19 Setembro 2022
"Quando o presidente da República, nas festividades do bicentenário da Independência puxa o coro do 'imbrochável', certamente estava homenageando D. Pedro I", escreve Edelberto Behs, jornalista.
Contam as más línguas que D. Pedro I era mulherengo. O quadro do pintor paraibano Pedro Américo de Figueiredo “Independência ou Morte”, tido como a certidão de nascimento do Brasil, exposto no Museu do Ipiranga, em São Paulo, mostra um imperador, segundo a lenda, voltando de Santos onde visitara a amante, montado em cavalo junto às margens do rio Ipiranga com a espada em riste, quando proclamou a independência do Brasil.
O quadro concluído é de 1888, uma representação idealizada do episódio. Mas isso são outros quinhentos. O que importa é a imagem do imperador com a espada em riste. Quando o presidente da República, nas festividades do bicentenário da Independência puxa o coro do “imbrochável”, certamente estava homenageando D. Pedro I.
Daí faz todo sentido a vinda do coração embalsamado do imperador! O povo não entendeu o “imbrochável”, porque, seguramente, não exaltaria a qualidade física do órgão reprodutor do presidente que brochou o país. O povo, com certeza, não comemoraria no 7 de setembro a compra de 51 apartamentos com dinheiro em malas pela famiglia do “inventor do Pix”.
Quando há pouco a exibir à nação, cabe “inventar” a “invenção” do Pix, assim como “inaugurar” obras inacabadas, tipo a transposição do Rio São Francisco ou a ponte sobre o Rio Guaíba, até hoje carecendo de finalização de rampas de acesso. Ou trocar o programa Fome Zero pelo Alimenta Brasil, e o Minha Casa Minha Vida pela Casa Verde Amarela. Afinal, é preciso mostrar alguma coisa ao país, mesmo que seja iniciativa alheia.
O mundo entendeu errado o “imbrochável”. Não se trata de autorreferência, mas celebração da espada em riste do imperador ao proclamar a Independência do Brasil. Nos quatro anos de governo do capitão, o Brasil brochou. Brochou na área da Saúde, deixando 400 mil brasileiros e brasileiras morrerem por falta de vacina de combate à covid-19 ou de oxigênio, como ocorreu em Manaus.
Brochou na educação, com cortes de verbas para a pesquisa, para as instituições de ensino, mas “desabrochou” no favorecimento a pastores em propina a peso de ouro ou de impressões de bíblias na intermediação de recursos do Ministério, a pedido de atendimento especial do presidente da República a esses interlocutores. Brochou na merenda escolar, brochou no retorno do Brasil ao Mapa da Fome, com 33 milhões de pessoas sem as três refeições ao dia.
Brocha ainda com a queda do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, que pela primeira vez recuou em 30 anos, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O Brasil ocupava a 75ª posição entre os países, caindo agora para a 87ª posição.
Brochou quando o alto escalão federal tripudiava a “vachina” ou quando o capitão interpretou, ao vivo, pessoas com falta de ar por causa da covid. Brochou quando a covid foi considerada apenas uma “gripezinha”. Brochou quando ampliou a possibilidade de compra de armas e brochou mais ainda quando iria acabar com a mamata, mas decretou 100 anos de silêncio sobre gastos no cartão corporativo.
Brocha quando fala em defesa da família. Seria qual família? A que consegue aplicar rachadinhas, emitir cheques para a fervorosa evangélica primeira-dama, na compra da loja de chocolates ou de mansão em Brasília? Brocha quando mente metido em pele de santo cordeiro, camaleão que se diz católico mas se deixa batizar evangélico de olho no contingente eleitoral. Brocha quando espalha desinformação em redes sociais.
Oi, povo, vocês não entenderam nada. O homenageado foi D. Pedro I! Mesmo porque a República da Misoginia, eleita em 2018, deixa a maioria da nação perplexa e brochada quando ataca jornalistas, ainda mais se mulheres, que lhe dirigem perguntas que a opinião pública merece saber. Brocha quando o macho alfa não tem o que argumentar e diz que ela quer dar o furo, ou não estupra porque é muito feia. E pensar que beatas evangélicas adoram a torpeza, incentivadas por pastores do “evangelho”!
Oh, povo, deu pra entender agora o “imbrochável”? Talquei?
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O povo pouco entende de espadas em riste na república da misoginia. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU