Sobre o diaconato feminino: alguns pontos fixos

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14 Mai 2019

A abertura de uma fase de reflexão e estudo sobre a possibilidade de reconhecer também às mulheres um papel dentro do ministério eclesial ordenado, solicitada pelas superiores religiosas e profeticamente assumida pelo Papa Francisco, requer o esclarecimento de uma série de "evidências esquecidas", que poderia ser útil recordar nesta fase de aparente "impasse".

A opinião é do teólogo italiano Andrea Grillo, professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, em Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Justina, em Pádua, em artigo publicado por Come Se Non, 12-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

a) Desde que João XXIII reconheceu entre os "sinais de tempos" também o "papel público das mulheres", a tradição conheceu um ponto de virada que não é um exagero chamar, com as palavras usadas pelo Papa Francisco no início da "Veritatis gaudium", de uma "mudança de paradigma".

b) Esta mudança de paradigma, ou "revolução cultural", não é a vontade obstinada de mudar o que desde sempre funcionou de maneira diferente, mas a necessidade de honrar uma mudança de cultura e de experiência a partir da qual a Igreja pode aprender algo decisivo.

c) Por isso, a exigência de "fundamentar historicamente" a nova abertura, devido às características do novo "sinal dos tempos" - justamente a emancipação feminina - deve ser entendida de forma correta. Caso se considere possível fundamentar na história a novidade que vivemos há um século, esta será inevitavelmente uma empresa fadada ao fracasso.

d) Deve-se acrescentar, contudo, que o modo de avaliar a "história" está subordinado ao modelo teológico-sistemático que se alimenta na estrutura do pensamento teológico. Por exemplo, alguns membros da Comissão teológica instituída para estudar a história do diaconato feminino têm uma abordagem sistemática que "exclui a priori a mulher do ministério eclesial". Esta é uma petição de princípio que nos impede de ler a história de maneira profética. O "dado" que deveria autorizar uma possível abertura é excluído por princípio do horizonte.

e) Por essa razão, é necessário pensar diferentemente o "fundamento teológico-dogmático" do ministério feminino ordenado. Para fazer isso, é necessário livrar-se dos preconceitos que a história de séculos depositou no pensamento dos teólogos e dos pastores.

f) Por outro lado, é curioso que hoje a Igreja viva uma condição completamente paradoxal: o Papa fala de "mudança de paradigma", de "revolução cultural", de "desequilíbrio da profecia", enquanto parte de teólogos e dos funcionários da cúria preocupa-se apenas em negar as novidades, impedir qualquer mudança, garantir um equilíbrio inalterável, confirmar as exclusões e levantar muros.

g) Os dois princípios mais importantes da EG - a primazia do tempo sobre o espaço e a primazia da realidade sobre a ideia - exigem que diante do sinal dos tempos das “mulheres com autoridade na Igreja” não se permaneça sem abrir processos e sem honrar a realidade. Este seria um pecado de omissão.

h) Um dos membros da Comissão Teológica, Phyllis Zagano, disse: agora é o tempo da argumentação e da divulgação, na Igreja, de uma nova possibilidade. Para poder fazer isso, é preciso reequilibrar os papéis. Nos últimos anos, a teologia mais avançada muitas vezes veio do vértice da Igreja. Os teólogos frequentemente se esconderam à sombra de tal "tomada de iniciativa", teorizada abertamente na Evangelii Gaudium. Hoje os teólogos precisam assumir a responsabilidade pelo desequilíbrio e pela profecia. Caso contrário, tudo permanecerá parado e velho.

i) A prudência, por fim. Tanto o magistério como a teologia devem compor, de maneira diferente, audácia e paciência. Mas uma coisa, sobre a prudência, deve sempre ser lembrada. Ser prudente nem sempre significa a mesma coisa: ao dirigir, a prudência preconiza que eventualmente seja usado o freio, outras vezes o acelerador. Uma prudência identificada apenas com a "primazia do freio" é um lugar comum em uma Igreja na defensiva, que não sai, que se fecha dentro de seus muros tranquilos.

l) Quando no final do Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI reservou para si três questões candentes - contracepção, ministério feminino e celibato obrigatório - talvez não pudesse imaginar que, 55 anos depois, ainda estaríamos substancialmente no meio do caminho, como então. Iniciar um verdadeiro processo de discernimento sobre o ministério feminino, hoje não é mais uma possibilidade, mas uma necessidade. Nenhum silêncio do passado poderia justificar uma inércia teológica e pastoral do presente, que soaria como indiferença e irresponsabilidade em relação ao futuro.

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