08 Julho 2022
A agenda para a Segunda Assembleia do Concílio Plenário da Austrália foi interrompida depois de 60 dos 277 membros começarem um protesto sobre o papel das mulheres na Igreja depois da rejeição dos bispos a uma moção para formalizar o apoio à ordenação de diáconas.
Um sentimento de crise entre os membros do plenário, leigos e clérigos, tornou-se evidente com o protesto e sua ressonância.
A reportagem é de Marilyn Rodrigues, publicada por Catholic News Service, 06-07-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Com o início do intervalo de almoço programado, o Comitê Diretor do Concílio se reuniu para discutir os próximos passos, enquanto, em uma sala separada, mais de 60 membros se reuniram, liderados por Francis Sullivan e John Warhurst. Ambos os leigos têm se destacado em pedir mudanças significativas na governança da Igreja e em questões como a pastoral da Igreja com pessoas LGBTQIA+.
Durante as assembleias do Concílio Plenário, os votos consultivos são exercidos pelos 277 membros leigos, religiosos e clericais; votos deliberativos são exercidos pelos bispos australianos.
O protesto ocorreu após o resultado dos votos dos bispos sobre “Testemunhar a igualdade de dignidade entre mulheres e homens”.
Uma moção, incluindo a consideração de mulheres para o ministério como diáconas “caso o Papa Francisco autorize tal ministério”, recebeu maioria qualificada entre os eleitores consultivos, mas ficou aquém da maioria qualificada entre os eleitores deliberativos – bispos – e não foi aprovada. As moções aprovadas pelos bispos serão enviadas ao Vaticano após a assembleia; se aprovados pelo Vaticano, tornam-se obrigatórios para a Igreja na Austrália.
Uma segunda moção não obteve maioria qualificada nas votações consultivas ou deliberativas e, portanto, não foi aprovada. Era muito mais curta, propondo: “Que cada diocese e eparquia australiana promova novas oportunidades para que as mulheres participem de ministérios e funções que sejam estáveis, publicamente reconhecidas, dotadas de formação adequada, incluindo educação teológica e comissionadas pelo bispo. Os ministérios e os papéis devem envolver os aspectos mais importantes da vida diocesana e paroquial e ter um impacto real nessas comunidades”.
Sullivan disse ao The Catholic Weekly, jornal arquidiocesano de Sydney, que há uma “divisão palpável” na sala de reuniões.
“Houve muita raiva e frustração, principalmente em nome das mulheres, mas também da comunidade LGBTQIA+, se você preferir”, disse ele.
“Isso, na minha opinião, vai para as questões mais profundas que confrontam a Igreja durante este período de escuta e diálogo. Muitas vozes se apresentaram e há frustração de que todas essas vozes não estão realmente na sala”.
“A segunda coisa é, estamos realmente atentos ao que essas vozes estão nos dizendo?”.
“Por baixo de tudo isso, devo dizer, mesmo por minha própria experiência, há uma profunda tristeza, acho que todos nós sentimos sobre onde a igreja está, não apenas para nós pessoalmente, mas coletivamente, há gerações de pessoas que não são mais capaz de se identificar com a Igreja.”
No entanto, a coordenadora nacional de bioética da Liga das Mulheres Católicas da Austrália, Deirdre Little, disse ao The Catholic Weekly que a organização sempre esteve atenta à igual dignidade de homens e mulheres, e que aqueles “que trabalham humilde e consistentemente na vinha não estão preocupados com títulos, poder ou comitês caros”.
“Somos todos iguais em valor e dignidade, como filhos e filhas de Deus. Essa dignidade não reside no poder ou nas funções de governo. Estamos na maior crise de fé e crença que o cristianismo já enfrentou, e certamente não é um tempo para ficar ocioso”, disse ela.
Dom Shane Mackinlay, vice-presidente do Concílio Plenário, dirigiu-se à assembleia após o anúncio do resultado das votações. Ele propôs que os membros gastassem mais tempo discernindo quais reservas e preocupações estavam sendo expressas.
Um membro do Comitê Diretivo do Plenário, Monica Doumit, disse que se sentiu “extremamente positiva” sobre as discussões da mesa entre os membros no final do dia.
“Ao ouvir as reservas das pessoas”, disse ela, “eles não estavam dizendo que queriam retirar o material sobre o diaconato feminino, ou rejeitar a conversa sobre mulheres na liderança no governo da Igreja... O que eles estávamos dizendo é que representa apenas uma medida muito pequena dos desejos de algumas mulheres e como algumas mulheres servem”.
“Nas conversas desta tarde, houve a sensação de que queremos ouvir mais sobre maternidade, sobre mulheres como cuidadoras de pais ou filhos, mulheres que estão se destacando como profissionais leigas em vários locais de trabalho, sobre as mulheres que administram as vendas de bolos da paróquia e iniciam grupos de mães e coisas assim”, continuou ela.
“Também queremos ouvir sobre os leigos e onde eles estão na Igreja, sobre mulheres e homens na vida religiosa, não apenas as contribuições que eles deram historicamente, mas também no contexto de hoje e das esperanças de novas vocações para a vida religiosa”, Doumit disse.
Uma declaração do escritório de mídia dos Bispos Católicos Australianos disse que um grupo de redação de quatro pessoas foi estabelecido para receber recomendações de membros para a redação de moções revisadas. Esperava-se que as novas moções fossem consideradas mais tarde durante a assembleia de 3 a 9 de julho.
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Austrália. Concílio Plenário em crise sobre o papel das mulheres na Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU