal e atávica dos arquétipos.
O racionalismo capitalista, narcisista e tecnofundamentalista até o cerne acredita absurdamente que pode domar e domesticar a natureza, também a natureza psíquica, inclusive, espremendo-a para extrair ainda mais lucros (capitalismo cognitivo ou de vigilância). Mas o escuro, sempre ambivalente, sempre ativo, ao estar subjugado e não exposto ao trabalho alquímico da consciência desperta, não cede em sua pressão e se infiltra por toda parte, multiplicando as fissuras de um sistema decrépito e amuralhado, obstinado a não ventilar o ambiente rarefeito (competitividade, destruição, violência, depredação, guerra, mal-estar crônico) porque avalia, a partir de um pragmatismo estreito, que isso lhe beneficia. E sim, provavelmente a curto prazo, mas aumentando suas próprias contradições, possibilitando um colapso catastrófico e de passagem restringindo as probabilidades de uma transformação social libertadora e emancipadora.
É verdade que o alinhamento consciente (irresponsável) ou inconsciente (caótico) do capitalismo crepuscular com os arquétipos mais destrutivos ou, se se preferir, com as potencialidades mais destrutivas dos arquétipos que se agitam no inconsciente coletivo, o sustentam momentaneamente, mas, por sua vez, faz com que inevitavelmente declinem, como em um lento afundamento em areias movediças.
Quando Jorge Riechmann afirma que somos um “símio avariado”, talvez a “avaria” tenha a ver com essa ignorância sistêmica recorrente do anthropos acerca de sua sombra e seu inconsciente, que o senil Capitaloceno apenas exacerbou. E diante desse panorama de sombra não reconhecida, de memória escura negada, talvez Gaia permanece serena, provavelmente triste e compassiva, enquanto a humanidade precisa pelejar consigo mesma.
Francis Weller e Joanna Macy consideram que os dois principais problemas de nossa civilização são a amnésia e a anestesia. Amnésia, porque tristemente nossa sociedade transformou os rituais da vida em rotinas da existência, perdendo-se as necessidades essenciais que, durante milênios, alimentaram as comunidades humanas. De modo que o esquecimento da “linguagem da alma” foi nos deixando desorientados, desamparados e amedrontados, tornando-nos, paradoxalmente, muito mais vulneráveis às perdas. E também desprovidos do mito que, segundo Karen Armstrong, sempre serviu como guia para levar uma vida mais plena e positiva. As consequências dessa amnésia são a depressão, a ansiedade e a solidão.
Quanto à anestesia, seria o resultado da dificuldade em conseguir gerir uma dor e um vazio muito grandes, que se tenta gerir com curas analgésicas, álcool, drogas, trabalho, consumo, telas etc., sabendo intimamente que não somos feitos para viver vidas superficiais, resignadas e sem sentido. A anestesia, em suma, apenas aumentaria nosso sofrimento, enquanto são desenvolvidos os estágios terminais do que Byung-Chul Han chama de “sociedade paliativa”.
Negação capitalista e antropocêntrica da sombra e a memória escura, ignorância dos arquétipos, cisão suicida da natureza, dessacralização do mundo. Amnésia e anestesia, autoengano e escapismo. E um paradoxo: só o apocalipse pode ajudar a mudar as coisas, pois sem o “apocalipse” ou “revelação”, que consiste em perceber a importância existencial da memória escura, o “fim do mundo” capitalista é inevitável em sua versão mais catastrófica ou cataclísmica.
Em outras palavras: só o apocalipse como revelação da espécie pode nos ajudar a enfrentar melhor o apocalipse entendido como colapso, possibilitando extrair sementes promissoras e possivelmente emancipatórias. É possível supor que é a isso que se referem os colapsólogos Servigne, Stevens e Chapelle quando defendem que “outro fim do mundo é possível”.
Mas seria trair o realismo antropológico não insistir nas potencialidades positivas, construtivas e libertadoras dos arquétipos, caso sejam cultivadas e estimuladas, porque estão disponíveis nessa memória escura da humanidade. A esse respeito, basta citar o livro O despertar de tudo: Uma nova história da humanidade (2022), de David Graeber e David Wengrow, que expõe brilhantemente como a narrativa ocidental moderna de progresso pode ser questionada e refutada, baseando-se na evidência científica que só veio à luz nas últimas décadas. Uma evidência que mostra, através de não poucos testemunhos e narrativas, tanto da pré-história quanto dos testemunhos dos povos originários, que outras realidades são sempre possíveis.
Por exemplo, a ausência de elites governantes e sistemas de gestão de cima para baixo em inúmeras sociedades complexas, com pouca ou nenhuma evidência de hierarquias sociais, com trajetórias mais igualitárias, mesmo em ambientes urbanos, operando com princípios muito diferentes dos atualmente dominantes. Sociedades em que predominaram valores como a liberdade, a igualdade, a democracia, a não-violência e o florescimento da flexibilidade e a criatividade política. Em definitivo, evidências de que nas sociedades humanas existe a possibilidade real de retificar e experimentar, afastando-se de modelos piores de sociedade e construindo modelos melhores.
Como destacou Ferran Puig Vilar, o colapso em curso não precisa ser o fim do mundo, ainda que, sim, seja o fim do mundo que conhecemos. Uma mudança histórica, cosmológica e de paradigma, diante da qual será muito necessária uma ação intersticial e resiliente, capaz de aproveitar os atuais interstícios do sistema e os espaços que vá criando em seu descenso, para nos situarmos fora dele e exercermos cada vez mais pressão conforme as novas iniciativas prefigurativas vão ganhando forma.
Conforme afirma Franco “Bifo” Berardi, não é possível deter o apocalipse produzido por cinco séculos de devastação imperialista, mas “é possível criar ilhas, ainda que limitadas no tempo e no espaço, onde a depressão seja suspensa e seja possível a vida feliz”. Consequentemente, com um mergulho determinado em nossa memória escura, seria imperativo interpretar arquetipicamente o sentido do tempo e, mesmo sem plenas garantias, passar a gerar transformações partindo da escala local.
Só assim, atravessando da melhor maneira possível o turbilhão do colapso sistêmico, é possível ir gerando “brotos saudáveis”, ou seja, espaços de resistência, resiliência e refundação do vínculo social. Espaços obviamente pós-capitalistas que precisarão ser constituídos com base no confederalismo democrático decrescentista e nos pressupostos simbioéticos inerentes à cosmovisão de Gaia e à concepção de um universo com sentido.
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Memória escura no capitalismo crepuscular - Instituto Humanitas Unisinos - IHU