21 Novembro 2022
O encontro terminou em uma espécie de empate. Apesar dos esforços, o Vaticano não conseguiu, de fato, bloquear a maxi revolução iniciada pela Igreja alemã há três anos. Os pedidos apresentados para obter o sacerdócio para as mulheres, a bênção dos casais homossexuais, as modificações do Código Canônico sobre a homossexualidade, a abolição do celibato dos padres - ao invés de serem abafados e silenciados para sempre - também no futuro estão destinados a continuar a caminhada.
O 'caminho sinodal' alemão continuará e de nada valeram as tentativas dos cardeais da cúria (Parolin, Ladaria, Ouellet). Durante os encontros realizados no Vaticano nos últimos dias, os líderes da Santa Sé haviam proposto aos 60 bispos alemães presentes uma moratória, mas nada feito. O presidente da conferência episcopal, monsenhor Georg Batzing, volta à Alemanha com um balanço que considera aberto. Encontrando-se com um grupo de jornalistas, antes de partir, garantiu que não há nenhum cisma em andamento, mas que seu caminho não vai ser interrompido porque as pressões dos católicos da base são fortíssimas e não podem ser silenciadas.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Gazzettino, 19-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Não estou desanimado e nem é preciso falar em confronto. Percebemos que a nossa competência em muitos temas é limitada: há questões que podemos e iremos realizar e outras que, ao contrário, dizem respeito ao magistério e, portanto, irão desaguar no Sínodo universal convocado pelo Papa. Devemos ter mais confiança uns nos outros, caso contrário, o diálogo é inútil”, explicou o arcebispo. Ao lado dele estava uma teóloga leiga, Beate Gilles, secretária da conferência episcopal alemã, a primeira mulher no mundo a ocupar um cargo geralmente reservado a homens consagrados. "É claro que vou voltar para a Alemanha e continuarei a abençoar os casais homossexuais que me pedirem".
Entre os pontos de maior atrito estava o espinhoso tema da ordenação de mulheres, sobre o qual pesa o 'niet' de três pontífices. Batzing destacou que existe, porém, uma pressão difícil de ignorar. “A perspectiva de Roma é clara e fechada, mas para nós a questão continua. Existe e precisa ser elaborada. Pedimos à cúria que nos fornecesse argumentações sobre o tema. Essa foi a troca. O cardeal Ouellet nos disse que o primeiro ministério do bispo é que a Igreja universal esteja representada na Igreja particular, mas minha função é manter vivo o vínculo com o povo de Deus. Em outras palavras: como posso ignorar tantos pedidos? Outras temáticas sobre as quais nos debruçamos dizem respeito à questão antropológica. A homossexualidade, a natureza da criação, de uma relação binária e depois a questão hermenêutica; discutimos de forma diferente até o fim”.
Naturalmente, a divergência sobre a posição de Roma esteve no centro de alguns comentários mordazes de alguns bispos. Batzing abriu os braços: "Não posso colocar um silenciador neles e impedir um bispo de falar".
Os bispos alemães ficaram irritados porque na reunião com os cardeais Ladaria, Parolin e Ouellet o Papa não estava presente, pois preferiu evitar o confronto direto. “O Papa é um jesuíta astuto, deixou-nos discutindo entre nós. Claro que nos encontramos com ele recentemente, mas tratamos de outras temáticas. Se soubéssemos que na nossa reunião não estaria presente, teríamos levantado todos os temas que são importantes para nós relacionados ao nosso processo sinodal”.
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Vaticano, encontro entre Papa e bispos alemães termina empatado: a revolução para as mulheres padres e os casais homossexuais na Alemanha continua - Instituto Humanitas Unisinos - IHU